Trabalhadores denunciam em PE sucateamento do setor naval brasileiro
Na manhã desta segunda-feira (21), um ato contra as privatizações e o sucateamento do setor naval brasileiro mobilizou, em frente à Refinaria Abreu e Lima, no município de Ipojuca, em Pernambuco, dezenas trabalhadores e trabalhadoras.
Por Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
Publicado 21/05/2018 13:03
Era 6h da manhã e petroleiros, químicos, metalúrgicos, trabalhadores do setor da borracha, da Copergás, da educação, rurais, além dos trabalhadores da Refinaria, que desceram dos ônibus e participaram do ato, reivindicaram a defesa dos empregos no setor e, principalmente, a garantia da soberania nacional.
A Refinaria Abreu e Lima faz parte do pacote de privatização do governo do golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP), que pretende entregar de uma só vez as Refinarias de Pernambuco e da Bahia, além de dutos e terminais dos dois portos pernambucanos. Desses ativos, a Petrobras ficará com 40% e os outros 60% serão transferidos para o setor privado, assim como o controle da operação.
O presidente da CUT Pernambuco, Carlos Veras, contou ao Portal CUT, no final da atividade, que o pólo naval pernambucano, assim como no restante do país, está sendo desmontado.
“Aqui [em Ipojuca] já vivemos, pouco tempo atrás, um momento de pleno emprego e hoje toda essa região [do pólo naval] representa um dos maiores índices de desempregados do Estado de Pernambuco. É um desmonte total”, denunciou o dirigente sindical.
Ele lembra que foi o ex-presidente Lula o responsável por construir e desenvolver todo o Complexo Industrial Portuário de Suape, gerando emprego e desenvolvimento na região.
“Por isso, nossa manifestação hoje também é pela defesa da liberdade do ex-presidente. Lula representa para todos nós a possibilidade de estancar essa sangria privatista e tirar o país da estagnação, acabar com esse retrocesso e retomar uma agenda positiva de recuperar o emprego e o desenvolvimento.”
No município de Ipojuca (PE), onde se localiza o Complexo Industrial de Suape, a geração de emprego formal cresceu 214% entre os anos de 2007 a 2013. À época, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, no setor de construção de embarcações e estruturas flutuantes, a oferta de empregos teve aumento médio de 12,8%. Só a retomada da indústria naval gerou 78 mil empregos diretos.
Foi o que motivou a estudante universitária Morgana Silva, 29 anos, a largar sua cidade natal, João Pessoa, na vizinha Paraíba, para trabalhar na Petroquímica de Suape em 2012. Lá começou a manusear arquivos e a trabalhar com pesquisa e documentação.
Gostou tanto do que aprendeu que decidiu trilhar seu futuro pensando em concretizar um sonho de infância: passar no concurso da Petrobras. Ao ingressar no curso de biblioteconomia na Universidade Federal da Paraíba, em 2014, decidiu retornar a João Pessoa para se qualificar, com a promessa de que teria o emprego de volta como celetista, com o registro da profissão escolhida na Carteira de Trabalho.
“Minha esperança era me especializar e voltar qualificada para ter uma melhoria salarial e profissional. Só que, quando eu voltei [a João Pessoa] e começou a acontecer tudo isso [as demissões e o processo de sucateamento do complexo que teve início em 2014], eu vi que seria praticamente impossível retornar ao trabalho que me incentivou na escolha da profissão”, lamentou.
Para Morgana, era impossível pensar que um Complexo daquele tamanho, que gerava emprego e renda para o Nordeste todo, fosse simplesmente desmontado por questões políticas.
“Agora estou me formando, mas o sonho em voltar a trabalhar na Petrobrás está bem distante e minha única oportunidade agora é passar em algum concurso de universidade pública, que estão cada vez mais raros na minha área.”
A Refinaria Abreu e Lima
Responsável pela produção de 30% do Diesel S-10 do Brasil e pelo processamento de 100 mil barris de petróleo por dia, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, elevou a outro patamar a movimentação de cargas no Porto de Suape.
Conhecida como Rnest, iniciou suas operações no ano de 2014 e, conforme registrado no site da Petrobrás, “a refinaria tem como objetivo principal produzir óleo diesel e viabilizar o atendimento da demanda de derivados da região Norte e Nordeste, com redução das importações”.
Ainda segundo o site da Petrobras, “a Rnest apresenta a maior taxa de conversão de petróleo cru em diesel (70%), combustível essencial para a circulação de produtos e riquezas do país.”
Porém, desde que Pedro Parente assumiu o comando da Petrobras, o aumento do desemprego na região e o desmonte de uma empresa 100% brasileira passou a ser a nova realidade da Refinaria Abreu e Lima.