Paulo Reims: E o capitalismo?
É um termo muito pesado para consciências sensíveis, pois traz em seu bojo muita miséria, violência e morte. É um sistema político-econômico causador de muita exclusão e desigualdades sociais extremas. Pode variar de país para país, mas no sistema capitalista, ou liberal, os bens de produção são de propriedade privada.
Por Paulo Reims*
Publicado 20/09/2013 15:40
Tomando o Brasil como exemplo de uma sociedade capitalista, fica mais fácil entender: os maiores latifundiários, as grandes empresas, também a imprensa e bancos estão nas mãos de poucas pessoas, que fazem deste país um dos mais desiguais do mundo.
Esta pequena elite, ou oligarquia, é tão forte que, na verdade, decide também politicamente; ou melhor, nos bastidores dos poderes constituídos, eles mandam. E quem tem "juízo”, obedece. As ditas autoridades constituídas viram fantoches em suas mãos. Desta forma, podemos entender porque algumas pessoas são julgadas e condenadas, e outras, por crimes maiores, nem julgadas são. Enfim, os detentores do poder econômico detêm todo e qualquer outro poder. É um sistema diabólico. Tanto que é costume dizer: se o socialismo é um bicho de sete cabeças, o capitalismo é um monstro de 666 cabeças. Este monstro faz o quer, quando quer, como e onde quiser, desde que seja para aumentar seu poderio, em detrimento de qualquer direito e dignidade dos seres que lhes devem estar submissos.
A revista americana ‘Forbes’, do dia 9 de setembro passado, traz as 124 pessoas mais ricas do Brasil que juntas acumulam um patrimônio equivalente a R$ 544 bilhões, cerca de 12,3% do PIB, o que ajuda a entender porque nosso país é considerado um dos mais desiguais do mundo. A maioria das fortunas corresponde a membros de famílias que dominam empresas de setores como mídia, bancos e alimentação.
O mais grave desta abissal disparidade entre pobres e ricos está na falta de consciência de que esta estratosférica riqueza poderia tirar milhões da miséria, o que, por sua vez, gera tanto sofrimento, fome, violência…
Cerca de 41,5% das rendas, muitas ainda advindas de trabalhos sob regime de escravidão, se concentram nas mãos de 10% mais ricos, segundo dados do censo de 2010, enquanto metade da população vivia, neste ano, com renda per capita de menos de R$ 375,00. São índices que revelam graves anomalias de um sistema iníquo.
Segundo o jurista Fábio Comparato, a civilização capitalista deve enfrentar, embora não de imediato, o seu fim. Dará lugar, segundo ele, a uma civilização humanista, gestada há três séculos em seu interior.
Neste novo mundo, continua dizendo, a comunidade global ditará as normas e não haverá espaço para soberanias. É consenso mundial que para salvar a humanidade temos de nos encaminhar para a construção de um regime político mundial, no qual não haja mais soberania de Estado, mas da humanidade.
Embora esta transição tenha que continuar a ser gestada, creio que a gestação tem que necessariamente ter a participação do povo, processo negado dentro do sistema capitalista, mesmo ostentado a bandeira da democracia.
Os movimentos sociais e ONGs, comprovadamente sérias, têm papel preponderante neste momento histórico, pressionando os governos para que o povo tenha acesso à educação em todos os níveis e com boa qualidade, para que possa efetivamente contribuir neste processo de gestação da civilização humanista. Pois um contingente muito grande de povo, olhando a partir do nosso país, reza pelas cartilhas da grande imprensa que manipula as consciências.
O regime humanista deverá suceder o regime capitalista que põe o interesse privado acima de tudo.
Todo ser humano, e cada uma das pessoas, deve ocupar o espaço hoje ocupado pela ganância do ter sempre mais, em detrimento do ser. A criação como um todo deve ser o centro das atenções e dos cuidados. O criador deve ter uma "carta na manga” para salvar este planeta, mas ele não a jogará sem perceber que, com sinceridade, os seres humanos querem com ele jogar pelo bem comum. Desta forma, se faz urgente e necessário que uns mudem de mentalidade e outros tirem as viseiras.
Fonte: Adital