Walter Sorrentino: Ciro e Haddad, conversar é indispensável
Boa a iniciativa de Ciro e Haddad irem ao encontro com Delfim Netto e Bresser Pereira. Ciro afirma que “combinamos que o que tem de ser feito é dar toda força às nossas direções nacionais e às nossas Fundações, que já estão operando juntas, com documentos conjuntos e análises de conjuntura e seguiremos trocando ideias sobre essas coisas. Nada de chapa”.
Por Walter Sorrentino*
Publicado 25/04/2018 17:22
Haddad, por sua vez, que é preciso manter fluidas as relações entre os partidos de esquerda e centro-esquerda. E arremata que também com Manuela e Boulos isso vem se verificando.
Custa a crer que alguém, afora as forças conservadoras, possa ter dúvidas quanto à necessidade e correção disso. Como se sabe, essas forças deram um grande passo ao elaborar um Manifesto assinado pelas Fundações do PCdoB, PT, PDT e PSOL – também com participação, embora sem endosso, do PSB – há pouco tempo. É a base para uma convergência programática para tirar o país da crise apontando para um projeto nacional de desenvolvimento consistente, articulado e sistêmico, soberano, democrático e de inclusão social plena. Com ele – e com a determinação da maioria dos brasileiros – é possível tirar o Brasil da condição de um país semiperiférico nas cadeias de valor globais e divisão internacional do trabalho, levando-o a novo patamar civilizatório.
Incrível é que se trata da primeira vez na história desde a ditadura de 64 que as forças de esquerda e centro-esquerda logram um pacto formal com essa consistência programática. Ele dá ensejo a outros passos de entendimentos em comum para as eleições de outubro, visando a assegurar a presença no 2º turno e ousar vencer.
A resistência ao atual estado de coisas no Brasil logrou êxitos substantivos quanto à análise que fazemos neste campo político. Mas de nada vale ter forças – cerca de um terço da sociedade – se se permite que sejam sitiadas nessas fronteiras.
O entendimento progressivo é necessário, respeitando o tempo político de cada uma dessas forças e a legitimidade de suas candidaturas, os objetivos partidários necessários para assegurar ampla bancada de parlamentares no Congresso Nacional. As eleições estão aí logo mais, mas até agosto, quando se fazem os acertos finais, muita água vai rolar, o quadro vai decantar em quase todas as suas variáveis, tanto no nosso lado quanto do lado de lá.
Manter abertas as portas do entendimento não enfraquece este ou aquele, ao contrário, fortalece nosso projeto comum em alcançar de fato o povo, com saídas críveis e viáveis para a crise, falar de solução aos problemas agudos do cotidiano, abrindo novas esperanças no futuro. Uma opção frentista sempre é melhor unir vastas forças, para resistir e lutar contra o arbítrio e a exceção, pela democracia e pela Constituição de 1988, unindo sobretudo os movimentos populares em ação e as forças progressistas.
Se desse combate comum na resistência ativa nascer uma alternativa mais coesa para as eleições, aumentam as chances de liderarmos a reconstrução da nação. Os justos interesses partidários não devem nem precisam se sobrepor aos interesses do Brasil, da democracia e dos direitos do povo. São necessários convergência de objetivos e pactuação progressiva entre nossas candidaturas, sem hegemonismos nem vetos. A hora é de destravar esses caminhos.