Ofensiva terrestre de Israel agrava destruição na Faixa de Gaza

A ofensiva terrestre lançada por Israel à Faixa de Gaza na noite desta quinta-feira (17) já resultou em mais de 20 mortes. Milhares de soldados invadiram o território sitiado e mais 18 mil reservistas foram convocados, com dezenas de tanques e navios na costa de Gaza, além de caças que bombardeiam o território há semanas. A presidenta Dilma Rousseff condenou a escalada e inúmeras organizações denunciam crimes de guerra perpetrados por Israel.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Faixa de Gaza - Mohammed Abed / AFP/ Getty Images

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, citado pelo jornal israelense Haaretz, alegou que a “nova fase” da operação “Margem Protetora”, assim oficializada em 8 de julho (embora bombardeios nas semanas anteriores já tivessem causado seis mortes), pretende destruir túneis supostamente usados pela resistência palestina para adentrar o território israelense em suas próprias operações.

A ação palestina na defesa de Gaza é classificada pelas autoridades de Israel e seus aliados no Ocidente como “atividades terroristas”, enquanto as cerca de 260 mortes entre os palestinos, em 11 dias da ofensiva israelense, são majoritariamente de civis, inclusive de dezenas de crianças. As autoridades por trás da ofensiva continuam impunes e recebem apoio criminoso de potências como os Estados Unidos.

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Entre os danos causados ao que Israel classifica de “infraestrutura do terror” (alegadamente locais de armazenamento de armas e de reuniões ou abrigo da resistência palestina), estão as casas de inúmeros civis, escolas, mesquitas e hospitais. Nesta sexta, o atribulado hospital al-Wafa foi destruído, enquanto pacientes e equipamentos eram salvos às pressas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. O grupo internacional Médicos pelos Direitos Humanos, que trabalha no território, havia escrito ao ministro da Defesa de Israel Moshe Ya'alon pedindo que detivesse os ataques contra o hospital, de acordo com o Haaretz.

Segundo a mídia internacional, os Estados Unidos instaram Israel a conduzir uma “operação precisa”, ignorando as denúncias diárias sobre as mortes de inúmeros civis e sobre os crimes de guerra que a ofensiva já perpetrou. A destruição deliberada de infraestrutura civil e o terror imposto aos palestinos da Faixa de Gaza continuam sendo abafadas. Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve reunir-se ainda nesta sexta-feira para discutir a recente escalada, com o anúncio israelense da ofensiva terrestre.

De acordo com a Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos para os refugiados palestinos (UNRWA), que atua em Gaza, cerca de 22.600 pessoas foram forçadas a deixar suas casas e estão vivendo nas escolas geridas pela agência, sem lares para onde voltar, destruídos completa ou parcialmente. O Exército israelense – que se promove como o "Exército moral" – continua propagandeando através das redes sociais e das páginas oficiais do governo as suas ações de "advertência", que incluem lançar panfletos desde aviões e anúncios de rádio ordenando aos civis que deixem suas casas prestes a serem bombardeadas.

A diplomacia da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) estimava, ainda na quinta-feira, que centenas de casas, mesquitas, escolas, hospitais e centros de saúde foram destruídos ou danificados. Segundo a UNRWA, dos serviços que gerencia, 79 escolas e 23 centros de saúde foram atingidos; 25 mil crianças precisam de apoio psicossocial especializado, traumatizadas pela ofensiva, e cerca de 900 mil pessoas estão sem abastecimento de água.

Cerco e terror contra a população de Gaza

A Faixa de Gaza é um território de 360 quilômetros quadrados em que habitam 1,7 milhão de palestinos (dos quais milhares já são refugiados), totalmente bloqueado por terra e por mar através de um estado de sítio imposto por Israel em 2007, como forma de “punição coletiva” – agravada pelas frequentes ofensivas – pela eleição do Hamas, partido islâmico classificado de “organização terrorista” pelas autoridades israelenses.

Tanques israelenses disparam contra a Faixa de Gaza ainda antes da
invasão terrestre, anunciada nesta quinta à noite. (Foto: Reuters)

A atual agressão já ultrapassou os marcos da ofensiva de novembro de 2012, em que cerca de 160 foram massacrados pelas forças israelenses, e inclui um passo de intensificação da violência, a invasão terrestre, inédito desde a operação Chumbo Fundido, que durou 22 dias, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 e matou 1.400 pessoas.

Os crimes de guerra denunciados no contexto atual são em maior parte idênticos aos identificados naquela operação, que foi investigada pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, cujo relatório pontuava diferentes violações do direito internacional humanitário em mais de 500 páginas de observação, mas foi ignorado. Entre as conclusões esteve a negativa da alegação israelense de que o Hamas usou civis como “escudos humanos” – o relatório concluiu que não havia evidências que sustentassem a acusação – e a de que bombardeios e ações terrestres foram ordenados e conduzidos em violação do direito internacional humanitário para a proteção da população civil.

O Ministério brasileiro das Relações Exteriores divulgou uma nota afirmando que o governo “rechaça” a atual incursão terrestre israelense e a considera um “grave retrocesso nos esforços de paz”, enquanto Dilma afirmou, nesta quinta, que se trata de uma  "medida que resulta em morte de mulheres, crianças e civis em geral, uma situação muito triste, para não dizer lamentável (…), porque estamos vendo pessoas perdendo a vida, saindo de suas casas.”

A presidenta já havia condenado a ocupação israelense da Palestina e a atual ofensiva em discurso na 6ª Cúpula do Brics, na terça-feira (15), posição em que foi acompanhada pelos outros líderes do grupo (composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em seus discursos e na declaração conjunta emitida no mesmo dia.