Ato na Catedral da Sé homenageia Bruno e Dom
Bruno e Dom foram mortos no dia 5 de junho, quando faziam uma expedição na região próxima à terra indígena do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. A homenagem teve milhares de pessoas, religiosos e artistas.
Publicado 17/07/2022 11:50 | Editado 17/07/2022 11:51
O ato inter-religioso em homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Dom Phillips, reuniu milhares de pessoas na Catedral da Sé, em São Paulo, na manhã de sábado (16) e teve a presença de Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, e Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips. Lideranças indígenas e artistas também participaram.
Bruno e Dom foram mortos no dia 5 de junho, quando faziam uma expedição na região próxima à terra indígena do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. Três suspeitos estão presos e a polícia segue investigando as possíveis relações do crime com o tráfico de drogas e crimes ambientais na região.
Católicos, anglicanos, metodistas, pentecostais, judeus, muçulmanos, bahá’ís, budistas, kardecistas, povos tradicionais de matrizes africanas e membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias se uniram clamando por justiça. A iniciativa do evento foi da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a Comissão Arns de Direitos Humanos, o Instituto Vladimir Herzog e a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O representante da Federação Espírita do Estado de São Paulo, Afonso Moreira Jr. abriu a cerimônia e declarou que “diante da opressão, a religião deve erguer o chamado à justiça. Diante da violência, a religião deve convocar a paz. Diante do ódio e da disputa, a religião deve promover o diálogo, a concórdia e o amor”.
Representando os povos indígenas, Ibiraçu Máximo Wassu pediu aos que valorizam a cultura indígena, “levem para as pessoas que não sabem o que ela significa. Nós só queremos um pedaço de terra para manter as nossas vidas e nossa cultura”.
Catedral da Sé em defesa da democracia
Dom Pedro Luiz Stringhini, presidente da Confederação dos Bispos do Brasil de São Paulo (CNBB-Sul1), lembrou que a Catedral da Sé acolheu por diversas vezes atos em defesa da democracia e dos direitos humanos. “Em 1975, portanto, há quase 70 anos atrás, aqui estava Dom Paulo Evaristo Arns […] e com ele estava o Rabino Sobel, que descansam em paz. Eles estavam celebrando um ato inter-religioso católico-judaico em memória de Vladimir Herzog e, naquele momento, anunciaram, e aconteceu, que a ditadura estava para acabar e a democracia iria chegar, e chegou. Hoje, 50 anos depois, estamos aqui para dizer que a democracia não vai embora, e que haverá eleições e haverá democracia”, disse Dom Pedro Stringhini.
Ao prestar suas condolências às viúvas de Bruno e Dom, Stringhini também prestou homenagem à viúva do Guarda Municipal, Marcelo Arruda, Pâmela Sueli Silva, assassinado em Foz do Iguaçu por um bolsonarista. “Crime político, por mais que a Polícia do Paraná diga o contrário”.
Discurso de ódio e apologia às armas aumentam a violência
Stringhini também repudiou ataque sofrido pelos povos Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul, numa emboscada em que mais um líder indígena foi assassinado. “No Brasil chama a atenção a escalada da violência contra os povos indígenas e tradicionais, fruto do descaso oficial e do desmonte de políticas públicas de proteção do meio ambiente, nossa casa comum”, completou.
O pastor pentecostal Eliel Batista, lembrando da história bíblica de Abel e Caim, afirmou que “Deus expulsou o assassino para longe de si e afirmou que a terra, por causa do sangue derramado, se tornara maldita. Nos últimos anos, nosso país tem se tornado líder nos índices de violência, por isso, cristãos desse país, como imitadores de Jesus de Nazaré, precisamos trabalhar para resgatar nossa terra dessa maldição. Que jamais sejam tirados do meio de nós os inocentes, os protetores da vida. Que sejam tirados do nosso meio todos os que promovem a morte, os que mediante à morte dizem ‘e daí?’, demonstrando indiferença aos que morrem”.
“Que esse ato seja um clamor por justiça pelo sangue derramado, que imponhamos limites para barrar a violência e jamais admitamos a violência institucionalizada. Religião é feito de símbolos. Então, que cristãos evangélicos e, principalmente, pentecostais desse país demonstrem sua aversão à violência, começando simbolicamente, não usando as mãos para fazer símbolos de armas, mas as usando para acolher os que sofrem, para libertar os oprimidos e depois ajam com atos concretos de justiça. Deus nos ensina que não há paz sem justiça”, completou o pastor.
Antonio Funari Filho, presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, um dos organizadores do ato, afirmou que é preciso que grande parte da sociedade se una nesse esforço. “É importante que haja essa manifestação, que demonstra que a gente tem que começar a dar um basta na violência. A gente só vai recuperar a dignidade e o que foi destruído nos últimos anos se houver uma grande mobilização”.
O ato contou com a presença de entidades do movimento social, centrais sindicais, figuras políticas, além dos representantes das diversas religiões.
Com agências