Trens da CPTM transformam cidadãos em passageiros da agonia
A estação Francisco Morato, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na Zona Oeste, às 6h23 da manhã, está lotada. Parada obrigatória para quem vem de Jundiaí, Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista e Botujuru e está a caminho da capital, ela passa por obras de ampliação e modernização – o percurso de Jundiaí até Morato tem 21,5 quilômetros e dura 35 minutos.
Por Leonardo Brito, na Rede Brasil Atual
Publicado 22/12/2010 15:34
Na plataforma, o empurra-empurra leva alguns passageiros além da linha de segurança amarela. Estreita e perigosa, qualquer esbarrão mais forte pode ser fatal. Edilson José, 43 anos, funcionário das Casas Bahia de Pirituba, ensina: "Somente se enfiando nesse tumulto, você consegue espaço para entrar no vagão”.
O trem chega. Apinhado. Ninguém respeita o desembarque dos passageiros, pois o medo de que ele feche as portas e vá embora antes de conseguir entrar é maior. Há uma surda batalha entre quem quer sair e quem quer entrar. Neuza Fernandes, 72 anos, aposentada, desce do trem indignada: “Que falta de educação, as pessoas não respeitam nem os idosos”.
A cada nova estação, mais sofrimento. As pessoas conseguem embarcar mesmo já não havendo espaço para mais ninguém e o trem segue explodindo de gente até a estação Palmeiras/Barra Funda.
Trem e metrô, a dose dupla
Entre 2007 e 2010, o número de passageiros naquele trajeto aumentou de 2,3 milhões para 5 milhões, com a junção de CPTM e Metrô. Em 2009, 75 trens foram incorporados à frota – 44 do Metrô e 31 da CPTM – e outros 34 foram reformados.
Depois do sofrimento enfrentado nas estações e composições da CPTM, o esgotamento do sistema fica claro na plataforma da Barra Funda: o sufoco de ter de enfrentar outra fila, a do Metrô, é pior.
Cadeirante no trem
A multidão empurra todos para dentro dos vagões. Carolina Ferreira, 36 anos, dona de casa e mãe de Guilherme Ferreira, 8 anos, estudante e deficiente físico, tem o olhar apreensivo, pensa em como irá embarcar o filho e sua cadeira de rodas. Ela procura um espaço nos vagões destinados às pessoas com deficiência, o primeiro e o último.
O menino tem consulta com hora marcada no hospital que fica próximo da estação Carrão, do Metrô. Depois de perder dois trens, um passageiro solidário comunica aos seguranças da estação que ela está com dificuldades para embarcar. Os seguranças afastam as pessoas e, enfim, embarcam mãe e filho. “Faço essa maratona sempre que ele tem de ir ao médico, porque em Morato não tem hospital (apropriado para o tratamento)” – explica Carolina.
Dentro do trem, as pessoas se juntam, se espremem. Cada um se encaixa como pode. Quem vai descer logo fica bem perto da porta, abraçado à barra de ferro do vagão. Todos seguem sem alegria no rosto. Muitos viajam com fones no ouvido ou lendo um livro. Daniel Moreira, 24 anos, estudante de administração, explica por que suporta o trem . “Não tenho carro, e ir de ônibus para o centro da cidade talvez fosse pior. O percurso é angustiante, mas fazer o quê? É o que temos” – relata.
Ao chegar à estação Carrão, Carolina desce com Guilherme na cadeira de rodas e segue sua maratona até o hospital, talvez esperando que a volta seja menos angustiante.