Cientista político prevê desaparecimento da Ucrânia como Estado
O cientista político ucraniano Rotislav Ischenko afirmou que o golpe de Estado perpetrado em Kiev desencadeou um processo incontrolável e irreversível de desintegração da Ucrânia como estado, unido a uma encarniçada luta pelo controle territorial.
Publicado 16/10/2014 16:38

Ao intervir na quinta edição da Conferência internacional de Yalta, Crimeia, Ischenko disse que qualquer outro enfoque sobre os acontecimentos em seu país está carregado de distorção política.
Na opinião do experiente analista, o processo começou a desenhar-se com clareza quando se separaram duas grandes áreas territoriais da Ucrânia – a Crimeia e sua capital, Sebastópol – das 27 regiões, e outras duas se declararam independentes (Donetsk e Lugansk), depois do golpe de Estado e da aberta intromissão do Ocidente.
Chamou a atenção aos focos de poder alternativo a Kiev surgidos na antiga Galítsia, no ocidente do país, particularmente em Lvov, Ternopol e Ivano-Frankov, onde reina, sem outra alternativa, o partido fascista Svoboda (Liberdade), um dos gestores do golpe de Estado de fevereiro passado.
As regiões de Dnepropetróvsk, Odessa, Zaporozhie e uma parte de Kherson e Nikoláiev encontram-se sob controle do oligarca Igor Kolomóiski, que abertamente tem dito que atua pelos requerimentos dos tempos de guerra, expôs Ischenko.
Kolomoiski financiou os batalhões especiais de limpeza no sudeste do país como Azov e Aidar, implicados no assassinato, desaparecimento e repressão de ativistas da resistência nos territórios ocupados.
Indicou o analista que nas regiões de Donetsk e Lugansk, onde as forças de Kiev levam a cabo desde meados de abril uma operação militar a grande escala, se acrescenta o movimento guerrilheiro e de libertação, denominado Novorossiya, com eco em Khárkov, Odessa, Zaporozhie, e inclusive em Dnepropetróvsk.
Segundo seu ponto de vista, a situação econômica da Ucrânia e do poder central, praticamente à beira da quebra, é vista como uma ameaça séria para muitas regiões.
Com a perda do Donbass e o colapso de uma grande parte da indústria no sudeste do país, o poder central perdeu as possibilidades de redistribuição dos recursos das regiões doadoras às receptoras.
Assim, a unidade formal da Ucrânia, em sua opinião, se suporta no prolongamento da guerra civil, a aglutinação das forças do Maidán em torno de um inimigo -que Kiev identifica como externo- e o não reconhecimento pela comunidade internacional do esfacelamento de um dos grandes estados europeus.
O subdiretor do Instituto de Investigações estratégicas de Rússia Mikhail Smolin esboçou, por sua vez, os traços e as principais tendências da ideologia do nacionalismo ucraniano, desmembrada sob o eufemismo de "ucrainstvo", equivalente à definição do ucraniano, cujo conceito considerou artificial.
A concepção atual desta ideologia centra-se na russofobia, como instrumento para mobilizar na sociedade ucraniana os ânimos negativos e uma rejeição à Rússia, apontou.
Identificou como outro rasgo peculiar desta corrente a glorificação do nazismo e os ideólogos do fascismo, componentes que fazem do nacionalismo ucraniano muito perigoso, advertiu o analista russo.
As migrações, os conflitos étnicos e o fator islâmico como um dos desafios da história moderna da Rússia foram outros dos temas discutidos na primeira jornada de trabalho da conferência de Yalta, que secionará nesta cidade balneário do mar Negro até o sábado.
Fonte: Prensa Latina