Crise econômica faz consumo de carne bovina despencar na Argentina

Terapia de choque de Milei derruba demanda do produto para patamar mais baixo em um século. Moeda desvalorizada e hiperinflação são principais causas da queda

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O baixo poder aquisitivo das famílias argentinas fez despencar o consumo de carne bovina no país governado pelo ultraliberal Javier Milei. Famosa pelo alto consumo de carne vermelha, a população do país tem optado pela proteína mais barata, o frango.

O consumo anual por carne bovina deve cair para menos de 45 quilogramas por pessoa, o nível mais baixo em dados que remontam as primeiras décadas do século passado, de acordo com um relatório da Bolsa de Rosário, com base em dados governamentais.

Se a tendência de queda continuar, o consumo em 2024 fechará em torno de 44,8kg por habitante, o menor índice desde 1920, segundo o estudo. Na Argentina, orgulhosa da qualidade de sua carne bovina, o consumo histórico médio deste alimento é de 72,9kg por ano por habitante.

“O consumo total de carnes bovina, avícola e suína na Argentina poderá situar-se em torno de 105,7kg por habitante em 2024, o que significa que cada habitante consumirá sete quilos a menos de carnes em 2024 em comparação com a média dos últimos dez anos, que é de 112,8kg”, aponta o estudo.

Isso marcaria a primeira vez que a demanda argentina por carne bovina ficaria praticamente no mesmo nível da de frango, cuja popularidade vem crescendo também em outras partes do globo.

A queda é resultado do impacto da inflação, que atingiu 280% interanual em maio, e da recessão econômica com o colapso generalizado de todas as atividades, de acordo com índices oficiais.

O país se encontra em uma grave crise econômica já na metade do primeiro ano da presidência de Javier Milei. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 5,1% nos primeiros três meses de 2024 em comparação com o início de 2023. Em relação ao trimestre anterior, a queda foi de 2,6%, somando-se a uma queda de 2,5% no quarto trimestre de 2023.

Milei também desvalorizou a moeda do país o que fez o poder de compra do consumidor despencar. A carne suína e a de aves custam cerca de metade do preço da carne bovina.

Mais da metade da população argentina, de 45 milhões de habitantes, é pobre, segundo estatísticas. Na cidade de Buenos Aires, a mais rica do país, a taxa de indigência — pessoas que não conseguem comprar a cesta básica de alimentos — dobrou de 8% para 16% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

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