Dilma: Golpe foi para impedir Lava Jato de atingir Temer e Cunha
Durante Audiência Pública em defesa da democracia na Assembleia Legislativa da Paraíba, em João Pessoa, nesta quarta-feira (15), a presidenta eleita Dilma Rousseff disse que as delações da Lava Jato reforçam a denúncia de que o objetivo do impeachment era evitar que as investigações atingissem integrantes da cúpula do PMDB. A declaração de Dilma foi feita ao ser indagada sobre a delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que cita propina ao Michel Temer (PMDB).
Publicado 16/06/2016 10:15
“Há uma tentativa que deu certo quando a solução Temer virou um processo de impeachment a fim de evitar duas coisas. De um lado, submeter o país ao que você acredita, a sua pauta. A outra é impedir que o processo de investigação atinja integrantes do governo provisório”, afirmou a presidenta.
Ela lembrou do conteúdo da conversa gravada entre Romero Jucá (PMDB-RR), aliado fiel de Temer, e Machado, em que Jucá afirma que o impeachment era o caminho para “estancar a sangria” da Lava Jato. Ela reiterou que os acontecimentos posteriores ao golpe deixam mais clara a “forte relação” entre Temer e Cunha.
Durante o ato, diante de milhares de paraibanos, a presidenta Dilma criticou a manobra do ministério golpista das Cidades, Bruno Araújo, que retirou R$ 17 milhões já liberados para conclusão de obra de mobilidade em João Pessoa. Para a presidenta, a medida é “politicagem”, que confunde o dinheiro público com o dinheiro pessoal.
“Isto está na origem da corrupção. Chama-se patrimonialismo, quando você confunde o dinheiro público com o seu poder, é o claro desvio de poder”, afirmou.
A presidenta comparou a ação do governo golpista de Temer à política arcaica da República Velha, em que os amigos do governo recebiam benesses, enquanto os adversários, penalidades.
“Não passar os R$ 17 milhões para a obra que beneficia a Paraíba é desvio de finalidade, é crime contra o povo da Paraíba. Isso é grave porque se fazem isso aqui na Paraíba, podem fazer em qualquer parte do país. Por isso é importante que fique claro que essa prática é antiga, se confunde com o Brasil atrasado, que nós lutamos para acabar. E estou hoje na terra dos homens e mulheres que lutaram contra a República Velha”, repeliu.
Dilma ressaltou a atuação republicana que tanto ela quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre tiveram, “mesmo com os nossos opositores”.
“Nós não governamos para três ou quatro pessoas, nós governamos para a população do país. Tirar R$ 17 milhões de uma obra fundamental para o povo de João Pessoa e da Paraíba é um desrespeito a essa prática republicana que é governar para a população e não fazer politicagem”, disse.
A presidenta eleita afirmou que fez questão de marcar presença no evento da Paraíba para ratificar a conquista pela democracia, lembrando que ela foi uma das mais duras vitórias a ser alcançada.
“Todos sabemos que nossa democracia foi conquistada com luta, com sangue derramado, com exilados, e tortura. A democracia foi um ato construído pelo povo brasileiro, sobretudo, nos últimos anos, garantiu para todos a possibilidade de falar o que pensamos, de defender aquilo que acreditamos, e ainda de escolher aquelas que nos representará. Esse processo hoje corre risco”, enfatizou.
Segundo ela, a inclusão social também está ameaçada com esse golpe. “Querem reduzir tudo, querem reduzir o SUS, querem acabar com Minha Casa, Minha Vida, querem reduzir os direitos individuais e coletivos.”
E completou: “Meu governo e o governo do presidente Lula sempre deram muita importância para o desenvolvimento do Nordeste e tivemos a compreensão que o Nordeste é uma área fundamental no território brasileiro, porque aqui tem uma parte trabalhadora, criativa, que representa 25% da população brasileira”.
E concluiu: “É fundamental resistir. Tenho orgulho do apoio que tenho recebido das mulheres e eu quero dizer que saberei honrar esse apoio”.