Telmário: Dilma poderá voltar se assumir compromisso com plebiscito

O senador Telmário Mota (PDT-RR) iniciou a sua trajetória política militando nos movimentos sociais a partir de 1990. A vivência da luta por mais direitos são elementos essenciais de suas posições no Senado e dá o tom do seu mandato. Ele foi o primeiro parlamentar a discursar contra o golpe na sessão de 11 de maio, que decidiu pelo afastamento da presidenta Dilma Rousseff.

Por Dayane Santos

Telmário Mota - Agência Senado

“O prejuízo maior com o impeachment será da nossa população. Esse processo de impeachment contra a presidenta Dilma começou pela ótica do revanchismo da oposição, principalmente do PSDB, passou pelo ódio e vingança do denunciado de corrupção, o deputado Eduardo Cunha, e poderá ser concluído por muitos oportunistas e traidores”, disse ele na ocasião.

Em entrevista ao Portal Vermelho, Telmário afirmou que os fatos desencadeados desde o afastamento só reforçaram que não há crime de responsabilidade da presidenta Dilma e que o impeachment se trata de um golpe.

“Está caracterizado que o afastamento da Dilma não foi por crime de responsabilidade, não foi desvio de dinheiro, não foi crime nenhum. É uma ação política com outros objetivos e o grande corpo dessa ação é o próprio PMDB”, afirmou o senador que defende a realização de um plebiscito como saída para a atual crise.

“Acho que uma nova eleição é o único caminho para a democracia brasileira e essa crise que toma conta de todo o país. Crise política, econômica, ética, tributária… o país está vivendo de arranjos”, sublinhou Telmário Mota, reforçando que “o plebiscito só sai se a Dilma estiver no poder”.

“E a Dilma só volta se ela tiver esse compromisso com a população”, reafirmou o senador. Ele defende que, apesar da proposta ter nascido de outros setores, o plebiscito deve ser uma bandeira da presidenta. “Ao voltar, Dilma deve assumir essa bandeira e convocar esse pacto nacional. Ela deve dizer a nação: ‘O povo me deu esse mandato e eu quero devolver’”, destacou.

Reforma política

Além de novas eleições, o parlamentar afirma que o país precisa urgentemente de uma reforma política. Segundo ele, as recentes reformas feitas pelo Congresso “só beneficiaram os grandes grupos, o grande capital e dificilmente vai nascer um líder comunitário e popular já que reduziram o tempo e a igualdade de disputa”.

Telmário acredita que se a presidenta Dilma assumir efetivamente a bandeira do plebiscito terá condições de reverter o quadro de votação no Senado, pois tal conduta seria “uma mensagem de segurança para os senadores que ainda estão indecisos”.

“Sinto que vários senadores estão constrangidos, outros não estão satisfeitos e querem uma alternativa plausível para que possam encaminhar uma votação diferente daquela que foi feita no impeachment. Seria desastroso a aprovação do impeachment. Isso é um golpe que deram o nome de impeachment”, frisou.

Ainda de acordo com o senador, a proposta de novas eleições iria se contrapor às manobras dos golpistas no Senado, que tem distribuído benesses aos parlamentares para tentar efetivar o golpe contra o mandato legítimo da presidenta Dilma.

“Eles estão usando esse tipo de mecanismo para envolver os senadores e fazer com que fiquem num governo capenga que não vai ter força popular. Num governo que não vai tomar medidas contra a corrupção ou contra o grande capital. Um governo que vai estar aí servindo para proteger esses que estão até o pescoço como Jucá, Cunha, Renan e vários outros”, repeliu.

Jucá = Cunha

O senador não poupou críticas ao também senador e seu conterrâneo Romero Jucá (PMDB-RR), que foi ministro de Temer e caiu depois da divulgação de gravações com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em conversas que tratam sobre a articulação da aprovação do impeachment como forma de barrar as investigações da Lava Jato.

“O Temer assumiu e quem é a pessoa mais forte que se tem no governo dele: o Jucá”, afirma Telmário. “Esse Romero Jucá é um câncer. No governo Temer, assim como Cunha está para a Câmara, o Jucá está para o Senado. O Jucá é o mão-suja desse Congresso. Talvez o Cunha não seja tão perigoso quanto Jucá numa delação premiada. A turma diz que o Cunha é a pior delação desse país, mas a pior seria o Jucá porque ele transita há muito tempo como líder desde Fernando Henrique Cardozo e sempre foi um cara usado como negociador de sequestrador. Ele não mede quais são os meios, quer saber do fim. Esse é o governo que temos, em decadência, o país em péssimas mãos”, completa.

Telmário disse que Jucá está “altamente comprometido com a corrupção” e justifica sua afirmação dizendo que a vida pregressa dele, “desde o tempo que foi presidente da Funai, só acumula denúncias”.

“Um homem que não tem uma visão patriótica, de coisa pública. Uma pessoa que está sempre a serviço do grande capital e das grandes empresas. Então, o governo Temer é um governo podre. Não tem chance nem condições de conduzir o país”, acrescenta. “Então, a única saída para esse país é a volta da Dilma”, reforça.

Tucanos

O parlamentar também rechaçou a posição do PSDB que é o “partido que está ávido pelo poder” e, por isso, se aproveita da crise. “O PSDB não quer admitir uma eleição agora porque os candidatos que eles têm não crescem, ao contrário, tiveram uma queda. Aécio envolvido até o pescoço em denúncias e citações, o Serra é um limão, o Alckmin é paroquial. Não crescem. Se hoje tivesse uma eleição, não tenho dúvida de que o presidente que seria escolhido seria um com tendência progressista. E eles têm convicção disso e por isso querem ter tempo para desgastar um pouco mais esse campo, principalmente o Lula”, avalia o senador.

Telmário salientou ainda a posição do seu partido, o PDT, que ao se posicionar contra o golpe se manteve “no curso de sua história”. “O PDT não pode mudar a sua história pelo poder, principalmente num momento como esse em que os partidos perdem a confiança popular por conta do comportamento de alguns políticos. Os homens passam e as instituições ficam. Um partido só se fortalece e fica robusto se manter a sua linha. O PDT está mantendo os princípios fundadores, suas causas e bandeiras”, concluiu.