Coalizão emite nota contra repressão e em apoio aos protestos nos EUA
A Coalizão Nacional Unificada contra a Guerra (UNAC), dos Estados Unidos, emitiu uma nota, nesta terça-feira (2), em repúdio à repressão e em apoio aos protestos dos últimos dias contra a brutalidade policial, o racismo e a opressão sistêmica nos Estados Unidos. O presidente Trump ameaça os manifestantes com ação militar e equipara os manifestantes antirracistas e antifascistas a terroristas. Leia, abaixo, a tradução da nota feita por Moara Crivelente.
Publicado 03/06/2020 21:19 | Editado 03/06/2020 23:28
Declaração da UNAC sobre a atual revolta
Defender as Vidas Negras!
Não ao Estado Policial! Não à Ditadura Militar!
Libertem todos os detidos! Basta de ataques contra manifestantes antirracistas!
A Coalizão Nacional Unificada contra a Guerra (UNAC) é solidária às comunidades em todo o país que se levantam em protesto contra a violência policial racista. Enquanto Donald Trump insta ao destacamento do exército estadunidense para responder a esses protestos nacionais, a UNAC condena o uso de quaisquer forças policiais e militares enviadas para suprimir violentamente esses protestos. Instamos todos os ativistas contra a guerra a ajudar a organizar ou se somar a essas ações que exigem justiça e um fim ao terrorismo estatal infligido às comunidades negras e pardas neste país.
Os correntes protestos começaram em Minnesota na segunda-feira, 25 de maio de 2020, em reação ao assassinato de George Floyd, um homem negro de 46 anos, por quatro policiais, na cidade de Minneapolis. O assassinato horrendo foi flagrado por várias gravações de vídeo, que mostravam dois policiais imobilizando Floyd, já algemado, com o rosto no chão, um policial em cima dele e um quarto pressionando seu joelho contra o pescoço da vítima por quase nove minutos, mesmo enquanto ele gritava, “não consigo respirar”, e logo ficou inconsciente. Floyd morreu poucos instantes depois.
Em 29 de maio, só depois de CINCO DIAS consecutivos de protestos militantes em Minneapolis e nas maiores cidades em todo o país, o policial flagrado se ajoelhando sobre o pescoço de Floyd foi finalmente detido e acusado formalmente de assassinato em terceiro grau (1). Seus três cúmplices ainda devem ser acusados.
Obviamente, esse assassinato trágico não aconteceu no vácuo. Representa uma tendência que se mantém há tempo demais neste país. Há mais de 1.000 vítimas de força letal todos os anos nos Estados Unidos. Homens, mulheres e crianças negras desarmadas têm sido aterrorizadas e mortas pela polícia há mais de um século sem quase nenhum dos policiais envolvidos enfrentarem acusações formais por seus crimes. Apenas nos últimos anos, só aqueles casos flagrados pelas câmeras e outros dispositivos de gravação chamaram a atenção daqueles no poder; mesmo assim, a justiça raramente é cumprida.
Mais recentemente, casos como o de Breonna Taylor e Ahmaud Arbery receberam atenção nacional, semanas depois de terem sido assassinados por policiais e ex-policiais, e somente após vídeos e gravações das chamadas à polícia terem sido vazadas para a mídia. O policial que matou Taylor em seu próprio apartamento ainda não foi acusado formalmente e os assassinos de Arbery, que dispararam contra ele enquanto ele se exercitava numa corrida, não foram acusados formalmente até que os vídeos do incidente causaram a revolta do público e protestos, semanas depois.
A atual revolta de dimensão nacional caracteriza-se por uma semana de grandes protestos e atos de desobediência civil em quase todos os estados do país. Centenas de ações foram realizadas em cidades grandes e pequenas, de costa a costa, para denunciar não apenas o assassinato de George Floyd, mas a longa história de opressão e de violência estatal contra americanos negros que nunca acabaram e que nunca foram verdadeiramente reconhecidas pelos Estados Unidos.
Assim como o movimento contra a guerra tem denunciado as correntes guerras racistas e imperialistas dos EUA no exterior, os protestos massivos por todo o país, hoje, estão denunciando a violência racista institucionalizada domesticamente. Os milhões nas ruas hoje são o prenúncio de amplas e unificadas mobilizações vindouras, que têm o potencial de colocar um desafio fundamental ao próprio sistema opressivo, racista e violento.
(1) Trata-se de delito preterdoloso, com intenção de cometer outro crime, mas que resulta na morte da vítima. Esta categoria existe em apenas alguns estados dos EUA. [NT]
Fonte: Cebrapaz