2014: Eleições e retirada da Otan em ano afegão

Um longo processo eleitoral e a retirada das tropas de ocupação da Otan, foram os acontecimentos de maior relevância nos últimos 12 meses no Afeganistão, enquanto a insurgência em armas reforçou sua beligerância com os métodos mais diversos.

Ashraf Ghani Ahmadzai

Pela primeira vez foi permitido no país asiático campanhas publicitárias para os candidatos presidenciais para um exercício previsto para abril passado.

Era uma maneira de ocidentalizar uma escolha pela autoridade máxima em um país milenário que se regeu sobre valores alheios aos da ocupação da Força Internacional de Assistência para a Segurança (ISAF), liderada pela Otan e Estados Unidos.

Os comandos dessas tropas provenientes de uns 50 países se vangloriavam de uma estréia histórica no primeiro transpasso de mandato através das vias democráticas no país asiático.

O presidente Hamid Karzai, que estava 13 anos à frente do governo, primeiro imposto pela ocupação e depois eleito em dois processos duvidosos, não podia se candidatar a outro período, sob pena de violar a Constituição.

No início das eleições, o candidato Abdullah Abdullah teve quase 45% dos votos e superou com facilidade o candidato Ashraf Ghani Ahmadzai, que somou 31.

Como nenhum dos dois candidatos passou de 50%, a porcentagem necessária para vencer a eleição presidencial, houve outro turno em junho.

Contra esse segundo exercício foram registradas denúncias sobre manipulações fraudulentas, mas, em especial Abdullah que, em um primeiro relatório da Comissão Eleitoral Independente, saiu derrotado com quase 10 pontos porcentuais de desvantagem.

Observadores internacionais e integrantes dos partidos concursantes na disputa eleitoral, comprovaram as irregularidades e o encaminhamento foi uma revisão que semana após semana, adiava em dar os resultados.

Foi assim que interveio o secretário estadunidense de Estado, John Kerry, quem sugeriu um acordo entre Ghani e Abdullah, do qual saiu a presidência para o primeiro e um cargo de novo tipo, chefe de Executivo, para o segundo, que assumiram em setembro passado.

Ambos tinham se comprometido a selar um tratado de segurança com Washington que facilitaria a presença de militares estadunidenses, uma vez que se cumprisse em 31 de dezembro o prazo para a retirada dos soldados da ISAF.

Karzai se negou a selar esse convênio bilateral, apesar do sinal favorável dado pela Loya Jirga, isto é, do que se considera a maior expressão da vontade do povo afegão, integrada por idosos venerados, chefes tribais e líderes políticos.

Quanto à beligerância do movimento social, político e militar do Talibã, a insurreição não deu trégua às forças de ocupação nem às do exército afegão.

Com métodos que vão desde o assalto armado aos postos de controle, caravanas e quartéis até ataques suicida com bombas, os terroristas mantiveramos militares em xeque, sem que se vislumbre o fim de um conflito bélico iniciado em 2001.

No decorrer desse ano, a ONU adotou a resolução que permitiu a invasão do Afeganistão pela ISAF, que derrubou o regime do Talibã, mas dois anos mais tarde a Otan se apropriou desse mandato.

Os 13 anos de ocupação estrangeira deixam um saldo indesejado para a população local e para a comunidade internacional.

De 2001 aos dias de hoje, a produção de ópio e heroína, a partir da papoula, aumentou em níveis recorde.

Um relatório da ONU informou o Afeganistão recebe cerca de US$ 4 bilhões por ano pela venda ilegal de drogas. Um quarto vai para os cultivadores e o resto é repartido pelas autoridades locais, organizações irregulares, grupos armados e traficantes.

A produção de amapoula estimada em 2014 chegará a aproximadamente 6.400 toneladas, 17 pontos porcentuais a mais que as 5.500 do ano anterior, de acordo com um estudo do Escritório de Crime e Drogas das Nações Unidas em colaboração com o Ministério afegão de Luta contra os Narcóticos.

Segundo esse relatório, 90% da área cultivada está nas regiões ocidente e sul do país, sem que as autoridades possam impedir um adequado combate ao problema.

Na opinião do ministro afegão Mohamed Mubariz Rashidi, o processo eleitoral, de abril a setembro, e o aumento da beligerância insurgente propiciaram um crescimento da colheita e uma menor eliminação dos hectares cultivados.

Neste ano, indicou Mubariz, só chegaram a ser erradicados 2.692 hectares, 63% a menos do que em comparação com as sete mil 348 de 2013.

O relatório da ONU revela que, no período, as autoridades detiveram quase mil 500 narcotraficantes e destruíram 28 laboratórios.

Mubariz apontou que foram detectados governadores provinciais, chefes de polícia e outros servidores públicos vinculados ao tráfico de drogas.

O Afeganistão ocupa o primeiro lugar mundial no cultivo da papoula. Só em 2012, 75% da heroína que foi comercializada no mundo procedia dos laboratórios do país asiático.

Fonte: Prensa Latina