Luciana Santos em Brasília vai ajudar Dilma a garantir avanços
Com a experiência de dois mandatos no Executivo, como prefeita de Olinda (PE), a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), chega à Câmara dos Deputados para cumprir seu primeiro mandato, mas não é neófita no Legislativo. Já cumpriu mandato como deputada estadual em Pernambuco. E está fortemente cotada para assumir o Ministério do Esporte. Ela fala sobre a expectativa do trabalho, destacando a necessidade das forças de esquerda ajudarem a presidente Dilma a garantir avanços para o País.
Publicado 17/12/2010 16:29
Portal Vermelho – Qual a sua expectativa com relação ao trabalho que pretende desenvolver durante o seu mandato – o primeiro – como deputada federal depois de ter exercido por dois mandatos o cargo de Prefeita de Olinda e anteriormente deputada estadual em Pernambuco?
Luciana Santos – A minha expetativa é a melhor possível. Em primeiro lugar a consciência da responsabilidade de reforçar uma bancada tão respeitada como é a bancada do PCdoB, exatamente pela justeza, pela capacidade política, pela lealdade com que sempre pautou o seu comportamento nas votações, na formulação teórica dos destino da nação, coerente com seu projeto político estratégico. Foi uma das bancadas mais firme nos momentos mais difíceis do Governo Lula. Em plena crise do "Mensalão" a nossa bancada jogou papel destacado, aguerrido, a ponto de uma bancada pequena fazer um presidente da Câmara exatamente pela capacidade política que demonstrou ter. Eu fico com uma responsabilidade muito grande, com expectativa de aprender muito com a bancada e ajudar com a agenda de reforma do governo Dilma, que pretende ir além dos êxitos e vitórias garantidos pelo Governo Lula para nação brasileira. Eu me coloco como soldado desse projeto político, dessa agenda de reformas que estão construindo para ajudar o governo a avançar.
Vermelho – Pela sua experiência como gestora municipal, existe uma área em que você pretende atuar mais no Parlamento?
LS – Isso ainda vai ser fruto do debate da distribuição das tarefas: a responsabilidade de cada um. Só tivemos uma primeira reunião de apresentações, para tratar das questões emergenciais da fase final do governo Lula e, a partir dai, vamos tratar do papel de cada um. Eu tenho identidade com alguns assuntos.
Vermelho – Quais são?
LS – Assuntos relacionados a cidades e urbanismo. Eu tenho experiência administrativa como Prefeita de Olinda e conheço o desafio da reforma urbana. Mas eu sou também engenheira eletricista, fui secretária de ciência e tecnologia e meio ambiente do governo estadual (de Pernambuco), portanto são áreas que eu tenho responsabilidade de dar conta. O debate sobre educação é estruturante para o país e se associa ao desafio da ciência e tecnologia, que são focos meus.
Vermelho – Na sua avaliação, o que a sociedade brasileira espera do Legislativo?
LS – O grande desafio hoje do Legislativo é se afirmar cada vez mais perante a sociedade como instituição produtiva para o país. Infelizmente há um bombardeio muito grande do papel do Congresso Nacional na sociedade brasileira. Esse é um desafio importante para todos os pares da Casa. É preciso que tenhamos um nível de produção cada vez mais elevado e que corresponda as expectativas da sociedade. Não tenho dúvida de que a sociedade brasileira clama por segurança pública, principalmente por causa das drogas no país, que é algo avassalador.
Vermelho – Com a eleição da presidente Dilma e o aumento da base aliada vai ser possível fazer as reformas pendentes a tantos anos na Câmara como as reformas política e tributária?
LS – Isso é que a centralidade do papel da gente nesse momento. Depende muito da vontade política, da disposição e da capacidade política de operação do governo e de todos nós que somos a base de sustentação do governo. O de enfrentar os assuntos mais polêmicos desde já, logo no primeiro ano. Na reforma política, por exemplo, eu imagino que tem algumas questões que precisam ser tratadas, devem ser tratadas a médio e longo prazo. Não há como fazer reforma política de uma eleição para outra, mudando as regras de jogo. É preciso diminuir o açodamento que tem pautada o debate sobre a reforma política, pensando nela a médio e longo prazo para que tenhamos uma transição, em que todas as forças políticas se preparem para as novas regras. Vai ser decisivo para base do governo aproveitar a correlação de força mais adequada para nós e fazer o avanço das nossas reformas. Pelo o que a própria Dilma tem revelado, elas serão reformas mães – a reforma tributária e a política, porque elas mudam completamente a institucionalidade e a democracia brasileira. Não se faz mudanças profundas sem mudar a democracia e o Estado consolidar a democracia.
Vermelho – E quanto aos demais assuntos polêmicos que dizem respeito a defesa dos direitos dos trabalhadores, como redução da jornada de trabalho, combate ao trabalho escravo etc, qual a sua expectativa com relação a votação e aprovação dessas matérias?
LS – Nós tivemos reunião com o Presidente Dutra (José Eduardo, presidente nacional do PT), por delegação da Presidente Dilma, para tratar desse assuntos e entregamos documento por escrito que tem entre outras coisas o debate sobre a redução da jornada de trabalho. Isso é algo que consideramos que é a pauta de modernidade, faz parte de um país avançado, que vai dá outra qualidade ao processo produtivo, a medida que dará mais tempo para estudo e lazer para o trabalhador, e permite maior inclusão social na medida que abre possibilidade de mais empregos no País. O grande desafio é dar um salto que reflita na base econômica do País.
Vermelho – O empoderamento das mulheres está na ordem do dia com a eleição da primeira presidente mulher e o PCdoB tem tradição em número grande mulheres em sua bancada. Você é mais uma que vem fortalecer essa participação das mulheres. Como você avalia esse momento atual para a luta das mulheres?
LS – A exemplo do que Lula representou no imaginário popular, de uma pessoa humilde, nordestino, com todos os estigmas e preconceitos que isso carrega, e que deu uma colaboração que foi além da luta política e dos avanços, uma colaboração nos valores culturais do povo brasileiro, a eleição de Dilma por si só também simboliza isso. Dá novas perspectivas para as mulheres, abre novos horizontes, dá outra dimensão. Ela mesma falou várias vezes na campanha da criança que dizia que ia ser presidente quando crescesse porque a mulher pode ser Presidente da República. Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil não é qualquer coisa, é algo que terá um impacto a médio e longo prazo na autoestima das mulheres, na afirmação e na confiança que as mulheres vão criando de cumprir esses papéis. E o PCdoB vai cada vez mais buscando e se caracterizando com essa identidade, de ser um Partido muito feminino. Estamos repetindo a maior bancada feminina no Congresso, de mulheres de referência e destaque no Congresso. É uma marca do partido, que tem cara feminina.
Vermelho – Qual a grande diferença entre o mandato do Executivo e Legislativo?
LS – É uma diferença razoável. O trabalho do Legislativo tem se pautado por perspectivas e projetos. O “modus operandi”, a conjuntura e a responsabilidade são completamente diferentes. No Executivo você tem a responsabilidade de fazer que as coisas aconteçam, mas é mais solitário. E o Legislativo é mais coletivo, é mais de debate de ideias, portanto bastante diferenciado.
Vermelho – Mas lhe agrada os dois?
LS – Já fui deputada e prefeita e, em certa medida, as exigências no Legislativo são menores que o de um mandato executivo.
De Brasília
Márcia Xavier