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O Facebook busca uma porta de entrada na China

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, estabeleceu para si um novo desafio: 1 bilhão de internautas conectados em sua rede social. E para atingir esse objetivo, é difícil não estar presente na China. O portal chinês Sohu afirmou, na segunda-feira (11), que a empresa californiana havia fechado uma parceria com o Baidu, líder dos sites de busca na China, para entrar nesse mercado estratégico.

por Laurence Girard e Harold Thibault para o Le Monde

Em 8 de abril, Hu Yanping, diretor da consultoria Centro Chinês de Dados na Internet, escrevia em seu microblog: “O Facebook está realmente a ponto de entrar na China”. Essa chegada tomaria a forma de uma parceria com um ator local da Web. Hu se recusa a dar mais detalhes. A célebre rede social americana deverá criar um novo produto próprio para o mercado chinês em colaboração com o Baidu, segundo artigo publicado pelo Sohu, citando anonimamente funcionários do Baidu. O porta-voz do Baidu se recusa a comentar aquilo que ele chama de “aparentes rumores”.

O Facebook não parece ter muito mais pressa para comentar o assunto. No entanto, ele reconhece que estava “procurando saber mais sobre a China, a fim de determinar qualquer aproximação que beneficie ao mesmo tempo os usuários, os desenvolvedores e os anunciantes”. “Acreditamos que o Baidu propôs ao Facebook uma cooperação para lançar um serviço de rede social na China”, explica Mark Natkin, diretor-geral da Marbridge Consulting, uma consultoria especializada em internet na China.

Concretizando-se ou não a parceria, foi mostrado o interesse do Facebook pela China. Zuckerberg esteve no país em dezembro de 2010, oficialmente em “férias”, durante as quais ele encontrou as equipes do Sina, fundador da gigante chinesa do comércio online Taobao, e Robin Li, presidente do Baidu. Em fevereiro, o Facebook abriu escritórios comerciais em Hong Kong, onde não ocorre a filtragem de Pequim, para “continuar a construir sua presença na região”.

A rede social na verdade foi bloqueada pela “grande muralha” da censura desde julho de 2009, após a repressão anti-uigures feita por Pequim na região de Xinjiang. Antes, ela era popular somente junto a um público de chineses abertos para países estrangeiros e de expatriados. A proibição atinge também o serviço de microblogging Twitter e a plataforma YouTube.

Concorrência feroz

A tarefa é árdua para os gigantes americanos da Web, pois muitos quebraram a cara na China. Essas empresas “foram afetadas pelas restrições políticas e não entenderam bem o mercado chinês, a vontade dos clientes, mas também a gestão empresarial”, explica Cao Di, analista da iResearch em Xangai. O Google não havia conseguido conquistar mais de um terço de seu mercado antes de seus reveses com as autoridades. Em janeiro de 2010 o motor de busca ameaçou retirar-se do país, mas depois encontrou uma solução, ao redirecionar as buscas da China continental para seus servidores em Hong Kong, onde não ocorrem os bloqueios. O Google novamente denunciou, no dia 21 de março, ataques “governamentais” de um novo tipo contra seu serviço de e-mail Gmail, provocando lentidões “cuidadosamente concebidas” para parecer que o problema vinha de seus serviços. Há mais de um ano o Baidu vem reforçando suas posições: 86% das buscas de internautas chineses passavam por seus serviços no final de 2010, segundo o iResearch.

A concorrência dos atores locais é feroz. Quase todas as empresas do Vale do Silício encontram ali seu alterego. O eBay teve de abandonar suas ambições frente ao rolo compressor Taobao (grupo Alibaba). O site, que percebeu que os novos consumidores chineses não gostavam nem dos leilões, nem de produtos usados, concentraria 75% do comércio online. O Google foi aniquilado pelo Baidu.

Assim, o Facebook deverá duelar com uma concorrência múltipla. Renren, a rede social pertencente à Oak Pacific Interactive (OPI), se aproxima bastante do conceito americano. Ele também precisa contar com o grupo Tencent, cujo serviço de mensagem instantânea QQ tem um tremendo sucesso com suas comunidades, especialmente de videogames. O Twitter tem um equivalente no portal Sina: o Weibo assumiu 56% do mercado de microblogs desde sua criação em 2009. Já o site americano de compras coletivas Groupon tem milhares de clones chineses – sendo que um deles registrou a marca groupon.cn!

O Groupon entrou no mercado chinês em março, com a marca Gaopeng. Uma iniciativa que ele tomou com uma parceira local, Tencent, que é uma de suas acionistas. Essa empresa, criada há dois anos, tem apostado em um desenvolvimento acelerado e está atacando a reserva de internautas chineses.

Uma análise compartilhada pelo Facebook, que está de olho no mercado da publicidade online. Avaliado em US$ 3,7 bilhões (R$ 5,9 bilhões) em 2010 pelo eMarketer, ele deverá dobrar de valor até 2013. Mas para se impor, o Facebook deverá se submeter às exigências do “ministério da verdade”, apelido dado pelos internautas à censura.

Tradução: Lana Lim/UOL Internacional