Publicado 30/10/2014 10:50 | Editado 04/03/2020 16:26
Ao ler o editorial de O Globo da última terça (“A mensagem das urnas”), não pude deixar de, num primeiro ímpeto, indignar-me ante a sordidez do seu conteúdo. Mas logo me recompus, e, louvado na história, vi que tal comportamento era próprio do caráter anti-Brasil que sempre marcou o jornal ao longo do tempo.
De fato, é bastante voltar algumas décadas para constatar com dados concretos que O Globo combateu exatamente os governos comprometidos com a construção nacional.
Pois bem, em 1952, tão logo Vargas tomou posse, o jornal iniciou feroz oposição contra ele; foi contra a lei de remessa de lucros, contra a Petrobras e a favor da tese de impeachment proposta pela UDN.
Adiante, contestou a vitória de Juscelino, defendendo a tese udenista da maioria absoluta. E, tão logo deflagrado o golpe civil-militar de 1964, tornou-se o seu fiel escudeiro.
Depois, deu o quanto pôde as costas para as “Diretas Já”, que já anunciava o fim da ditadura. E, nos últimos anos, tem usado e abusado dos mais baixos golpes para desqualificar os governos de Lula e Dilma.
Nestas eleições, a história se repete. Desta feita, com argumentos insustentáveis, insufla uma região contra outra, plantando a discórdia entre os brasileiros. A serviço de quê? Por que enfraquecer os laços que unem as regiões?
De início, é como se Dilma tivesse recebido votos de outro país. Ora, todos os que a elegeram são tão brasileiros quanto os que sufragaram o seu adversário, não importa o lugar do país onde nasceram. E pagam impostos como qualquer cidadão brasileiro.
A diferença é que, como a parcela maior incide sobre o consumo, a carga pesa mais nos ombros das classes de mais baixa renda, a maior parte, aliás, nordestinos. E mais: dado que o ICMS, de forma absurda, é cobrado majoritariamente na origem, e não no destino, isso prejudica os estados consumidores do Nordeste e beneficia, sobretudo, São Paulo, o principal estado produtor, que, em 2013, abocanhou 31% contra 16% do Nordeste.
O Bolsa Família, que se resumiria ao Nordeste, teria sido então o responsável pela derrota da oposição? Vejam só: São Paulo é o segundo estado mais bem servido com o programa; Minas Gerais, o terceiro.
E com que moral o jornal afirma que a situação semeou conflito? Que dizer da estranha e perfeita sincronia entre o calendário eleitoral e as denúncias seletivas de corrupção que pautaram o seu noticiário?
Para concluir, cito Durval Albuquerque Júnior: “O Nordeste é hoje um espaço diversificado do ponto de vista econômico, diverso do ponto de vista político, social e cultural, uma realidade complexa que não pode ser explicada lançando mão destes desgastados estereótipos construídos desde o princípio do século passado.
O Nordeste nunca teve e não tem o monopólio da miséria e da exclusão social, marca de toda a sociedade brasileira”.
*Cláudio Ferreira Lima é economista.
Fonte: O Povo