Doenças mentais viram o principal desafio na rede pública de educação

Três a cada quatro gestores de Educação acreditam que a saúde mental – dos professores e dos estudantes – se tornou o principal desafio nas redes municipais de ensino. É o que aponta a pesquisa “Percepções e Desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental”, feita pelo Itaú Social, em parceria com a Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação).

De acordo com o levantamento, divulgado nesta terça-feira (8), a maioria dos gestores indica cinco desafios que as escolas públicas enfrentam do 6º ao 9º ano do ensino fundamental: a saúde mental dos estudantes e professores (75,2%), a falta de envolvimento das famílias (74,1%), a formação de professores a respeito de aspectos específicos da etapa (69,9%), a transição do 5º para o 6º ano (64,6%) e a infraestrutura das escolas para atendimento da demanda (57,2%).

Ainda segundo a sondagem, na transição do 5º para o 6º ano, 54,1% das redes de ensino não têm equipes dedicadas à adaptação dos estudantes e 27,8% não oferecem espaços e grupos de acolhimento. Além disso, 21% das redes de ensino não adotam estratégias de envolvimento das famílias. Em 47,7% das redes, há dificuldade com falta de materiais pedagógicos para aplicar os conteúdos das formações em sala de aula.

A pesquisa ouviu 3.329 gestores municipais em todas as regiões do País e mostra tendências surpreendentes. “Chama a atenção para a educação na sua integralidade. A gente precisa atender às questões socioemocionais, precisa compreender e ajudar as crianças, os jovens e os adolescentes a se situarem”, declarou à Agencia Brasil Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime.

Nesse sentido, Garcia diz que a formação ganha prioridade, para fazer frente às novas demandas. “A gente vive uma grande crise”, afirma. “A formação inicial dos professores não traz instrumentos de caráter pedagógico de formação adequada, que aproximem os futuros professores da realidade que vão encontrar no dia a dia.”

Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, lembra que os anos finais do ensino fundamental ocorrem durante a transição dos estudantes, que passam da infância à adolescência. “É muito comum ver nessa faixa etária crianças que não estão prestando atenção, ou que têm muito sono, porque o cérebro está em desenvolvimento e muitas vezes ela precisa dessa energia para ela mesma”, diz Sônia. “Muitas vezes, o adolescente que está nessa faixa etária tem momentos de grande questionamento, de solidão, de medo em relação a mudanças físicas. É uma fase de grandes inseguranças.”

Segundo Sônia, “a formação inicial deixa muitas lacunas e, por isso, a importância maior ainda que a formação continuada exista. É claro que todo profissional precisa se manter atualizado – mas cada vez mais a gente tem visto esse papel indutor e fundamental da formação continuada para os professores.”