Encontro histórico entre Trump e Kim acontece amanhã; entenda
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá se reunir com Kim Jong-un, o líder da Coreia Popular, na terça-feira (12), em Cingapura. Após grandes tensões (que não estão completamente dissipadas), o encontro chama a atenção do mundo todo
Publicado 11/06/2018 17:13
Depois de, na quarta-feira (6), ter realizado uma visita-relâmpago a Washington, o ministro das Relações Exteriores de Cingapura, Vivian Balakrishnan, deslocou-se em visita oficial à República Popular Democrática da Coreia (RPDC), para ali tratar com as autoridades norte-coreanas dos preparativos para o encontro entre o líder coreano, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que terá lugar no Hotel Capella, em Cingapura.
A agenda não é conhecida, mas não é difícil imaginar que o diálogo incida em temas como a desnuclearização e a paz na Península da Coreia, a exigência de garantias de segurança por parte de Pyongyang, bem como do fim das sanções que lhe são impostas por Washington.
O caminho até aqui
Os EUA arrasaram o Norte da Coreia entre 1950 e 1953, durante uma guerra sengrenta em que foi eliminada 20% a 30% da sua população – como hoje é reconhecido pelos próprios norte-americanos.
Desde o "fim" da Guerra entre as Coreias (entre aspas pois os países nunca chegaram à paz, apenas assinaram um armisticio) militares norte-americanos, aliados a Seul, estão em território sul-coreano, mais especificamente na fronteira com o Norte, onde fazem ataques ou exercicios militares frequentes.
Em 2016, Pyongyang passou a fazer testes nucleares e balísticos, segundo a sua justificativa, para conseguir se igualar aos Estados Unidos em termos de poderio nuclear e portanto serem respeitados e ouvidos em possíveis negociações. Pela primeira vez, o regime dava a indicação de ser capaz de atingir diretamente o território norte-americano.
Trump respondeu com declarações inflamadas. Na Assembleia Geral da ONU, sob críticas de outros países pelo tom bélico ao invés do diálogo, Trump ameaçou "destruir completamente" a Coreia Popular.
Por outro lado, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, é um grande entusiasma da paz com o Norte. Os Jogos de Inverno ocorridos no ínicio de 2018 permitiram uma brecha para a reaproximação entre as duas Coreias, que acabaram por assinar um acordo de paz após o encontro histórico entre seus dois lídres.
Depois, veio a vez dos Estados Unidos: Kim manifestou sua disponibilidade em diálogar com Trump. Washignton e Pyongyang, então, marcaram o encontro para dia 12 de junho. Mike Pence, vice norte-americano, então, fez um comentário desagradável (que em nada disfarça o imperialismo de seu páis): se a Coreia Popular não cedesse a desnuclerização unilateral, poderia "acabar como a Líbia", país que, após entregar seus projetos nucleares e seu armamento aos EUA, foi invadido pela OTAN. Pyongyang chamou os comentários de Pence de "imebecis", ao que Trump viu "hostilidade" e cancelou o encontro. No final, agentes de Estado de ambos os países retomaram contato até que o encontro fosse remarcado para dia 12.
Segundo a agência noticiosa oficial da Coreia Popular, a KCNA, Kim Jong-un e Donald Trump vão discutir, em Cingapura, o "estabelecimento de novas relações" entre Pyongyang e Washington, a "construção de uma paz permanente" e a "implementação da desnuclearização da península coreana e outros assuntos de interesse mútuo". O texto indica que o encontro, o primeiro entre os dois países, celebra-se "sob o olhar atento e grandes expectativas de todo o mundo".
Em seu editorial, o Rodong, jornal oficial do Partido dos Trabalhadores, assegurou que a Coreia Popular "vai procurar, através do diálogo, a normalização das relações" com os EUA, sempre que essa nação "respeitar a autonomia" norte-coreana.
Trump, Pompeo, Abe…
No início de um encontro bilateral na Casa Branca com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, o presidente norte-americano mostrou-se otimista sobre a reunião com Kim, afirmando que será "muito frutífera" e "muito mais que uma foto".
Insistindo na necessidade da "desnuclearização" da RPDC, Donald Trump disse que, se tudo correr bem no encontro, convidará Kim Jong-un a visitar os EUA.
Abe disse esperar que o encontro seja um "momento de transformação" para o Nordeste asiático.
No entanto, vários analistas têm apontado o "desconforto" com que o Japão encara uma eventual aproximação entre as Coreias, por um lado, e entre a Coreia Popular e os EUA, por outro – não parecendo ser do seu interesse a existência de uma Coreia forte e unida ou o fim da tensão militarista, que leva o país nipónico a assumir um papel de relevo no contexto regional.
A Coreia Popular, por sua vez, é aliada da China e estabeleceu boas relações com a Rússia.
Na semana passada, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, abordou o dia 12 de junho, para trazer à tona as habituais pressões de Washington. Afirmou que Donald Trump não aceitará nada que não seja uma "desnuclearização completa, verificável e irreversível da Península da Coreia", acrescentando que o presidente dos EUA está confiante, mas que vai para a reunião com "os olhos bem abertos".
Os EUA, que fazem exigências claras à Pyongyang no sentido da desnuclearização unilateral, investem somas astronômicas em material militar, detêm aproximadamente 40% do total de ogivas nucleares existentes no mundo e são responsáveis pela militarização massiva da Coreia do Sul, de onde não parecem querer retirar contingentes e onde continuam a realizar grandes manobras militares.
Washington está disposta a "garantir a segurança da Coreia do Norte". Trump "está preparado para garantir que uma Coreia do Norte livre de armas de destruição massiva é uma Coreia do Norte segura", disse.
Aquilo que será concretizado em Cingapura e, eventualmente, em encontros futuros é naturalmente uma incógnita, mas os passos até agora trilhados para um caminho positivo só poderão avançar se a soberania da Coreia Popular e os anseios de paz do povo coreano forem respeitados.