Mujica prevê dramas sociais no mundo pós-coronavírus
Em depoimento ao jornal espanhol El País, o ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica fez uma previsão sombria para o mundo após a pandemia do novo coronavírus, que já deixou mais de 245 mil mortes no mundo.
Publicado 03/05/2020 21:18

Segundo ele, nascerão “nacionalismos xenófobos” e “dramáticas tensões geopolíticas entre o Oriente e o Ocidente”, numa primavera de autoritarismos e especulação financeira. Mujica ressalta que como humanos “perdemos o norte com a globalização, impulsionados pela força do mercado e da tecnologia”, sem “consciência política durante o processo”.
“O antigo liberalismo mudou, tornou-se ‘liberismo’ e abandonou o humanismo. Hoje, se eu pudesse acreditar em Deus, diria que a pandemia é um aviso para os sapiens.”
Com apenas 652 casos, o Uruguai é um dos menos atingidos no mundo e registrou 17 mortes até agora. Mas Mujica analisa as consequências da pandemia no mundo inteiro “Diante do perigo, as pessoas se refugiaram no Estado. Eles falam de nacionalização, reindustrialização, soberania sanitária e farmacêutica. Nacionalismos xenófobos e baixos salários surgirão. Os escalões mais baixos da classe média ameaçada questionarão os governos e serão o clamor das ruas. O autoritarismo terá sua primavera, assim como a especulação financeira”.
Mujica questiona ainda nossa capacidade de nos reorganizar diante dos novos desafios e lembra que nosso futuro depende de nós mesmos:
“Eu me pergunto, como humanos atingimos o limite biológico de nossa capacidade política? Seremos capazes de nos redirecionarmos como espécie e não como classe ou país? A política poderá se unir à ciência? Vamos aprender a lição do desastre ao ver como a natureza revive? A medicina, o ensino, o trabalho digital e a robótica se firmarão e entraremos em uma nova era? Haverá fortes batalhões médicos capazes de lutar pela vida em qualquer lugar ou continuaremos gastando três milhões de dólares por minuto em orçamento militares?”, disse ele.