“O povo não é bobo, Aécio, e vai derrotar o retrocesso”, afirma Dilma
Encerrando uma das campanhas mais disputadas e agressivas da história do Brasil, aconteceu nesta sexta-feira (24) o debate entre a candidata Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves (PSDB), promovido pela TV Globo.
Da Redação do Portal Vermelho, Dayane Santos
Publicado 25/10/2014 03:17
Dividido em quatro blocos, o debate manteve o tom dos anteriores em que Dilma reafirmou seus compromissos de continuar avançando nas conquistas tendo o povo brasileiro, o trabalhador, como o centro das ações. E Aécio dizendo que vai manter o que o governo federal fez, mas com “aprimoramentos”.
Como era previsto, Aécio abriu o primeiro bloco de perguntas diretas falando sobre a fracassada tentativa de golpe da revista Veja, que em sua matéria de capa afirma ter tido acesso a um depoimento do réu Alberto Youssef, doleiro preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal, em que diz que a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula “sabiam” dos desvios na Petrobras.
A estratégia de Aécio foi a mesma usada pela Veja: tentar intimidar a presidenta e o conjunto das forças progressistas. Mas Dilma mostrou que quem tem a verdade não se intimida com bravateiros golpistas e, de forma serena e firme, respondeu: “Candidato, é fato que o senhor tem feito uma campanha extremamente agressiva contra mim e isso é reconhecido por todos os eleitores. Agora, essa revista que fez e faz sistemática oposição a mim faz uma calúnia, uma difamação do porte que ela fez hoje, e o senhor endossa com essa pergunta”.
Dilma se agigantou diante do tucano e completou: “Eu manifesto aqui a minha inteira indignação. Porque essa revista tem o hábito de nos finais das campanhas, na reta final, tentar dar um golpe eleitoral e isso não é a primeira vez que ela faz. Fez em 2002, fez em 2006, fez em 2010, e agora faz em 2014. O povo não é bobo, candidato. O povo sabe que está sendo manipulada essa informação porque não foi apresentada nenhuma prova”.
A presidenta reafirmou que vai à Justiça e que a revista terá de responder criminalmente pelas mentiras que propaga. “Ao mesmo tempo, eu tenho certeza que o povo brasileiro vai mostrar a sua indignação no domingo, votando e derrotando essa proposta que o senhor representa e que é o retrocesso no Brasil”.
Aécio saiu em defesa da Veja
“Não acredito que acusação à revista seja a melhor resposta”, disse o candidato tucano insinuando que Dilma estaria perseguindo jornalistas e censurando a imprensa. “Na minha vida política, na minha vida pública, jamais persegui jornalista. Jamais reprimi a imprensa. Tenho respeito pela liberdade de imprensa porque eu vivi os tempos escuros desse país… E acredito que a partir de segunda-feira vai desaparecer essa acusação. Agora, eu não vou deixar que ela desapareça. Eu vou investigar os corruptos e os corruptores e os motivos pelos quais isso chegou a esse ponto”, pontuou Dilma.
Na sua vez de perguntar, a presidenta abordou a questão do salário mínimo, resgatando uma declaração de guru econômico dos tucanos e nomeado pré-candidato a ministro da Fazenda – num eventual governo Aécio –, Armínio Fraga, em que diz que os salários dos trabalhadores brasileiros “estão muito altos”.
Sem citar sequer uma vez a palavra salário, muito menos abordar o assunto, Aécio disse que tem “orgulho enorme do meu candidato a ministro da Fazenda” e teceu comentários em defesa do mercado financeiro e dos investimentos, revelando o seu real compromisso. Finalizou retomando o discurso terrorista de “descontrole da inflação”.
Na réplica, Dilma cutucou Aécio dizendo que ele estava “mal informado”, porque quem deixou o país com uma inflação maior do que recebeu foi o governo tucano, do Fernando Henrique. “Além disso, candidato, eu queria dizer que nós criamos empregos e o senhor não pode questionar esse fato. São dados reais. Nós aumentamos o salário mínimo 71% em termos reais”, rebateu a candidata à reeleição.
Ainda respondendo o tucano, Dilma pontuou que, ao contrário de seu governo em Minas Gerais, o governo federal cumpriu as metas e aumentou os investimentos na saúde. “Quem não gastou o mínimo constitucional foi o senhor quando era governador, que ficou devendo R$ 8 bilhões”, enfatizou.
Perseguição contra os cubanos
Mantendo o clima de golpismo e resgatando a política de perseguição ideológica da ditadura militar, Aécio voltou a criticar as relações bilaterais com o governo de Cuba. Depois de criticar o Mais Médicos, que conta com a participação de mais de 14 mil profissionais cubanos, Aécio questionou a candidata sobre o financiamento brasileiro para a construção do porto de Mariel, em Cuba.
Apesar de na pergunta sobre salário mínimo ter defendido os mercados financeiros e não falar sobre a renda do trabalhador, o tucano, de forma demagógica, disse: “O seu governo optou por financiar a construção de um porto em Cuba, gastando R$ 2 bilhões do dinheiro brasileiro, do dinheiro do trabalhador brasileiro… O que o seu governo tem a esconder, candidata, em relação ao financiamento do porto de Mariel em Cuba?”.
“O meu governo, nada. Agora, acredito que o seu tem muito que esconder quando se trata dos gastos com publicidade, não claramente veiculados no que se refere aos jornais e a televisão da sua família”, rebateu Dilma, destacando que o governo brasileiro financiou uma empresa brasileira para a construção do porto de Mariel, tendo como garantia que todos os empregos gerados fossem para brasileiros. “Nós conseguimos gerar 156 mil empregos. E quero lembrar ao senhor, que também o governo Fernando Henrique financiou empresas brasileiras a exportar e a colocar produtos tanto na Venezuela quanto em Cuba. Então, eu não entendo o estarrecimento do senhor”, afirmou Dilma.
Ela ainda lembrou que quando o assunto é desemprego, os tucanos são especialistas. “Vocês deixaram o país com 11 milhões e 400 mil pessoas desempregadas. Candidato, era a maior taxa, só perdia para Índia, que tinha 41 milhões. Vocês bateram o recorde de desemprego, recorde de baixos salários”, lembrou a candidata.
Eleitores perguntam ao candidato
No segundo bloco, os candidatos responderam perguntas de eleitores. Num auditório em formato arena, os candidatos circulavam pelo palco mantendo o contato olho no olho com a plateia. O embate entre os candidatos foi menor, já que as perguntas tinham cunho propositivo. Mas quando uma eleitora de Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte, questionou os candidatos sobre o combate à corrupção, o clima voltou a esquentar.
Dilma reafirmou a proposta feita durante a campanha de tolerância-zero com a corrupção e disse que o foco de seu governo será o combate à impunidade, criando leis mais rígidas. “Nós vamos ter um conjunto de medidas para que haja a punição daquele que foi o corrupto e o corruptor, eu tenho orgulho de ter dado inteira autonomia, que não era dada nos governos anteriores, porque nomeavam afiliados de partidos para dirigir a Polícia Federal. A Polícia Federal no meu governo investiga”, pontuou.
Demostrando sua arrogância, Aécio resumiu a sua proposta de combate a corrupção em “tirar o PT do governo”. Na tréplica, Dilma reafirmou seu compromisso e destacou que Aécio representava um governo cuja “prática era engavetar todas as investigações”.
Fator previdenciário
Outro ponto alto aconteceu quando o assunto foi previdência. Aécio prometeu acabar com o fator previdenciário, mas Dilma lembrou: “Quem criou o fator previdenciário foi o governo do PSDB, sendo o candidato líder do partido no Congresso na época”.
A presidente afirmou que no seu governo foi feito um amplo debate com as centrais sindicais que chegou perto de um consenso sobre o fator, que é uma medida que reduz o valor das aposentadorias e aumento o tempo de contribuição. “Eu acredito que esse acordo é possível. Um acordo que resolva a questão criada pelo governo do PSDB”, pontuou.
A crise hídrica provocada pela gestão tucana foi abordada por Dilma no terceiro bloco. “Quem não planeja, candidato, não consegue enfrentar os desafios que ocorreram, principalmente em um governo. Eu queria saber como é que o senhor enxerga essa questão da água em São Paulo. Houve ou não houve falta de planejamento, candidato?”, questionou.
Aécio se esquivou dizendo que o problema era São Pedro que não colaborou e também culpou a presidenta pela falta de má gestão de Geraldo Alckmin em São Paulo.
“Nós somos parceiros do projeto do São Lourenço, que é o único que o governo do estado apresentou. Nós demos o dinheiro para fazer o projeto. E estamos financiando R$ 1,8 bilhão”, esclareceu Dilma, dizendo que o governo federal fez a sua parte e a responsabilidade da crise é do estado.
Dilma sobre falta d'água: É uma vergonha
“Candidato, não planejaram, no estado mais rico do país. É uma vergonha, é uma vergonha, candidato. Porque os estados do Nordeste estão enfrentando a mesma seca, e nenhum deles você tem um quadro com essa gravidade”, asseverou Dilma, citando ainda o colunista da Folha de S.Paulo José Simão. “Eu vou concordar com o humorista José Simão. Vocês estão levando o estado para ter um programa ‘Meu Banho Minha Vida’, é isso que vocês conseguiram”, disse.
Visivelmente incomodado, Aécio resolveu falar sobre a ação penal 470, questionando se o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, “foi punido adequadamente”.
Com firmeza, Dilma colocou o tucano no seu devido lugar: “Candidato, se o senhor me responder por que o chamado mensalão tucano mineiro não foi julgado, por que o senhor Eduardo Azeredo pediu renúncia do seu cargo para o processo voltar para a primeira instância, o senhor estaria sendo de fato uma pessoa correta…O senhor é o primeiro a falar em corrupção, mas eu posso enumerar todos os processos de vocês que não foram julgados e as pessoas estão soltas. O processo do Sivam, todos soltos. O processo da Pasta Rosa, todos soltos, o processo dos trens de São Paulo, todos soltos”.
Nesse momento, Aécio perdeu a pose de apresentador de telejornal golpista e na réplica ultrapassou o tempo permitido para a resposta. O apresentador Willian Bonner quis mostrar serviço e repetiu, depois de longos segundos, que o tempo do candidato havia terminado. Aécio continuou a falar, então a Globo foi obrigada a cortar o microfone. Descontrolado, Aécio continuou a falar, então foi a vez da plateia de convidados entrar em cena com vaias e aplausos.
Um futuro de esperança e de unidade
Nas considerações finais, Dilma destacou as realizações conquistadas nos últimos 12 anos de governos Lula e Dilma e conclamou os brasileiros a manter o Brasil no caminho certo.
“O Brasil que nós estamos construindo é o Brasil do amor, da esperança e da união. O Brasil da solidariedade. O Brasil das oportunidades… É um Brasil que quer crescer e garantir que todos, todos os brasileiros cresçam com ele. Eu deixo aqui a minha palavra: nós que lutamos tanto para melhorar de vida, não vamos permitir que nada nem ninguém, nem crise, nem pessimismo, tire de você o que você conquistou. O Brasil fez com que você crescesse e melhorasse de vida. Não vamos permitir que isso volte atrás. Vamos garantir que haverá um futuro conjunto, nosso, um futuro de esperança e de unidade”, finalizou a presidenta.