Confrontar duas potências é erro dos EUA, diz analista político
“Os Estados Unidos estão prestes a cometer dois pecados centrais em política externa: antagonizar duas potências simultaneamente”, afirma Ted Galen Carpenter, cientista político que escreve para a revista The National Interest. O autor refere-se, em artigo publicado nesta sexta-feira (18), às recentes fricções com a Rússia e com a China, ainda que em questões pontuais, mas de grande peso. Para ele, são temas que podem causar “grande dor de cabeça” para a Casa Branca.
Publicado 18/04/2014 13:38
Carpenter acredita que o governo do presidente Barack Obama precisa definir “prioridades mais coerentes.” O autor refere-se ao referendo popular na Crimeia pela independência em relação à Ucrânia e pela a reintegração à vizinha russa como “a invasão e anexação da Crimeia pela Rússia,” um recurso discursivo já patente que exime os Estados Unidos da ingerência imperialista na política ucraniana, em tom de Guerra Fria.
Entretanto, Carpenter coloca-se como um analista frio da situação e diz que, embora supostamente resultante da “invasão” russa, o governo estadunidense errou ao congelar suas relações com o governo do presidente Vladmir Putin.
Com isso, o autor ameniza a escalada real da retórica e da prática estadunidense, caracterizada não só pelos discursos acusatórios e agressivos – enquanto a sua própria ação no respaldo às forças fascistas que tomaram o poder de forma inconstitucional na Ucrânia ficou evidente – como, principalmente, pelo aumento da presença militar na vizinhança russa, para não mencionar as sanções impostas contra dezenas de autoridades da Rússia.
Além da “crise da Crimeia”, Carpenter lembra também as discórdias entre Putin e Obama na questão nuclear do Irã e no conflito na Síria, ambos redirecionadas pela Rússia no sentido da diplomacia, enquanto os EUA bradavam e ameaçavam com mais sanções, no caso de um, e uma intervenção militar, no caso de outro.
Com a China, as relações bilaterais também tornaram-se contenciosas, diz o autor, citando a recente visita do secretário de Defesa estadunidense Chuck Hagel ao país, com indicações de uma política de “contenção” da China, o que resultou em uma advertência firme do ministro chinês da Defesa, Chang Wanquan, de que os esforços dos EUA neste sentido não seriam bem-sucedidos.
Apesar dos apelos e das demonstrações frequentes da intenção da China de aproximação e de boas relações com os EUA, as autoridades chinesas ainda sublinham que esta política não avançará em detrimento da exigência de respeito à soberania e aos seus direitos de autodefesa e segurança, enquanto acadêmicos e formuladores de políticas estadunidenses avaliam o grau de competição do seu país com a China na região Ásia-Pacífico.
Além disso, reconhece Carpenter, a China tem se irritado cada vez mais com as posições dos EUA em várias questões, inclusive com a intromissão nas disputas territoriais, como no Mar do Sul e o do Leste da China. Da perspectiva de Pequim, ressalta o autor, os EUA têm se colocado em oposição às suas demandas e, de forma sistemática, ao lado do Japão e das Filipinas, entre outros, em suas disputas.
Para Carpenter, os EUA precisariam retornar a uma estratégia elaborada pelo antigo secretário de Estado Henry Kissinger, segundo a qual manteriam laços mais fortes com Pequim e com Moscou do que os laços que ambos mantêm entre si.
O que o autor perde de vista, entretanto, é que o isolamento dos EUA e o seu antagonismo com as duas potências acontecem em um mundo que tende ao multilateralismo, mas a sua academia e instituições políticas insistem na manutenção forçada da "hegemonia" inclusive à custa da diplomacia, confrontando a Rússia e a China através de um quadrado ideológico retrógrado que peca pela repetição da ingerência nos assuntos internos dos outros países e na disputa de braço por “influência”, leia-se, coerção.
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho