Evo acusa EUA por lítio na Bolívia, mas segue com teoria de “autogolpe”

Em entrevista a BBC, o ex-presidente e maior líder de esquerda do país acusou o atual mandatário e ex-aliado, Luis Arcel, de promover um autogolpe para “se vitimizar”

Luis Arce, apoiado por Evo Morales, lidera em intenções de votos para a presidência boliviana

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, disse nesta quarta (17), em entrevista à BBC, que os “Estados Unidos acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo”, mas seguiu afirmando que o movimento militar que tentou derrubar o presidente Luis Arce foi um “autogolpe”.

“O delito do povo boliviano é ter tantos recursos naturais […] Esse é o nosso crime. Os Estados Unidos, por destino manifesto, acreditam ser donos de todos os recursos naturais do mundo”, afirma.

Para Evo, o problema é que os EUA pensam que tem uma missão divina que. “por destino manifesto, Deus os enviou para serem os policiais mundiais. Esse é o problema. Essa é a diferença que temos com o império”.

“Países que nacionalizam, que estabelecem a soberania econômica através da nacionalização dos seus recursos naturais…já entram na mira do império (…) O golpe [de 2019] não foi só do gringo sobre o índio. Foi sobre o nosso modelo econômico. Com o nosso modelo econômico mostramos que a Bolívia tem muita esperança. Mas também foi, fundamentalmente, um golpe de Estado para o lítio”, explicou.

O principal líder de esquerda boliviana reafirmou a sua posição de que o movimento militar na praça Murillo, em La Paz, no dia 26 de junho, foi uma tentativa de autogolpe do seu ex-ministro e agora presidente, Luis Arce.

“No dia 26 do mês passado, às 11h da manhã, alguns amigos militares me ligaram. Disseram: “Estão nos aquartelando”. Eu disse a eles: “Me dê um raio-x ou [passe-me] os documentos [que comprovem]”. Passaram 10 ou 15 minutos e eles me disseram: “É verbal”, começou o relato.

“Às duas da tarde, eu estava caminhando em minha propriedade para ver os peixes e vejo os tanques entrando na Praça Murillo”, prosseguiu.

Em sua retórica, Evo estabelece uma diferença entre o seu comportamento e o do governo boliviano: “Neste momento, preparei um tuíte declarando e convocando uma greve geral e o bloqueio das estradas nacionais para derrotar o golpe de Estado. Continuei andando e quando me dei conta, o ministro do governo estava acariciando os tanques na Praça Murillo. Que tipo de golpe é esse? Fico surpreso”.

“Fico assistindo nas redes sociais, o golpista entra no Palácio Quemado e conversa com o presidente. Um ministro do governo está com um militar feliz, dando risadas. São as imagens”, diz.

“Tudo demonstra que se não é um golpe, é um autogolpe. Que se investigue, que se saiba, mas tudo está bem planejado. Foi para elevar a imagem do Lucho? Será um verdadeiro golpe, uma tentativa de golpe? Ou será um autogolpe para se vitimizar?”, conclui

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