Bancos Centrais alertam para riscos da guerra comercial de Trump
Os presidentes de quatro dos principais bancos centrais do mundo – nos Estados Unidos, Canadá, Zona do Euro e Japão – mostraram, nesta quarta-feira (20) a sua preocupação com a escalada das tensões comerciais desencadeadas por Donald Trump. Para os executivos das autoridades monetárias, o crescimento mundial pode ser afetado.
Publicado 20/06/2018 17:26
Em Sintra, Portugal, na última sessão da edição deste ano do Fórum do Banco Central Europeu (BCE), Jerome Powell (Federal Reserve), Mario Draghi (Banco Central Europeu), Haruhiko Kuroda (Banco do Japão) e Philip Lowe (Austrália) falaram sobre o assunto, depois de terem apresentado uma frente unida contra a aplicação de políticas protecionistas a nível comercial.
De acordo com Powell, "mudanças na política comercial podem nos levar a questionar as perspectivas". Ele destacou ainda que é “a primeira vez que estamos a ouvir falar do adiamento de decisões de investimento”.
Lowe foi na mesma linha: "As empresas estão começando a recuar e atrasar novos investimentos […] não seria preciso muito para os mercados se unirem [à economia real] para transformar isso em um evento global realmente grande". Algo que ele classificou como "incrivelmente perturbador".
O líder do banco central australiano deixou ainda uma crítica directa à política de Trump: “Não creio que tenha havido um país que tenha conseguido criar prosperidade construindo muros à sua volta”.
O anfitrião do encontro, Mario Draghi recusou fazer para já qualquer previsão de impactos das medidas comerciais anunciadas, mas deixou claro o seu pessimismo. “Não é fácil e ainda é cedo para saber que impacto é que terá na confiança e nas exportações, mas há lições do passado e elas são todas muito negativas”, alertou, afirmando não conseguir ver “qualquer razão para estar otimista”.
Já para Haruhiko Kuroda, o efeito indireto da disputa comercial entre China e Estados Unidos sobre o Japão “será significativo”. “Espero que a escalada possa ser controlada, é uma questão muito preocupante”, disse.
Os EUA podem ser vítimas de suas próprias políticas, disseram analistas do Deutsche Bank, prevendo um impacto no crescimento e nos lucros corporativos.
"Nossa análise indica que uma nova escalada da disputa comercial para incluir 200 bilhões de dólares em importações poderia reduzir o crescimento do PIB real em 0,2 a 0,3 ponto percentual", disse o Deutsche, acrescentando que isso poderia reduzir o crescimento dos lucros das empresas do S&P 500 em 1 a 1,5 por cento