Península da Coreia: Norte não responde a provocação do Sul
A República Popular Democrática da Coreia recusou-se a responder às manobras militares provocatórias da Coreia do Sul, e aceitou o regresso de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao país.
Publicado 23/12/2010 15:28
No dia em que a Coreia do Sul levou a cabo exercícios militares na ilha de Yeonpyeong – palco de uma troca de tiros entre os dois países em conflito, iniciada por Seul, no passado dia 23 de novembro –, o comando das forças armadas da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) comunicou que não valia a pena retaliar contra mais uma "provocação militar imprudente".
Em nota divulgada pela agências de notícias KCNA, a RPD da Coreia demonstrou contenção perante as manobras agressivas de segunda-feira, que ameaçaram mergulhar a península coreana numa nova guerra e toda a região numa espiral de violência de consequências imprevisíveis.
Tal resulta claro quando, apesar de reiterados avisos por parte de Pyongyang, o regime sul-coreano decidiu levar por diante acções com fogo real nas águas em torno da ilha. Os exercícios envolvendo uma dezena de navios de guerra, vários caças de combate e artilharia pesada, perduraram por cerca de uma hora e meia ao largo do Mar Amarelo, zona de fronteira marítima não reconhecida pela Coreia do Norte.
No final, como corolário da operação, o Estado Maior sul-coreano concluiu que a iniciativa decorreu "sem provocações da Coreia do Norte".
Ouvidos moucos
Para além de ter feito tábua rasa dos apelos de Pyongyang, a Coreia do Sul fez ainda ouvidos moucos aos pedidos da Rússia e da China para que renunciasse aos jogos de guerra. "A paz e a estabilidade devem ser mantidas na península" e "ninguém tem o direito de provocar uma guerra", advertiu a diplomacia chinesa, posição secundada pelos homólogos russos que consideraram os exercícios com munições verdadeiras uma "ameaça".
Para Pequim e Moscou, a exibição militar só servia para elevar o risco de um confronto, enquanto que para os EUA o seu aliado não pode renunciar ao direito de efectuar tais manobras.
Esta divergência de interesses prolongou-se na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que, no domingo, foi convocada de emergência para avaliar a situação. Enquanto que norte-americanos defenderam uma condenação da Coreia do Norte por parte daquele órgão, a China opôs-se a tal decisão, chegando mesmo a vetar o texto apresentado por Washington.
Em nome dos EUA, a embaixadora Susan Rice avaliou o sucedido acusando a RPDC de "comportamento provocador". Isto é, para os EUA, na véspera da Coreia do Sul realizar manobras militares numa zona disputada, quem assume um "comportamento provocador" é a Coreia do Norte.
Entretanto, o governador do estado do Novo México e ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU, Bill Richardson, garantiu à CNN que o governo de Pyongyang vai permitir o regresso dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atômica ao complexo nuclear de Yongbyon. Richardson deslocou-se à capital norte-coreana na passada quinta-feira.
Obstáculos à paz
No mesmo dia em que reunia o Conselho de Segurança da ONU, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPDC emitiu um comunicado no qual acusou os EUA de serem "os principais culpados pela sistemática violação de todos os acordos internacionais voltados para a paz e a estabilidade na Península Coreana".
No texto publicado na íntegra pelo Portal Vermelho, a RPDC esclarece que os norte-americanos colocam todo o tipo de obstáculos e condições "transformando em ilusão as iniciativas de diálogo" e fomentando "o clima bélico". O governo norte-coreano diz que tal impede o país de se concentrar na reconstrução económica do território.
Para Pyongyang, acrescem as "intrigas" e a imputação de responsabilidades à Coreia do Norte, nomeadamente em relação à suspensão do diálogo por alegada violação dos acordos internacionais e acções provocatórias, o que, argumentam, não é verdade.
Foram os EUA quem deslocou material de guerra para a Coreia do Sul, incluindo armas nucleares, "violando flagrantemente o Acordo de Armistício"; quem não implementou a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que ordena a substituição do armistício por um tratado de paz; quem inviabilizou os textos subscritos pelas partes em 1993, 1994, 2000 e 2005, esclarecem.
Agrega, segundo a RPDC, que os sucessivos governos norte-americanos questionam sem qualquer fundamento o programa nuclear norte-coreano, o qual, insiste Pyongyang, tem fins pacíficos. Tal só adensa o clima de desconfiança e ameaça, para além de ir contra o direito internacionalmente reconhecido de qualquer país desenvolver capacidade nuclear para produção de energia.
"Todos estes fatos mostram claramente quem quer o diálogo e a paz e quem deseja a confrontação e o clima de guerra na Península Coreana. Partindo do desejo de prevenir a guerra e conseguir a desnuclearização da Península Coreana, apoiamos todas as iniciativas de diálogo, inclusive as conversações, mas nunca a mendigaremos", conclui o documento.
Fonte: Avante!