Arruda Bastos: Ministro ou Minister da Saúde

Por *Arruda Bastos

Ministro Ricardo Barros

Gostaria muito de não falar tão cedo do Ministro da Saúde, Ricardo Barros, haja vista que nos últimos dias escrevi três artigos tratando sobre este personagem. No primeiro, intitulado Ministro ou macaco em casa de louça, abordei suas primeiras e desastradas entrevistas; no segundo, denunciei que a proposta de Teto de gastos para Saúde é crime; e no terceiro, abordei que Ministro bundão tem medo do povão, quando da sua fatídica passagem por Fortaleza, na abertura do 32º Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde.

Infelizmente, o titular interino da saúde não tem jeito, não se recupera. Seu desempenho vai igual à cantiga da perua: de mal a pior! Nesta semana, por exemplo, foi divulgado na imprensa e nas redes sociais que ele negou apoio à padronização das carteiras dos maços de cigarro, o que, de forma inteligente, seria uma ferramenta para desestimular o consumo do fumo principalmente entre os jovens, livrando-os, assim, do risco desse terrível vício no nosso país.

Nas redes sociais, a Aliança de Controle do Tabagismo (ACTbr) produziu de imediato a imagem do Ministro da Saúde, Ricardo Barros, vestido na embalagem de um cigarro muito consumido nos meus tempos de juventude, o Minister. Eu, em alguns momentos, mesmo sem fumar, levava um vistoso maço no bolso com o objetivo, inocente e induzido pela vasta propaganda, de conquistar as garotas e passar uma imagem de rapaz, quando, na verdade, era ainda um brochote, termo utilizado na época. O termo caiu como uma luva no Ministro.

Diante do episódio do Ministro, vem à tona a pergunta que não quer calar: qual o motivo da defesa da indústria do tabaco? Como negar apoio à padronização dos maços de cigarro como forma de desestimular o consumo, uma vez que o tabagismo mata cerca de 200 mil pessoas por ano no Brasil, além de acarretar também um número ainda maior de sequelados pelo vício? São hipertensos, coronariopatas, diabéticos, vítimas de acidente vascular cerebral (AVC), câncer de todos os tipos e muitas outras mazelas. Todas elas ocasionadas pelas substâncias tóxicas do tabaco. No mundo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são mais de seis milhões de mortes anuais decorrentes diretamente do uso dos cigarros.

Pesquisando para escrever este artigo e tentar entender a atitude do Ministro, encontrei que a vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP) que, por coincidência é sua esposa, votou no passado a favor da indústria do tabaco pela liberação dos cigarros com sabor.

O uso de aromatizantes nos produtos derivados de tabaco, como substâncias de menta e cravo, é parte da estratégia da indústria do fumo para atrair jovens ao vício. Um verdadeiro absurdo, tendo em vista que atrai com esse artifício muitos que abominam o cigarro pelo seu sabor e cheiro, induzindo-os a passarem a associá-lo a algo prazeroso como uma guloseima ou perfume francês.

A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) destaca o potencial dos produtos de tabaco com embalagens neutras para reduzir a demanda pelo cigarro. Com o slogan “Prepare-se para as embalagens padronizadas”, a campanha do Dia Mundial sem Tabaco deste ano se concentrou em como esta medida elimina informação enganosa e aumenta a eficácia das advertências de saúde.

Estudos científicos mostram que a embalagem neutra é eficaz na redução da atratividade dos produtos de tabaco para os consumidores. Com o acondicionamento padrão e a restrição no uso de logotipos, cores, imagens de marca e informações promocionais em embalagens, o consumo deve diminuir.

O Ministério da Saúde divulgou nesta semana um estudo sobre o uso do cigarro entre jovens. A pesquisa constatou que 1,8 milhão de adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentou cigarro ao menos uma vez, o que representa 18,5% dos jovens nessa faixa etária em todo o País. Apesar do número ainda alto, o dado pode indicar uma tendência de queda na experimentação de cigarro entre os adolescentes do País.

Cabe agora às entidades e profissionais que combatem o tabagismo em todo o Brasil mobilizar-se ainda mais e, diante deste caso concreto, denunciar nas redes sociais e imprensa. Não podemos “dormir de touca” com tamanho despautério.

Para que não tenhamos de amargar, como em outras áreas da nossa atual política, um grande retrocesso, só mesmo colocando a boca no trombone. É só o que faltava agora, voltarmos, depois de muitos anos, a aumentar o número de fumantes no Brasil, e tudo para beneficiar as grandes empresas produtoras do cigarro. Só mesmo partindo de um governo ilegítimo e sem compromisso com o nosso povo.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.