Para presidente do PDT, esquerda precisa crescer no parlamento
Na série de entrevistas com os presidentes nacionais dos partidos de esquerda sobre as eleições presidenciais de 2010, o Vermelho ouviu, nesta semana, o presidente nacional do PDT, Manoel Dias. A sigla abandonou o projeto de lançar candidatura própria e apoia a candidatura de Dilma Roussef (PT) porque avalia que qualquer outra candidatura do campo de esquerda poderia prejudicar o projeto de consolidar – e avançar – nas conquistas sociais implementadas pelo dois governos do presidente Lula.
Publicado 15/07/2010 19:07
Logo no início da nossa conversa, Dias destacou que é "presidente em exercício", acrescentando que assumiu o posto, vago com a assunção do presidente Carlos Lupi ao cargo de Ministro do Trabalho, mas que, na prática, ele (Lupi) é o presidente. "Nós somos muito unidos, funciona muita camaradagem". Para Dias, o afastamento de Lupi da presidência do Partido "é um absurdo, mas inventaram isso porque o PDT é o ‘patinho feio’ da política brasileira." A afirmativa despertou curiosidade e obrigação de mudar a primeira pergunta da entrevista:

Manoel Dias – Há um preconceito histórico contra o trabalhismo. Getúlio, mataram. Jango, depuseram. A elite brasileira é muito reacionária; não toda, mas há uma parcela significativa que tem preconceito contra o trabalhismo, que nunca foi contra ninguém. A gente quer fazer políticas públicas de distribuição de renda, mas criou-se esse preconceito contra nós e nós somos o patinho feito.
Vermelho – Mas o ‘patinho feio’ está com o Ministério do Trabalho, para o ‘patinho feio’ isso é..
MD – Isso é fundamental porque foi o trabalhismo que criou o Ministério do Trabalho através de Vargas. Foi sempre muito marcante a nossa atuação junto aos sindicatos. O Presidente João Goulart foi Ministro do Trabalho. E o trabalho do Ministério foi muito grande no sentido de fortalecer o sistema sindical. Uma das razões alegadas para dar o golpe (militar) é que Jango queria implantar no Brasil uma república sindicalista. Para nós, a volta para o Ministério do Trabalho representa um resgate e dai a responsabilidade que nós temos de projetar para o futuro um avanço nessa área. O companheiro Lupi assumiu esse cargo e está tendo atuação excelente, é um dos cinco mais visíveis do Governo Lula.
Vermelho – Contribui para isso a situação econômica atual do País?
MD – Ajuda, claro, porque o Ministério do Trabalho tem como interesse cuidar dos trabalhadores. A situação econômica tem gerado emprego, a necessidade de capacidade de mão de obra para dominar tecnologia e o Ministério tem sido muito corajoso e enfático quando se trata de defender o interesse dos trabalhadores.
Vermelho – Considerando que nossa conversa é sobre as eleições de 2010, vamos introduzir o assunto. É impossível falar de eleições presidenciáveis com o PDT sem lembrar Leonel Brizola. Mas, qual a avaliação que o Sr. faz da atuação do partido pós-Brizola?
MD – Como todo partido, o PDT tem como meta por em execução o seu projeto e para isso tem que ter poder. A volta do exílio (após a anistia) dos companheiros estabeleceu a possibilidade de reconstrução de um grande partido trabalhista. As pesquisas na época diziam que o Brizola voltou do exílio com prestígio maior do que quando tinha sido expulso do país. A direita tratou de fragilizar isso. Tirou a sigla PTB. E estimulou – não que o PT e Lula tenham feito de propósito – a criação do PT. Fomos para eleição com a sigla PDT, recém–criada, não dizia nada na cabeça do eleitor. Se não fosse isso, o Brizola teria sido presidente. Passada essa época, procuramos reconstruir o partido e alcançamos hoje o melhor momento do PDT nacional, que vai aumentar enormemente sua bancada. Nesse período (pós-Brizola), nós apoiamos o Ciro Gomes, mas quando a gente não apoiava Lula no primeiro turno, no segundo turno a gente apoiava sempre.
Vermelho – Essa aliança com o PT, então, tem uma certa tradição. O que levou o PDT a apoiar a candidatura da Dilma Roussef?
MD – O Partido tinha intenção de disputar eleição a um tempo atrás, mas o momento nacional exigiu da gente um debate e verificação da importância fundamental de evitar retroagir nos avanços no campo social, distribuição de renda, desenvolvimento econômico que deve ser espalhado para todo mundo. Para isso é necessária a vitória da Dilma, que é a que melhor representa não só a consolidação dos avanços, mas avançar mais ainda. Muita coisa ainda há para fazer. Qualquer candidatura que tivesse no campo da esquerda poderia prejudicar. Por isso a decisão de não lançar candidato. Vamos priorizar a eleição dos deputados federais e vamos dar nossa contribuição para que a vitória aconteça e, a partir daí, nos próximos anos, vamos consolidar e ampliar essa política. O pré-sal na mão de um presidente, em um regime presidencialista como o nosso, que tem poderes imperiais, pode ser levado para qualquer lado. É uma capacidade econômica e resultado financeiro que pode afetar a vida de cada brasileiro. Precisa ter cabeça política para saber aplicar isso.
Vermelho – A exemplo do PMDB, do PSB e do PCdoB, o PDT tem arestas a aparar com o PT nas disputas estaduais? Como isso interfere na aliança nacional?
MD – Nós temos uma questão pontual de apoiar Dilma em todos os estados, independente de estar ou não com PT. As nossas dificuldades com o PT são as mesmas de todos os partidos do campo da esquerda. Como o PT é um partido de tendência, que tem dificuldades internas, elas se repetem com os aliados. Eles tem dificuldade locais, de relacionamento, que não interferem na aliança nacional, nem vão prejudicar, pelo contrário, amplia, cria mais de um palanque para a Dilma.
Vermelho – No caso do PDT, quais os exemplos que o Sr. cita?
MD – No caso de Alagoas, nós temos dois palanques. O nosso, com o ex-governador Ronaldo Lessa e o do (Fernando) Collor, que é também da Dilma.
Vermelho – E no Maranhão?
MD – O Maranhão é um caso excepcional. Não sei se você conhece o Jackson (Lago). É um médico, daqueles médicos sacerdotes. E condenado por abuso econômico contra a família Sarney. A gente não podia obrigá-lo a apoiar a candidatura da Dilma. Lá, o Partido liberou. O vice dele é do PSDB. O próprio PT praticou ato violento contra vocês – o (Flávio) Dino. Pode levar a eleição para o segundo turno – o Jackson e o Dino.
Vermelho – Não houve impugnação da candidatura do Jackson Lago, com base na Lei do Ficha Limpa, por ele ter sido condenado pelo TSE?
MD – Houve, mas não vai prevalecer. Ele foi condenado a três anos. Ele já cumpriu. Não há cabimento. É um absurdo.
Vermelho – E a oposição, como o Sr. vê a atuação dela nesse período de início de campanha?
MD – A oposição está perplexa. Perdida. O país está crescendo, está dando certo. As estatísticas e dados mostram que milhões e milhões estão sendo beneficiados com distribuição de renda. Eles representam o retrocesso. O PSDB é o neoliberalismo que, sob alegação de que o Estado é ineficiente, entregou setores importantes do Estado. Eles estão sem discurso. Estão tentando, ao invés de fazer crítica, dizer que vão dobrar os benefícios. O Serra promete dobrar o Bolsa-Família etc. Mas, quem não deu antes, não dará agora. Quem está dando é o Lula. Eles tem dificuldade até de discurso.
Vermelho – Qual a avaliação que o Sr. faz do resultado das pesquisas eleitorais mais recentes?
MD – As pesquisas são todas favoráveis. Há seis, sete meses, a Dilma tinha 4% e ele (Serra) já tinha 38%. A Dilma já alcançou os 38% e o Serra não consegue romper esse índice. Ela ainda é desconhecida por 40% da população, nos setores mais pobres, onde Lula tem prestígio muito grande e tem poder de transferir voto para Dilma. Hoje não tem ninguém que não reconheça que o País está vivendo momento sem precedente. Internacionalmente, construiu nova via, aliando-se a países que constróem nova força. Níveis de emprego, de consumo, são todos positivos. Porque as pessoas vão votar contra isso?
Vermelho – Qual os pontos do programa de Dilma que são contribuições do PDT? O que vocês defendem no programa da petista?
MD – A nossa contribuição é no campo da educação e ela tem dito que educação é prioridade. Que se invista cada vez mais na construção de escola pública de qualidade, em tempo integral, escola de países ricos. Se o país será a sexta economia em 2016, que é amanhã, não pode manter esse espectro de separação entre pobre se ricos. É preciso, para que seja a sexta potência, controlar tecnologia de ponta, porque quem não tiver conhecimento vai carregar pedra. Nas lutas do campo trabalhista, é mais fácil avançar no governo da Dilma do que do Serra. Há toda uma pauta trabalhistas em que precisamos avançar. Nós estamos indicando agora, como todos os partidos, uma pessoa para discutir o plano de governo dela. Vamos discutir para fazer valer a nossa posição de ver incluído no plano essas propostas.
Vermelho – Logo no início da entrevista, O Sr. falou sobre a perspectiva de aumentar a bancada federal do Partido. O Sr. acredita que isso vai ocorrer? Existe uma preocupação da própria Dilma de ter uma grande bancada para garantir a governabilidade.
MD – Nós temos 24 deputados federais e a expectativa é de chegar de 45 a 50 deputados. Mas a esquerda, o PDT, o PCdoB, o PSB, (devem) ter acréscimo significativo de suas bancadas para ter outro tipo de força nos encaminhamentos e nas votações do Congresso. As elites ainda controlam a maioria do Congresso, mas se você aumentar representativamente as bancadas dos partidos populares, as negociações terão outro peso. E a balança vai pender mais para o interesse dos excluídos que precisam receber maior atenção de um governo popular.
Vermelho – O PDT teve grandes figuras políticas no passado – Getúlio Vargas, João Goulart, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola. Qual a diferença dos trabalhistas de ontem para os trabalhistas de hoje?
MD – As causas continuam iguais. As causas pétreas – soberania nacional, defesa dos trabalhadores, prioridade para a educação e desenvolvimento – continuam as mesmas, mas claro que estamos vivendo outro momento. Nós fizemos uma autocrítica de que nos descuidamos da formação de quadros. Nossa prioridade agora é formação de quadros. Criamos a Universidade Leonel Brizola. Vamos, com discurso moderno, atualizado, manter as lutas, porque a luta de classe não acabou. Dizer que isso acabou é tentativa de enganar. Se a luta de classe persiste, há necessidade de que os partidos do campo popular tenham esse compromisso. Queremos chegar ao poder e para isso temos que estar preparados.
De Brasília,
Márcia Xavier