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Sem apoio da Nicarágua, SICA reincorpora Honduras

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, classificou como “absurda e ridícula” a decisão dos outros países que integram o SICA (Sistema de Integração Centro-americano), de “apoiar formal e plenamente” a reincorporação de Honduras ao bloco regional. A decisão foi anunciada nesta terça-feira (20) pelo presidente de El Salvador, Mauricio Funes, no discurso de encerramento da reunião de “Relançamento da Integração Regional”, realizada em San Salvador.

Na “Declaração Especial sobre Honduras”, os presidentes centros-americanos, o vice-presidente da República Dominicana e o vice-primeiro ministro de Belize, reconheceram “o compromisso assumido pelo presidente Porfirio Lobo de garantir o apoio à institucionalidade democrática e aos direitos humanos em Honduras”. Além disso, reconheceram os avanços alcançados “até o estabelecimento da ordem constitucional” e o direito de Honduras a exercer de forma plena “os direitos e obrigações que o SICA lhe atribui”.

O documento, que não contou com a assinatura de autoridades nicaraguenses, que não participaram do encontro, solicitou também à OEA (Organização dos Estados Americanos) “agilizar e resolver” a reincorporação de Honduras à instituição.

“O restante dos países da América Central devem caminhar em seu próprio ritmo, não podemos esperar outro governo”, afirmou o presidente salvadorenho, que pediu para a Nicarágua explicar sua ausência.

Além do presidente de El Salvador, participaram da reunião os presidentes Álvaro Colom (Guatemala), Laura Chinchila (Costa Rica), Ricardo Martinelli (Panamá), o vice-presidente da República Dominicana, Rafael Alburquerque, e o vice-primeiro-ministro de Recursos Naturais e Meio Ambiente de Belize, Gaspar Veja.

Nicarágua protesta

“Não participamos dessa reunião porque sabíamos da intenção de reincorporar Honduras ao SICA, e que por trás de tudo estavam os Estados Unidos”, acusou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em entrevista coletiva. Por conta do golpe de Estado que, em junho de 2009, destituiu o então presidente Manuel Zelaya, os países membros do SICA excluíram Honduras da instituição.

“Com esta decisão – explicou Ortega – estão desconhecendo as resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas), da OEA, dos governos da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) e do Grupo de Rio”.

Ortega disse também que o SICA tem “suas próprias normas e decisões como estas devem ser tomadas por unanimidade entre todos os países que o integram”. Segundo ele, o fato “é um grande dano à integração e à unidade dos países centros-americanos”, rompendo a base do tratado do SICA.

O presidente da Nicarágua afirmou que continuará trabalhando e respeitando a resolução adotada pelo SICA em junho de 2009, “até que existam as condições “ que permitam a reincorporação de Honduras à comunidade internacional.

FNRP

Em um documento divulgado um dia antes da decisão ser adotada em El Salvador, a FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular) exigiu que o SICA e a OEA se abstenham da reincorporação de Honduras em instâncias internacionais.  A FNRP, movimento que surgiu como resistência ao governo implantado após o golpe de Estado, é presidida pelo ex-presidente Manuel Zelaya desde o dia 10 de julho deste ano.

“É lamentável a decisão tomada em El Salvador e é evidente a participação dos EUA, que continua incitando o intervencionismo e a militarização da região”, disse ao Opera Mundi Berta Cáceres, coordenadora do COPINH (Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras).
Segundo Berta, o governo de Porfírio Lobo é responsável por graves violações de direitos humanos e representa o continuísmo do golpe. “Ao reintegrar Honduras no SICA, estes governos estão dizendo que aqui nunca houve golpe”, concluiu.

Após a decisão do SICA, o presidente de Honduras disse que recebe "com muita alegria" a determinação de seus colegas centro-americanos.