Luciano Siqueira no JC: “Não é novidade a flexibilidade política”

 O vice-prefeito da gestão do PSB na Prefeitura do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB- foto), não se abala com a crítica nacional do seu partido à aliança Rede-PSB.

 

Em editorial no portal do partido, o PCdoB adjetivou a aliança Eduardo-Marina de “antiprogressista” e “alinhada a forças reacionárias”. Siqueira minimiza a “saia-justa”.

O PCdoB é aliado histórico do PT no plano nacional e, aqui, é alinhado ao PSB . Tranquilo, o comunista admite que a “flexibilidade” das forças políticas não é inédita. Na mesma proporção em que acaricia a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e o projeto de governo do PT, afaga o governador, do qual é um entusiasta.

JORNAL DO COMMERCIO – Em editorial, o PCdoB classifica a aliança PSB-Rede como "antiprogressista" e "alinhada com forças reacionárias”…

LUCIANO SIQUEIRA – Sei que quando jornalista escreve corre o risco de construir de forma a carregar nas tintas ou colocar expressões que possam gerar interpretação. Mas o essencial desse texto é que há um fato novo no País e, segundo, que o projeto da Rede está temporariamente adiado e a sua líder maior – que adota posições à direita, contra os partidos, contra sindicatos, etc. – deu declarações claras de combate ao atual projeto em curso, focando no PT.

JC – Isso não reforçaria que o fator Marina contribui para colocar o projeto de Eduardo no caminho oposto ao do PT?

SIQUEIRA – O governador, de maneira muito sábia, tem dito que tem consciência das diferenças e que vai tentar explorar as convergências. O fato de ela se aliar a um aliado nosso, a um partido de relação e confiança mútua, não nos impede de criticar as opiniões que ela externou. (…) A Marina que ingressou no PSB é de oposição.O PSB que a recebeu faz parte da base. Como isso vai se desdobrar? É da economia interna do PSB.

JC– Então o projeto presidencial PSB-REDE não é de oposição?

SIQUEIRA – Isso não posso afirmar. Não tenho certeza, ainda não está claro. Prego a paciência, tolerância, tem muito chão pela frente.

JC – Só que o governador tem feito discursos dizendo que é preciso “sepultar a velha política”, que no caso, seria o governo atual, no comando do PT…

SIQUEIRA – Não acho que seja o PT, é a velha política que foi derrotada em 2002. De lá para cá é a nova política, de enfrentamento da desigualdade social, da soberania brasileira.

JC – Eduardo diz também que a união PSB-REDE quebra “uma falsa polarização que precisa ser quebrada”, referindo-se ao PT-PSDB.

SIQUEIRA – Respeitamos a opinião de Eduardo, mas a compreensão dessa questão nacional é diferente. Não colocamos a polarização em termos de siglas. Há uma polarização entre o novo projeto nacional de desenvolvimento que tenta se construir desde o primeiro mandato do governo Lula e um modelo que foi derrotado no pleito de 2002. O que vai polarizar não são as siglas, mas a discussão em torno dos projetos concretos, de superação do neoliberalismo, que prevaleceu de Collor a FHC, que é uma construção que tem participação importante do PSB.

JC – Mas não dá para negar que o projeto pós-2002 tem o PT no comando e antes tinha o PSDB, com FHC…

SIQUEIRA – Isso não é o essencial. A diferença é que até FHC o valor do salário mínimo era 72 dólares e o de Dilma é mais de 300 dólares. Quando Lula começou a governar éramos dependentes da Europa e Estados Unidos. Em 10 anos, diversificamos e estamos sobrevivendo à crise global, porque temos uma política externa e econômica independente. Identificamos grandes avanços, a nossa luta é para dar continuidade a essa transição em curso, que ainda está em construção, de projeto de País.

JC – O cenário atual da Frente Popular não é mais de união. O senador Armando Monteiro (PTB) disse que as forças tentem a dividir para 2014…

SIQUEIRA – É possível que isso aconteça, existe uma postulação clara e legítima do PTB de ter seu candidato e abertamente colocando em apoio à presidente Dilma. E na hipótese de existir as candidaturas de Eduardo e Dilma, é claro que essas forças não estarão juntas, pelo menos, no 1º turno. Isso não é um fenômeno pernambucano. Partidos podem estar juntos para presidente e separados para governador.

JC – Como fica o PCdoB para 2014, com as possíveis candidaturas de Eduardo e Dilma?

SIQUEIRA – O PCdoB se pronunciará no momento que for adequado. Há oito anos, quando Humberto Costa e Eduardo Campos eram candidatos ao governo, Lula frequentou a campanha dos dois, essa flexibilidade também não é uma novidade.

JC – Mas o PCdoB é aliado histórico do PT…

SIQUEIRA – Estamos tranquilos. A um ano das eleições, oito meses das convenções, acontece muita coisa. Agora, as nossas relações com o PT e PSB prosseguem, porque somos aliados do PT desde a primeira tentativa de Lula, apoiamos o programa de governo da presidenta Dilma. Mantemos também com o PSB uma aliança estratégica, que não é de agora, e portanto não há razão para não continuarmos com esse relacionamento.

Entrevista concedida à repórter Carolina Albuquerque, do Jornal do Commercio