Ataque de paramilitares deixa cinco mortos no leste da Ucrânia
Cinco pessoas morreram em um confronto na madrugada de sábado (19) para domingo (20) na cidade de Slavyansk, no leste da Ucrânia, controlada por manifestantes contrários ao governo interino, instalado após o golpe recente. As mortes incluem três rebeldes e dois atacantes, que fontes locais acreditam ser do grupo paramilitar ultranacionalista e fascista Setor da Direita, que tem intensificado ações desde os protestos do fim do ano passado contra o governo constitucional.
Publicado 20/04/2014 15:26
De acordo com a emissora Russia Today, que cita manifestantes e testemunhas na região, os ataques foram dirigidos a um posto de controle instalado pelos rebeldes, próximo da cidade. Quatro carros avançaram e abriram fogo contra os residentes locais que estavam no posto, matando duas pessoas e ferindo gravemente várias outras.
“Eles aproximaram-se com o farol alto. Nosso homem foi até eles e pediu que não nos cegassem, mostrassem identificações e abrissem o porta-malas, para inspeção. Então, um rifle de assalto foi posto para fora da janela e [o homem que os abordou] foi atingido [pelo tiro],” disse uma testemunha no local à Russia Today.
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A testemunha enfatizou que algumas pessoas estavam tentando fugir quando os atacantes as atingiram pelas costas. Uma vítima dos disparos morreu depois, no hospital, devido ao tiro na cabeça, de acordo com fontes médicas. Duas outras ainda estavam sendo tratadas.
O posto de controle estava sob o controle de 26 civis armados com bastões, segundo a emissora. Sua falta de armas devia-se à “trégua da Páscoa” anunciada pelos líderes dos protestos e pelas autoridades do governo interino, para a redução das tensões. Entre as vítimas do ataque noturno está Sergey Rudenko, 53,que trabalhava como um condutor de ônibus escolar, de acordo com a sua esposa, em declarações à agência RIA Novosti. Ele vivia em uma vila próxima a Slavyansk e guardava o posto de controle com seus dois filhos adultos.
Enquanto os civis eram atacados, um grupo de 20 manifestantes com armas chegaram, desde a cidade. Eles abriram fogo contra os atacantes, matando dois e expulsando os restantes. Cinco atacantes foram feridos pelos rebeldes, de acordo com um líder dos protestos, Vyacheslav Ponomaryev. O Ministério do Interior confirmou as mortes nos confrontos, mas disse que tem informações apenas sobre três – duas entre os residentes locais e uma entre os atacantes. A identidade dos paramilitares ainda deve ser descoberta, segundo as forças de segurança.
Filmagens da região mostram armas de fogo, inclusive uma metralhadora, um dispositivo de visão noturna, fotos aéreas de Slavyansk, uniformes militares, ferramentas de acampamento e outros instrumentos usados por grupos paramilitares. Neste domingo (20), os residentes disseram que haviam detido um dos perpetradores que confessou ser do Setor da Direita, partido e coletivo paramilitar da extrema-direita fascista.
“O jovem se perdeu do seu grupo e estava tentando fugir de Slavyansk pegando carona até Kharkov,” disse um dos membros do grupo de autodefesa à agência RIA Novosti. O rapaz tem 22 anos de idade e disse ter chegado a Kiev para os protestos que ficaram conhecidos como “EuroMaidain”, em referência à praça onde se concentraram as manifestações que tomaram contornos fascistas e neonazistas, desde o ano passado, que incluíram a exigência de adesão à União Europeia e resultaram na derrubada inconstitucional do governo.
Também foi encontrado um medalhão com símbolos do grupo paramilitar do Setor da Direita, o que implicou o envolvimento do movimento radical no ataque. Entretanto, um porta-voz do partido negou a participação do grupo no ataque em Slavyansk, alegando que a responsabilidade é de “forças especiais russas”, em declarações à agência Reuters.
Em outro incidente no centro de Slavyansk, duas pessoas ficaram feridas durante a madrugada, depois de um grupo armado não identificado ter aberto fogo contra eles. Os dois jovens foram atingidos nas pernas depois de terem ignorado uma ordem para parar e tentaram fugir, de acordo com a RIA Novosti. A notícia não indica o que houve após os disparos, mas as duas vítimas estão no hospital, de acordo com a Russia Today.
Os líderes dos protestos contra o governo interino também estipularam um toque de recolher entre a meia noite e às 06h00 em resposta à violência da madrugada e pediram à Rússia que enviasse pessoal de manutenção da paz para proteger os cidadãos de mais ataques. A região é majoritariamente habitada por descendentes de russos.
O Ministério de Relações Exteriores da Rússia condenou a violência na madrugada deste domingo (20), voltando a afirmar que o episódio coloca em questão a capacidade do governo ucraniano de desarmar os grupos radicais.
Antecendentes das tensões e acordo internacional
Os manifestantes do leste da Ucrânia ocuparam prédios do governo em toda a região de Donetsk durante as últimas duas semanas, afirmando que as autoridades em Kiev são ilegítimas e pedindo um referendo para votar sobre a autonomia da região. Reivindicações similares são feitas em outras regiões do leste do país, inclusive pela federalização.
O governo interino lançou uma operação militar contra os que qualificou de “terroristas”, enviando tropas para a região de Donetsk. A opção tem sido inútil, até agora, e vários soldados acabaram mudando de lado, recusando-se a combater os manifestantes. O governo afirmou que julgará e punirá os que chamou de “covardes”.
Há indícios de que as autoridades em Kiev não têm tropas leais suficientes para desmantelar os protestos. No sábado (19), o Ministro do Interior convocou antigos membros da polícia antidistúrbios Berkut, que tinham sido classificados de criminosos pelo governo interino, para voltarem ao serviço contra o que alegou ser “uma invasão russa secreta”.
Uma missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) foi enviada à região após um acordo entre Rússia, Ucrânia, EUA e União Europeia, assinado na semana passada, em Genebra, Suíça, com enfoque para a diminuição das tensões. Um ponto chave no acordo é o desarmamento das milícias e unidades paramilitares no país, mas nem o Setor da Direita, outros grupos militares que protagonizaram a crise de EuroMaidan ou os grupos de autodefesa contrários, no leste, parecem querer tomar o primeiro passo.
Da Redação do Vermelho,
Com informações das agências