Número de médicos aumenta, mas má distribuição regional permanece
Embora o Brasil em 2018 tenha alcançado o maior marco histórico em número de médicos, a alta densidade não garantiu melhor distribuição desses profissionais no País. Além de estarem concentrados em grandes centros e capitais brasileiras, estão mal distribuídos entre os setores públicos e privados de saúde. Os números impressionam: em 2020, o País terá ultrapassado a marca de meio milhão de médicos. A região Sudeste tem a maior taxa, de 2,81 médico por mil habitantes.
Publicado 21/03/2018 10:06
Os dados fazem parte da quarta edição da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2018, feita pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Os resultados deste levantamento foram divulgados no dia 20 de março, em Brasília.
Em pouco menos de cinco décadas, o total de médicos no país aumentou 665%, enquanto a população brasileira cresceu, no mesmo período, 119%.
Mário Scheffer, coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, afirma que mesmo com o maior número de profissionais as desigualdades permanecem tanto geográfica quanto no interior do próprio sistema de saúde. “Faltam médicos nos pequenos municípios, nas periferias das grandes cidades e em vários serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) – na atenção primária, em prontos-socorros e em ambulatórios de especialidades.”
O estudo apontou que, enquanto em todo o Brasil existem 2,18 médicos por mil habitantes, em algumas capitais brasileiras – Vitória, no Espírito Santo, por exemplo – existem 12 médicos por mil habitantes. No outro extremo, no interior das regiões Norte e Nordeste, há menos de um médico por mil habitantes. O Sudeste é a região com maior densidade médica, cerca de 2,81, contra 1,16 no Norte e 1,41 no Nordeste.
A íntegra da Demografia Médica no Brasil 2018 pode ser acessada neste documento (PDF).
Mais mulheres
O porcentual de mulheres na população total de médicos no Brasil acompanha a tendência mundial de feminização da Medicina, aponta o estudo. As mulheres já são maioria entre os recém-formados e entre os médicos com menos de 35 anos. Elas representam cerca de 57,4% no grupo até 29 anos e 53,7% na faixa entre 30 e 34 anos. Já entre os mais velhos, a participação dos homens continua sendo maior. Cerca de 54,8% entre 40 e 44 anos e 62,5% entre 60 e 64 anos. Permanecem as desigualdades de gênero na remuneração e na ocupação por especialidades. Os homens ganham mais e são maioria em 36 das 54 especialidades médicas.
Quatro especialidades concentram quase 40% dos especialistas. Clínica médica, 11% do total; Pediatria, 10,3%; Cirurgia Geral reúne 8,9% e Ginecologia e Obstetrícia, 8% dos titulados. A distribuição por gênero traz tendências mais femininas e mais masculinas para algumas especialidades: em Urologia, 97,8% são homens e em Dermatologia, 77, 1% são mulheres.
A presença feminina é maior nas especialidades de Pediatria, Medicina da Família e Comunidade, Ginecologia e Obstetrícia e Clínica Médica; e os homens são maioria nas especialidades cirúrgicas, na Urologia, Ortopedia e Traumatologia, entre outras.
Formação médica elitizada
Dos 289 cursos de Medicina autorizados no Brasil até final de 2017, a maioria (65%) foi absorvida por escolas privadas, com mensalidades que chegam a R$ 16 mil, privilegiando pessoas com melhor situação socioeconômica. Para Scheffer, “a abertura de novos cursos não foi acompanhada de maior democratização do acesso ao ensino médico. As políticas de inclusão, cotas e ações afirmativas tiveram até agora menor repercussão na Medicina se comparadas a outras cursos superiores”, afirma.
Outro dado importante foi que 57% das vagas de Medicina abertas foram em regiões do interior, fora das capitais, o que não resolveu a questão da má distribuição geográfica. Segundo o professor, “embora tenha ocorrido relativa interiorização, é baixa a influência das escolas do interior em fixar os médicos nessas regiões depois de formados”, afirma.
Por fim, outro dado preocupante e revelado pelo estudo foi que, embora o número de médicos cursando Residência Médica nunca tenha sido tão elevado no Brasil, 40% das vagas permaneceram ociosas. Segundo Scheffer, os motivos do não preenchimento são multifatoriais, incluem falta de financiamento de bolsas, de infraestrutura e de preceptores (orientadores) médicos.