Lula: Vamos precisar de todo mundo
Sabia, como disse, ter enfrentado a mais dura eleição da vida dele, a colocar frente a frente dois projetos opostos de País
Publicado 03/11/2022 14:55
Passou longo tempo na prisão.
Depois de uma impressionante campanha nacional e internacional, acabou solto.
Preso, soube dos esforços decisivos para a prisão dele.
Esforços dos EUA, implacável adversário.
Houve propostas de rendição, jamais aceitadas.
Da prisão, saiu mais forte.
E tornou-se presidente do País.
Voltou aos braços do povo, razão da vida dele.
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Combateu o ódio, a intolerância.
Tornou-se assim um dos maiores líderes da Nação que tanto amava.
E um dos maiores líderes do mundo, admirado por toda a humanidade.
Celebrado pela ONU.
Ao sair da prisão, não saiu destilando ódio.
Pregava o amor.
Não um sentimento piegas, mas sentimento capaz de unir uma Nação.
Sentimento cujas raízes ancestrais podem ser procuradas na origem da civilização.
Sentimento poderoso, capaz de inundar a alma da humanidade, e de invadir os livros sagrados das religiões, daquelas alicerçadas em livros.
Ou daquelas outras, cuja sobrevivência se baseia na história oral, na sabedoria dos ancestrais.
E com tal sentimento, uniu a Nação.
Pra jamais ser esquecido.
Não estou falando de Lula.
Mas, de Mandela.
De Madiba.
Não falo do Brasil.
Mas da África do Sul, onde o racismo era perverso, cruel.
As mãos do Estado caindo pesado nas costas dos negros pelas mãos dos brancos racistas.
Ditou sentença famosa:
Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião.
Para odiar, é preciso aprender.
E se podem aprender a odiar, as pessoas podem aprender a amar.
A confusão do leitor, no entanto, ao começar a ler o texto, justifica-se.
Mandela e Luiz Inácio, tudo a ver.
Madiba e Lula, tudo a ver.
Como Mandela Madiba, quiseram enterrar Lula em vida.
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Acreditaram nisso.
E se juntaram para encerrar a vida política dele.
Como Madiba, ressuscitou.
Na prisão.
Não se acomodou, não se acovardou.
Carregava o sentimento do mundo, tinha causa.
E ao ter o sentimento do mundo e ter uma causa, o País e o povo, o Brasil e a gente do Brasil, enquanto preso, celebrado pela humanidade, visitado por ela, continuou vinculado à Nação.
Certo de que a idade, tivesse causa, sonhasse sonhos, não era nada – sentia-se jovem, muito jovem aos 77 anos.
Certamente, recordou-se, ao saber da eleição na noite de 30 de outubro deste 2022: Madiba tinha praticamente a mesma idade, quando eleito presidente, em 1994, depois de ter saído da prisão.
Por que ele não poderia?
Saiu da prisão sem nenhum ódio, ressentimento, sem qualquer desejo de vingança.
E caminhou pelo mundo.
E recebido com imenso carinho, não obstante sem o cargo de presidente, mas sempre recebido como tal.
Mundo parecia adivinhar.
Adivinhou.
E chegou com um notável discurso, inspirado no amor e no esforço de unir o Brasil.
Sabia, como disse, ter enfrentado a mais dura eleição da vida dele, a colocar frente a frente dois projetos opostos de País.
Venceu o País mais generoso, mais fraterno.
Foi vitória não dele, mas do povo brasileiro.
De um povo a desejar mais e não menos democracia.
Mais liberdade, igualdade e fraternidade – face à barbárie, chegasse a Revolução Francesa à nossa terra, tardiamente fosse.
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O Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo.
Combater a extrema pobreza, a fome, a desigualdade.
Restabelecer o diálogo, suprimido pela barbárie.
Baseado na Constituição.
Nada mais de sigilos centenários.
Diálogo.
Não força bruta.
Brasil deve voltar a falar de igual para igual com todo o mundo.
Ombrear-se com a humanidade na defesa do clima, protegendo os biomas brasileiros, todos.
Trabalhar por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira e a esperança seja maior que o medo – e aqui ele se encontra novamente com Madiba Mandela. A maior virtude de um bom governante, dirá Lula no discurso histórico, será sempre o amor pelo seu País e seu povo.
Tanto quanto Madiba Mandela, Lula chega à presidência da República, ciente da magnitude da missão colocada nas mãos dele.
Tanto quanto Madiba Mandela, sabe não poder cumpri-la sozinho.
Disse com todas as letras: vou precisar de todos.
E todos significa partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de todas as religiões, com brasileiros e brasileiras a sonhar com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno, um Brasil do tamanho dos nossos sonhos, como ele disse.
A mídia tradicional classificou o discurso como uma novidade.
Não era.
Lula Madiba o construíra ao longo dessa caminhada, desde o primeiro turno.
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Ampliou com muita competência o arco de alianças desde o primeiro turno, ao chamar para junto de si a figura, agora simbólica, de Geraldo Alckmin.
E depois vieram Simone Tebet, Janones, Marina Silva, tantas outras personalidades.
Sorte nossa, tenho dito.
Não é qualquer coisa contar com uma liderança como Lula, das mais importantes do mundo.
Como Mandela, jamais desistiu do Brasil.
A prisão só o fez crescer.
As dores e as injustiças aumentaram a resistência.
A inocência, provada.
Pronto para missão épica.
Jornada duríssima de reconstrução.
O oponente dele havia dito da principal tarefa dele: destruir.
Cumpriu.
Mas, Lula Madiba sabe unir.
Vai unir os eleitores dele e os do adversário para recuperar a Nação.
Por isso, ele parecia, com o discurso, lembrar o poeta, recordar Beto Guedes.
- Anda, quero te dizer nenhum segredo
- Falo desse chão da nossa casa
- Vem que tá na hora de arrumar
- Tempo, quero viver mais duzentos anos
- Quero não ferir meu semelhante
- Nem por isso quero me ferir
- Vamos precisar de todo mundo
- Pra banir de todo mundo a opressão
- Para construiu a vida nova
- Vamos precisar de muito amor
- A felicidade mora ao lado
- E quem não é tolo pode ver
- A paz na terra amor
- O sal na terra
- A paz na terra amor
- O sal da terra
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- Terra, és o mais bonito dos planetas
- Tão te maltratando por dinheiro
- Tu que és a nave nossa irmã
- Canta, leva tua vida em harmonia
- E nos alimenta com seus frutos
- Tu que és do homem, a maçã
- Vamos precisar de todo mundo
- Um mais um é sempre mais que dois
- Para melhor juntar as nossas forças
- É só repartir melhor o pão
- Recriar o paraíso agora
- Para merecer quem vem depois
- Deixa nascer o amor
- Deixa fluir o amor
- Deixa crescer o amor
- Deixa viver o amor
- O sal da terra