Sem categoria

J. Quartim: A luta pela cultura socialista

É importante que as Teses levem em conta a dimensão cultural do combate socialista.
Por João Quartim de Moraes*

Nos §127 e 128, que fazem parte do tópico Mais Democracia (tema I), está pertinentemente assinalado que “há no Brasil um monopólio privado que se apoderou do domínio público da informação – pilastra fundamental do Estado. Tal fato é uma barreira para o aprofundamento democrático, pois o direito da sociedade à informação e à comunicação plural é mitigado, e restrito, porque os grandes meios de comunicação (“as grandes redes de televisão e rádio, a imprensa e os maiores portais da internet”) estão sob controle de monopólios, propriedades de algumas famílias ou grupos”.

A base econômica dessa posição monopolística é a concentração do capital nos grandes aparelhos mediáticos. Mas suas consequências mais perversas são politicas e culturais. O §128 observa, também pertinentemente, que os grupos monopolistas julgam que podem “tutelar a opinião pública, controlar a subjetividade popular com manipulações e abordagens unilaterais e parciais dos fatos”. Embora insuficiente para barrar grandes movimentos de massa animados por um consenso firme e generalizado (como ocorreu na campanha pelas Diretas Já!, escandalosamente ocultada pela TV Globo), a repetição diuturna da lavagem cerebral, visando a desqualificar o pensamento avançado e o combate por transformações sociais, tem eficácia considerável na massa de ouvintes ou leitores desprovidos de perspectiva crítica. Caberia acrescentar que se no curto prazo estas manipulações têm eficácia política, a médio prazo, ela inculca valores conformistas e individualistas, notadamente a admiração acrítica pelo chamado “primeiro mundo”, a admiração ingênua pelos “ricos e famosos”, erigidos em paradigmas do sucesso etc.

Daí a impostergável necessidade de reforçar nosso combate por uma cultura democrática, em que predomine o interesse público sobre o privado, e pelos valores socialistas. Dispomos de bons instrumentos para esse combate, a começar da FMG e do Vermelho, mas eles são evidentemente limitados perante a vastidão das tarefas a enfrentar e das metas a atingir. Dentre estas metas, podemos desde logo ressaltar:

a) O progresso da presença e consequentemente da influência comunista nos meios intelectuais e artísticos

b) O esforço rumo à criação de um jornal popular de âmbito nacional. Bem sabemos que essa tarefa é enorme e exige uma concentração de recursos humanos e materiais que talvez não esteja ao nosso alcance no curto prazo. Mas o primeiro passo é inscrever esse objetivo em nosso projeto partidário.

c) A defesa sistemática e permanente da cultura nacional, em todas as suas dimensões, notadamente a de nosso idioma, agredido pela importação acrítica e servil da linguagem do Império hegemônico, e a da personalidade histórica de nossa nação. Essa defesa nada tem a ver com a retórica ufanista. Ela valoriza a identidade coletiva de nosso povo e sua contribuição original à cultura universal. É justamente ao aprofundar essa identidade que seremos concretamente internacionalistas.

*João Quartim Moraes é militante do PCdoB São Paulo.