África declara emergência pública por mpox e alerta global cresce
Apesar da gravidade da situação, o CDC África ressalta a falta de apoio global. Promessas de doações de vacinas dos EUA e outros países ainda não se concretizaram
Publicado 14/08/2024 15:17
O diretor-geral do Centro de Controle de Doenças da África (CDC África), Jean Kaseya, anunciou nesta terça-feira (13) a declaração de emergência pública em todo o continente devido à disseminação da mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos. A decisão surge em meio a um aumento alarmante de casos e mortes relacionados à doença.
Nos últimos dez dias, seis novos países africanos relataram casos de mpox, conforme destacado por Kaseya na semana passada. Em 2024, houve um incremento de 160% no número de casos e um aumento de 19% nas mortes em comparação com o mesmo período de 2023. A República Democrática do Congo, em particular, registrou mais de 14 mil casos e 500 mortes somente este ano, principalmente entre crianças.
A declaração de emergência visa facilitar a coordenação das respostas internacionais, obrigar os países-membros a notificarem novos casos ao órgão continental, mobilizar recursos e acelerar o desenvolvimento e distribuição de vacinas. Contudo, apesar da gravidade da situação, o CDC África ressalta a falta de apoio global. “Os casos continuam a aumentar, e hoje estamos enfrentando a consequência da falta de assistência aos países africanos nesse período”, afirmou Kaseya em coletiva de imprensa.
Espera-se que, nos próximos dias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também declare emergência internacional. No Brasil, o Ministério da Saúde agendou uma reunião para atualizar as recomendações e o plano de contingência para a doença.
Origem e evolução da mpox
Detectada pela primeira vez em 1970 na zona rural da República Democrática do Congo, a mpox permaneceu isolada por décadas até explodir geograficamente em 2022. A OMS declarou a doença como Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional naquele ano, após 87 mil casos e 140 mortes globalmente. Embora a emergência tenha sido encerrada em 2023, a situação agravou-se novamente em 2024 com o surgimento de uma nova mutação do vírus, mais letal e transmissível.
A mpox é transmitida principalmente por contato próximo, não necessariamente sexual, o que explica os casos entre crianças, muitas vezes contaminadas no ambiente doméstico. Os sintomas iniciais incluem febre, dores musculares e dor de garganta, seguidos por erupções cutâneas e inchaço dos gânglios linfáticos. O período de incubação varia de 1 a 21 dias, com sintomas geralmente durando de 2 a 4 semanas.
Crianças, mulheres grávidas e indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos estão em maior risco de complicações e morte. Dados da República Democrática do Congo indicam que 67% dos casos e 84% das mortes ocorreram em pessoas com menos de 15 anos.
Vacinação e esforços de contenção
Embora existam vacinas eficazes contra a mpox, a distribuição no continente africano enfrenta desafios significativos. O CDC África estima a necessidade de 10 milhões de doses para conter a epidemia. Promessas anteriores de doações dos EUA e outros países ainda não se concretizaram totalmente. Recentemente, os EUA comprometeram-se a doar 50 mil doses de vacina e US$ 424 milhões para auxiliar na campanha contra a doença.
A União Africana, composta por 55 países, anunciou a destinação emergencial de US$ 10 milhões para iniciativas de vigilância, testagem, gerenciamento de casos, prevenção, comunicação e distribuição de vacinas.
Situação no Brasil
Em 2022, durante o pico de mpox no Brasil, foram registrados mais de 40 mil casos. Um ano depois, em agosto de 2023, o número caiu para pouco mais de 400 casos. Em 2024, o maior número de casos foi em janeiro, com mais de 170 registros. Atualmente, a média se mantém entre 40 a 50 novas infecções mensais.
Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, classificou o número como “bastante modesto, embora não desprezível”. Ele enfatizou a necessidade de vigilância contínua, especialmente considerando o aumento de casos na África e o risco de disseminação global.
De 2022 a 2024, o Brasil confirmou quase 12 mil casos de mpox e registrou 16 óbitos, sendo a maioria das infecções em homens jovens e pessoas vivendo com HIV. O país aguarda a importação do medicamento Tecovirimat, considerado eficaz no tratamento da doença.
A OMS convocou um comitê de emergência para avaliar o cenário da mpox na África e o risco de disseminação internacional. As autoridades de saúde globais e nacionais estão em alerta máximo, reforçando a necessidade de coordenação e apoio mútuo para conter a propagação da doença.