Pandemia vai colocando Minas à beira do colapso
A covid-19 vem avançando com força em Minas, deixando 3,3 milhões de pessoas sem leitos de UTI em 154 dos 853 municípios
Publicado 16/06/2020 00:47
Aloísio Morais
A covid-19 vem avançando com força em Minas, deixando 3,3 milhões de pessoas sem leitos de UTI em 154 dos 853 municípios. E, pior, o total de sem-leitos pode chegar a quase 10 milhões de pessoas, a metade da população do estado se forem considerados os municípios à beira do esgotamento. Minas tem 72% dos leitos ocupados. O problema é agravado porque diversas regiões do estado começaram a retomar as atividades e permitir a maior circulação de pessoas.
O governador de Minas, Romeu Zema, do Novo, não deve estar surpreso com a situação. Apoiador do presidente Jair Bolsonaro e crítico das medidas de isolamento social, talvez até mesmo por ser dono de uma rede de lojas de eletrodomésticos, no início de abril, ao criticar a quarentena, ele disse que o coronavírus precisava “viajar pelo estado”, baseado não se sabe em quê.
A macrorregião Nordeste foi a última a ter vagas de tratamento intensivo esgotadas. São 57 cidades com população total de 832.829 habitantes. Junto com ela estão as macrorregiões do Jequitinhonha (407.213 habitantes), Triângulo do Norte (1.294.816) e Vale do Aço (839.344), que desde sexta-feira não dispunham de locais para doentes com cuidados especiais, segundo Secretaria de Estado da Saúde. Minas registrava 481 mortos pela doença até essa segunda-feira.
Em outras regiões os contaminados na cidade-polo
também estão acima da proporção populacional. Ipatinga, no Vale do Aço, por
exemplo, a 10ª em população (263 mil habitantes) é a quarta com mais registros
(658). Há na cidade 30 pacientes de COVID-19 internados em unidades intensivas
e, devido à sobrecarga do sistema de saúde, nove foram transferidos para outras
cidades da região, oito para Caratinga e um para Coronel Fabriciano.
Outras cinco macrorregiões já estão próximas da ocupação total de leitos em UTI. Na Sul (2.797.399 habitantes), apenas 12,32% das vagas estão disponíveis. Na Sudeste (1.668.453), 11,2%. Na Oeste (1.280.907), 16,36%, enquanto na Noroeste (701.605), 9,61%. Já a Leste (689.689) dispõe de apenas 10,52% dos leitos de UTI para atender os doentes. Nas macrorregiões do Vale do Aço, Central, Nordeste e Triângulo a taxa de ocupação de leitos beira os 100%.
Segundo a Secretaria de Saúde de Minas, “a média de ocupação no Estado de Minas
Gerais” de leitos de UTI é de 72%, “sendo 12,21% ocupados por pacientes com
COVID-19 ou suspeitos. A macro Sudeste tem 21,53% de ocupação de leitos com
pacientes com suspeita ou com o novo coronavírus. A macro Sul está com 13,01%.
A Macro Oeste tem ocupação em 12,12%. A Noroeste, ocupação de 21,05%, e a
Centro-Sul, 6,25%”.
Belo Horizonte
Em Belo Horizonte, a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva destinados a pacientes com Covid-19 atingiu, pela primeira vez, a marca de 82%. É o maior índice registrado desde a reabertura gradual do comércio na capital, conforme informação foi divulgada pela Secretaria Municipal nessa segunda-feira, 15, referindo-se ao domingo.
De acordo com último boletim epidemiológico, Belo Horizonte tem 3.487 casos confirmados de Covid-19, enquanto 67 pessoas morreram por causa da doença. Desde a flexibilização do isolamento social em Belo Horizonte, em etapas, o índice vem crescendo gradativamente. No dia 25 de maio, primeiro dia de funcionamento parcial do comércio, a taxa era de 48%. No dia 8, quando começou a segunda fase de reabertura dos estabelecimentos, a taxa chegou a 72%. Em quatro semanas, as barreiras sanitárias, instaladas em vários pontos nas entradas da cidade, encamianhafram 1.262 pessoas com sintomas de covid-19 para o atendimento médico.
Interiorização
O novo coronavírus avança sobre os municípios do país e já causou mais mortes no interior de alguns estados do que nas regiões metropolitanas das capitais. Pelo menos seis estados do país já registram mais mortes em cidades afastadas dos grandes centros urbanos: MG, MS, PR, RS, SC e TO.
Na Região Sul, todos os três estados já registram mais mortes em cidades do interior. Em Santa Catarina os números são os mais altos do país: 91% das mortes registradas estão fora da metropolitana de Florianópolis. A capital, porém, foi exemplo no combate à pandemia, chegando à taxa de mortalidade de apenas 1%.
No Rio Grande do Sul, 68% dos óbitos foram registrados no interior do estado. No Paraná, a taxa chega aos 60%. No Norte, Tocantis é o único estado que se encontra nessa situação. O coronavírus fez mais vítimas nas cidades interioranas. Ao todo, 82% das mortes se concentram nessas cidades.
Já na região Sudeste, onde os estados de São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking de casos e óbitos no país. Minas Gerais se destaca pelo efeito da interiorização do novo coronavírus, registrando 71% dos óbitos nas cidades fora da região metropolitana da capital. Na região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul foi o único estado onde a maior parte das mortes ocorreu no interior: 67%. Os outros 33% das mortes ocorreram na capital, Campo Grande.