Democracia brasileira convive com resquício do autoritarismo

A democracia no Brasil ainda convive com resquícios do autoritarismo implantando na época da ditadura militar. Essa foi a impressão de grande parte dos expositores da mesa “Como foi realizada a transição do autoritarismo para a democracia na Bahia e quais suas consequências?”, realizada na tarde desta quinta-feira (27/03), durante o III Fórum do Pensamento Crítico, no Teatro Castro Alves, em Salvador.

Dirigente nacional do PCdoB e professor doutor em História Social, Olival Freire afirmou que o encontro é um local que reúne a memória e a história do povo baiano e que o tema da mesa é de grande atualidade, pois existe um sentimento nas pessoas de que a transição não tem sido satisfatória. “A lentidão dessa transição do autoritarismo para a democracia é muito presente na Bahia. Essa mudança foi e é realizada de forma atrasada no país e aqui o estado oligárquico ainda é forte”, declara.

Segundo Olival, a mudança no regime aconteceu, mas forças que apoiaram a ditadura militar se uniram aos movimentos populares e progressistas, o que resultou em grandes prejuízos para a sociedade. “Grande parte da mudança foi negociada por ACM, que até então era aliado do regime militar. Além disso, a transição não está completamente vencida, pois não é apenas política. Também é social.”

O dirigente afirma que a “lição que tiramos de tudo isso é que a batalha institucional é importante, mas temos o desafio na Bahia de aumentar a organização social e sindical, fortalecer os movimentos. Só poderemos mudar, de fato, quando reforçarmos a esquerda política liberal desse Estado. Essa é a minha esperança”, finaliza.

Exposições

Para o militante e ex-preso político, Pery Falcón, a ditadura foi a expressão de força da burguesia brasileira para impor a exploração aos trabalhadores. “A exploração se deu de forma direta, pois foi imposta pelos militares. Mesmo após tantos anos, ainda vivemos em estado de opressão e repressão na nossa sociedade”.

De acordo com o professor Antônio Câmara, só a partir de 1979 que o Estado começou a sentir um clima maior de liberdade e organização. “Foi preciso mais de 15 anos após o fim do regime para podermos eleger um representante do povo. Mesmo assim, o sistema repressivo ainda não foi desmontado no Brasil. Aqui na Bahia, a transição não foi completa. É só observarmos as forças políticas que ocupam o poder”.

Já o chefe da Casa Civil do Estado, Rui Costa, declarou que boa parte da estrutura dos grandes veículos de comunicação brasileiros são heranças da ditadura militar. “As retransmissoras da Rede Globo no Nordeste são resultados do que aconteceu no nosso país. São estruturas do poder da ditadura”. Waldir Pires, ex-governador da Bahia e atual vereador de Salvador, afirmou que a população tem o dever de organizar a democracia no Brasil.

O III Fórum de Pensamento Crítico teve início na última segunda-feira (24) e vai até amanhã (28), no Teatro Castro Alves. A iniciativa é promovida pelas secretarias de Cultura e Educação, com a presença de diversos parceiros.

De Salvador,
Ana Emília Ribeiro