Relações Venezuela-EUA: soberania versus ingerência
A defesa da Venezuela de sua soberania e a ingerência dos Estados Unidos continuam marcando as relações bilaterais, as quais podem sofrer uma escalada em seu deterioramento, se Washington seguir com atitudes hostis.
Publicado 20/12/2010 11:37
Nas últimas semanas surgiram novas evidências da agressividade da nação nortenha, que vão para além das tradicionais declarações de funcionários ou diplomatas.
Primeiro, em meados de novembro, aconteceu o evento acolhido pelo Congresso estadunidense sob o nome de Perigo nos Andes: ameaças à democracia, os direitos humanos e a segurança interamericana.
O encontro no Capitólio contou com o patrocínio de congressistas republicanos e democratas, anfitriões da ultra-direita latino-americana e de ex-membros da administração de George W. Bush, como Roger Noriega e Otto Reich, ambos com um longo e violento histórico no hemisfério.
Tão representativo encontro – qualificado por alguns como sabático – teve um objetivo claro e nada oculto de frear os processos de mudanças na região, com particular ênfase na Venezuela.
O fórum representou também um ataque direto contra a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, bloco integracionista formado por Antigua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Equador, Nicarágua, San Vicente e Granadinas e Venezuela.
Pouco depois, Julian Assange e seu controvertido portal Wikileaks vazaram várias notícias que não deixam dúvidas da pretensão de Washington de isolar Caracas.
Para o presidente Chávez, o site veio confirmar o que ninguém nunca duvidou, o papel das embaixadas norte-americanas na espionagem e na tentativa de dividir ou semear discórdia. "Wikileaks deixou o império nu", sentenciou o mandatário.
Com semelhante cenário ainda quente, chegou um novo episódio de ingerência.Trata-se do caso de Larry Palmer, a quem o presidente estadunidense, Barack Obama, designou embaixador na Venezuela. Apesar da negativa de Chávez de aceitá-lo, a Casa Branca fez questão de enviá-lo.
Se o Senado aprovar a nomeação nos próximos dias, Palmer viajaria a Caracas, disse nesta quinta-feira o sub-secretario de Estado para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela. A postura desafiante de Washington recebeu uma contundente resposta de Chávez. "O senhor Palmer aqui não entra (…). Se vier terá que ficar no aeroporto de Maiquetía", advertiu.
De acordo com o líder socialista, os Estados Unidos dá assim uma mostra a mais da prepotência e do comportamento ingerencista. "Ratifica sua linha histórica de intervencionismo e agressão contra o povo venezuelano, suas instituições e sua democracia", apontou.
Chávez descredenciou Palmer, por desrespeito à soberania nacional, depois que o político afro-americano emitiu em junho, durante uma audiência parlamentar, questionamentos à moral das Forças Armadas Bolivarianas e seus generais.
"Palmer desabilitou-se ele mesmo, com seus desejos de ganhar aplausos no Congresso, e os Estados Unidos deveriam buscar outro candidato", afirmou umas semanas depois. Desde então, o tema pesa nas já tensas relações bilaterais, suscetíveis a piorar pelo próprio assunto diplomático.
Radicalizar a revolução
No último domingo (19), o presidente venezuelano reiterou seu chamado a radicalizar a revolução em marcha, como único caminho para deixar para trás as injustiças e desigualdades sociais. "Temos que radicalizar a revolução democrática e isso implica uma verdadeira e socialista ousadia", escreveu em seu espaço dominical Las Líneas de Chávez.
Para o mandatário, no centro do aprofundamento devem estar os setores populares com suas exigências e críticas. "Hoje mais que nunca o povo questionador, de suas angústias acumuladas por infinitos atropelos, é a pedra angular de nossa revolução", sentenciou.
Chávez convocou à radicalização para responder assim às expectativas dos mais necessitados. "Somos Governo graças à sagrada confiança que o povo tem tido neste processo (…) Sobre nossos ombros descansa a dura e inadiável missão de fazer realidade os princípios que nos regem: que a justiça ajuste todos os despropósitos humanos, que a liberdade liberte e nos faça crescer, que a igualdade iguale sem distinção, que a independência nos dispare para o porvir", apontou.
Os chamados à radicalização encontram amplo respaldo entre trabalhadores, camponeses e estudantes, que também interpretam que se trata de um processo para combater o burocratismo e a corrupção. Por sua vez, a oposição faz sua própria interpretação da convocação de Chávez, ao considerá-la uma tentativa de enfrentar a propriedade privada e as liberdades políticas.
Com Prensa Latina