A relação do Novo Ensino Médio e a perpetuação da divisão sexual do trabalho
É hora de repensar o Novo Ensino Médio. A revogação imediata é uma medida crucial para evitar que nossa educação perpetue a divisão de gênero no trabalho
Publicado 07/03/2024 15:44
Ao nos depararmos com os desafios do Novo Ensino Médio é crucial lançar um olhar crítico sobre os caminhos que a educação brasileira está trilhando. Sob a superfície dos itinerários formativos, emergem preocupações substanciais que exigem nossa atenção imediata. Este artigo expressa uma opinião incisiva sobre a necessidade premente de repensar o atual modelo educacional, buscando uma abordagem que liberte a educação de estereótipos de gênero e a torne verdadeiramente inclusiva.
Desde sua implementação, os itinerários formativos têm sido alvo de análises que revelam disparidades no desempenho escolar, ampliando as brechas entre instituições. A precarização do ensino torna-se um chamado urgente à ação. Não podemos permitir que nossas escolas se tornem palcos de desigualdades crescentes.
A segregação de gênero, evidente nos dados que mostram alunas sendo direcionadas para atividades tradicionalmente associadas a papéis femininos, é um sinal claro de que a prometida flexibilidade do Novo Ensino Médio não está sendo plenamente realizada. É hora de questionarmos por que as escolhas educacionais ainda estão fortemente atreladas a estereótipos antiquados.
Ao analisarmos os números que revelam uma herança persistente, onde mais de 80% das meninas estão inscritas nos itinerários relacionados a trabalhos domésticos, somos confrontados com a dura realidade de que estamos repetindo padrões do passado. Isso não é progresso; é uma regressão perigosa que ameaça as conquistas em direção a uma sociedade mais igualitária.
Nosso posicionamento é claro: é hora de repensar o Novo Ensino Médio. A revogação imediata é uma medida crucial para evitar que nossa educação perpetue a divisão de gênero no trabalho. Não estamos buscando uma educação que segure meninas em atividades tradicionalmente femininas ou meninos em campos ditos masculinos. Queremos uma educação que capacite todos, independente do gênero.
Ao compararmos nossa situação atual com a educação do século passado, vemos que apesar dos avanços tecnológicos, continuamos presos a padrões tradicionais. A falta de uma abordagem crítica no Novo Ensino Médio impede que alunos tirem pleno proveito das oportunidades igualitárias proporcionadas pela evolução tecnológica. Estamos correndo o risco de retroceder ao invés de progredir.
A educação transformadora que buscamos não pode esperar. Cada dia de inação é um passo mais próximo à consolidação de um sistema que limita oportunidades com base no gênero. Este é um chamado à ação imediata, à revisão corajosa de políticas educacionais e à criação de um ambiente onde todos possam prosperar, independentemente do gênero.
A revogação do Novo Ensino Médio não é apenas uma questão técnica; é uma afirmação de princípios. É o reconhecimento de que uma sociedade verdadeiramente igualitária começa na sala de aula. Vamos construir juntos uma educação sem barreiras de gênero, onde todos têm as mesmas oportunidades de aprender, crescer e contribuir para um futuro mais equitativo.
Alexssia Reis é diretora de Comunicação e Cultura da UBES e militante da UJS.