PC da China promove encontro internacional com 100 partidos marxistas
O Partido Comunista da China promoveu, nos últimos meses, uma série de encontros virtuais com Partidos marxistas de todos os continentes, movimento que teve seu ápice nesta quinta-feira (28), com o Foro entre o Partido Comunista da China (PCCh) e os Partidos Políticos Marxistas do Mundo.
Publicado 29/07/2022 18:33 | Editado 30/07/2022 11:10
O encontro virtual, que reuniu cerca de 300 representantes de mais de 100 partidos marxistas de 70 países, teve como tema: “Indigenização e atualização do marxismo no século XXI”.
O evento foi coordenado por Guo Yezhou, vice-ministro do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh). Na programação principal intervieram 6 partidos da América Latina: Partido Comunista de Cuba, Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Comunista do Uruguai, Partido do Trabalho do México, Partido Comunista da Argentina e Partido Comunista do Chile. Além de Cuba e China, outros partidos comunistas no poder participaram do evento: o Partido Comunista do Vietnã e o Partido Popular Revolucionário do Laos.
Importantes partidos destacaram seus dirigentes máximos para representá-los, como foi o caso do Partido Comunista da Federação Russa, com Guennadi Ziuganov e o Partido Comunista Português, com Jerónimo Souza.
Elias Jabbour, membro do Comitê Central do PCdoB, falou em nome do Partido (veja a íntegra da intervenção ao final da matéria) destacando que “o desafio de transformar o marxismo em grandes corpos teórico/ideológicos nacionais é o desafio maior de nosso tempo”.
“Evento impressionante”
Para Altair Freitas, que com Elias e outros 13 dirigentes do PCdoB participaram do Foro, “foi um momento muito rico de debate entre os partidos comunistas e revolucionários do mundo, a partir da iniciativa do PCCh, que reafirmou a importância estratégica do marxismo, como a base teórica fundamental do movimento revolucionário dos partidos comunistas.”
Segundo Altair, outro aspecto fundamental foi “a afirmação de que é preciso, à luz do marxismo, desenvolver em cada nação os projetos próprios de construção da revolução socialista ou na construção do Estado socialista naquelas nações nas quais as forças revolucionárias já estão no poder como é o caso da China, Cuba, Vietnã, Laos, nações que se fizeram presentes.”
Altair, que é diretor da Escola Nacional João Amazonas, ressaltou também “que o Foro foi um momento importante também pela valorização que os numerosos partidos comunistas e revolucionários deram ao evento, com delegações representativas, muitos dos partidos com seus principais dirigentes. Os camaradas do PCCh apresentaram as linhas fundamentais do seu acúmulo teórico fruto do desenvolvimento do socialismo na China, incluindo o pensamento do camarada Xi Jinping. Foi um encontro importante para o revigoramento e o reforço da luta política dos partidos comunistas”, afirmou.
O Foro causou forte impressão na dirigente comunista do PCdoB, Ana Rocha, “fiquei impressionada com o evento, que remonta aos grandes marcos da articulação internacional do movimento comunista. Sinal de novos ventos renovadores e revolucionários. O fato em si de reunir todos esses partidos é uma sinalização importante de uma nova e necessária articulação do pensamento revolucionário , como contraponto ao pensamento conservador que quer inutilmente alongar a vida do capitalismo em crise”.
Para Sérgio Barroso, outro membro do Comitê Central do PCdoB que participou do Foro, o “importante colóquio promovido pelo PCCh se destacou pelo ‘foco’ e organização na hierarquia temática das discussões. Assim como pelo apoio unânime dos interlocutores pelo grande protagonismo contemporâneo da China socialista. Destacaria, por certa convergência teórica e interpretativa do papel atual e desafios dos partidos marxistas revolucionários, as alocuções dos camaradas do PC da Índia (M), do PCdoB, do PC de Cuba, e da camarada do PC da Boêmia e Morávia. Evento elogiável e instigante aos comunistas e suas lutas!”, declarou Barroso.
O Pensamento Xi Jinping para o mundo e para o partido
Os chineses, durante os diversos eventos prévios ao dia 28 e no próprio dia do Foro Mundial destacaram os aspectos principais do “pensamento Xi Jinping para o Socialismo com características chinesas na nova era”, incluindo propostas de solução chinesa para enfrentar “os desafios comuns de toda a humanidade”.
A China defende “uma proposta geral” e “seis propostas concretas” para os dilemas internacionais. A proposta geral é o conceito do presidente Xi Jinping de “Construção de um futuro compartilhado da humanidade”. Em torno deste conceito se articulam as seis propostas, apresentadas aqui de forma resumida:
1 – Desenvolvimento global:
A – Iniciativa Global de Desenvolvimento: A prioridade é o desenvolvimento, centrado nas pessoas, inclusivo, impulsionado pela inovação, a coexistência harmoniosa entre os seres humanos e a natureza e voltado para a produção.
B – Impulso para o Desenvolvimento: Banco Asiático de Investimentos, Banco BRICS.
C – Plataforma de Desenvolvimento: Projeto Um cinturão e uma Rota (Nova Rota da Seda).
2 – Governança global
A – O conceito de governança: Lutar por um conceito de governança mundial baseado na discussão ampla, na construção conjunta e no ganho compartilhado, o que é diferente da lógica ocidental de governança dominada pelas grandes potências e dirigida por alguns países.
B – Construir um novo tipo de relações internacionais.
3 – Fomentar a confiança mundial
Defender o conceito correto de retidão e benefício, com a retidão antecedendo o benefício, colocando em primeiro plano o respeito e a confiança mútua, potencializando a confiança estratégica mútua e reduzindo a suspeita mútua.
4 – Paz duradoura
- A) Iniciativa global de segurança:
– Promover um novo conceito de segurança comum, integral, cooperativa e sustentável.
– Promover uma nova relação entre potências, de não conflito, não confrontação, respeito mútuo, cooperação e ganho compartilhado.
5 – Reedificar a estrutura da civilização humana
Os valores comuns da paz, do desenvolvimento, da equidade, da justiça, da democracia e da liberdade para toda a humanidade não significa que estes assumam a mesma forma em todos os lugares (são valores comuns, mas não são valores universais).
O conceito de igualdade, valorização mútua, diálogo e tolerância das civilizações deve rechaçar as teorias de superioridade cultural e de choque de civilizações.
6 – Diversidade de sistemas sociais
Defender a escolha autônoma e opor-se ao fim da história – Xi Jinping: Todos os países, independentemente de seu tamanho, força ou debilidade, ricos ou pobres, têm direito a escolher seus próprios sistemas sociais e os caminhos próprios para o desenvolvimento. Não é possível nem necessário fazer cópias de apenas um modelo.
A construção do Partido
Sobre a construção do Partido e o trabalho de organização, os chineses destacaram diversos pontos do Pensamento Xi Jinping sobre o tema, como:
preservar a autoridade do Partido e de sua direção centralizada e unificada;
que o Partido vele por sua própria administração e se discipline de modo integral e rigoroso;
persistir no centralismo democrático;
o partido deve ser não só politicamente forte mas também ter grandes atitudes;
persistir na governança científica, democrática e de acordo com as leis;
a construção política do partido é sua construção fundamental;
os ideais e as convicções são o cálcio espiritual dos comunistas;
dedicar grandes esforços na formação de quadros altamente qualificados, com fidelidade, integridade e responsabilidade;
dedicar grandes esforços em aglutinar talentos dos diversos setores com espírito patriótico e abnegado;
organizar os militantes, agrupar as pessoas de talento e motivar as amplas massas populares;
destacar a importância das organizações de base, poderosos baluartes de combate;
ter firmes convicções, servir ao povo com estilo aplicado, sentido de responsabilidade, integridade e incorruptível;
ser tanto moralmente íntegro como profissionalmente competente, sendo a primeira qualidade a primordial;
a questão chave está na relação do Partido com as massas populares;
a luta anticorrupção se vincula com o apoio popular, que é o fator mais importante da política;
manter o poder dentro dos limites institucionais;
melhorar continuamente a qualidade da construção do Partido elevando a qualidade: do recrutamento de novos militantes, da educação partidária, da seleção e emprego do pessoal e da vida política interna do partido;
assegurar que o partido nunca degenere nem mude sua cor;
fortalecer a supervisão e a inspeção política;
evitar a promoção de quadros com problemas e aplicar tanto as designações quanto as destituições, não só as primeiras;
intensificar a formação de talentos de tecnologia sofisticada nas áreas em que são escassos;
estimular a fixação de pessoas qualificadas em áreas afastadas onde são necessárias;
assegurar a completa igualdade de todos diante dos regulamentos, entre outros preceitos.
Falaram também, no Foro, representantes do Partido Comunista Sul-Africano, do Partido Comunista dos EUA, do Partido dos Socialistas da República da Moldávia, do Partido Comunista da Bielorrússia, do Partido Comunista da Boêmia e Morávia, do Partido Comunista da Índia (Marxista), do Partido do Povo do Cazaquistão, do Partido Comunista do Quênia, do Partido dos Comunistas do Quirguistão, do Partido Comunista da Austrália, do Partido Comunista de Bangladesch (Marxista-Leninista), do Partido do Trabalho da Bélgica, do Partido Socialista do Egito, do Partido Comunista Iraquiano, do Partido Comunista do Nepal (Centro Maoísta), do Partido Popular Palestino, do Partido da Democracia e Socialismo (Senegal), do Partido Patriótico da Turquia e do Partido Comunista da Grã-Bretanha (Marxista-Leninista).
Intervenção do PCdoB no Foro entre o Partido Comunista da China (PCCh) e os Partidos Políticos Marxistas do Mundo – Por Elias Jabbour
Uma saudação calorosa ao Partido Comunista da China
Uma saudação calorosa aos Partidos Comunistas irmãos de todo o mundo
Nós, do Partido Comunista da Brasil, saudamos a realização deste evento em um momento tão delicado das relações internacionais, com o imperialismo inaugurando mais uma temporada marcada pela disseminação da guerra e do caos mundo afora. O grau de sofisticação das interferências imperialistas pelo mundo e a diversidade de formas como isso tem ocorrido é um desafio imenso aos partidos comunistas de todo mundo. Na verdade, os comunistas de todo mundo passam por uma grande prova existencial, pois o próprio imperialismo tem investido muitos recursos na tentativa de construir uma chamada “esquerda compatível” aos seus interesses pelo mundo. Estamos diante do imperialismo se recompondo com uma nova forma histórica.
Neste sentido a própria adaptação do marxismo às realidades nacionais é um imperativo da realidade. Se nós tivemos muitos problemas no passado por importar modelos de revolução e construção do socialismo e muitos de nós já obtivemos êxitos em começar um intenso processo de adaptação do marxismo às nossas realidades nacionais, o momento demanda um salto de qualidade. O marxismo é uma das poucas ciências sociais cujo enriquecimento depende da prática concreta e da forma como ele se adapta à realidades e condições diferentes, atualmente onde a guerra híbrida e a construção de um ambiente de caos e confusão em vários países do sul global por parte do imperialismo, o desafio de transformar o marxismo em grandes corpos teórico/ideológicos nacionais é o desafio maior de nosso tempo.
Os chineses conseguiram êxitos imensos desde que o surgimento do Pensamento do Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para a nova era é o resultado não somente de uma abstração. Como toda teoria ela é resposta a problemas práticos e estratégicos que surgem diante do povo chinês ao longo das últimas décadas. É a resposta às contradições que movem o processo de luta e desenvolvimento da revolução e construção do socialismo na China. Por isso torna-se o marxismo de nossa época à China. Parabenizamos o Partido Comunista da China por todos os logros de sua construção nacional e imensa capacidade de encontrar soluções teóricas e práticas aos desafios que as diferentes conjunturas apresentam.
O Partido Comunista do Brasil tomou imensas lições do final das primeiras experiências socialistas. Desde o início da década de 1990 temos feito um grande esforço para aprofundar o domínio da realidade brasileira e sua construção histórica. Sob o lema de “marxismo mais Brasil” o nosso Partido avançou sobremaneira em sua capacidade de leitura da realidade nacional e abrindo condições à construção de uma justa estratégia e tática que tem colocado nosso Partido em uma posição de respeito diante das forças políticas em nosso país. A combinação de amplitude e radicalidade que marca nossa atuação política é fruto de uma leitura profunda da história do Brasil e da dinâmica histórica das classes sociais em nossa Pátria.
Esta leitura nos trouxe à correta compreensão sobre a necessidade de uma grande Frente Ampla para derrotar o fascismo em nosso país. O isolamento dos comunistas em uma situação de avanço do fascismo pode ter efeitos trágicos a quem tem a responsabilidade de entregar ao nosso povo soluções políticas baseadas em uma ciência social do porte do marxismo. A realidade tem nos dado razão com a materialização deste objetivo político imediato. A possibilidade de eleger Lula da Silva presidente da República é uma oportunidade de o nosso país retomar seu curso histórico. Novas possibilidades podem se abrir às lutas de caráter anti-imperialistas em nosso país.
Um forte abraço fraternal aos camaradas de todos os Partidos Comunistas presentes.