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Como a sucessão de erros do PSDB uniu o DEM por vice

O processo de escolha do candidato a vice na chapa do PSDB a presidente foi marcado por uma série de equívocos, improvisação e falta de organização política na campanha de José Serra. O candidato mal conhece o deputado Índio da Costa, nome indicado pelo Democratas. Mas sua escolha dá um palanque aos tucanos no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro.

Por Raymundo Costa, no Valor Econômico

Para a torcida, o grande vencedor foi o presidente do DEM, Rodrigo Maia, por conseguir emplacar um nome do Democratas depois que o PSDB já havia anunciado a indicação do senador Álvaro Dias (PR). É fato que Rodrigo foi o catalisador de uma reivindicação consensual do DEM — mas a responsabilidade por Índio é de Jorge Bornhausen, último presidente do PFL, partido que deu origem ao DEM.

A sucessão de erros tucanos foi registrada publicamente pelo ex-governador Aécio Neves, chamado às pressas a São Paulo para discutir a crise da indicação do vice. A única concessão de Aécio Neves foi dizer, já de volta a Belo Horizonte, que os equívocos não eram "insanáveis". Aécio não disse, mas a leitura de tucanos é que a crise era contornável e que Serra dá a impressão de não ter se preparado para esta fase da campanha de articulação e composição dos palanques aliados.

Enquanto havia a possibilidade de Aécio Neves aceitar a candidatura a vice de Serra, o DEM manteve-se quieto, pois majoritariamente avaliava que seria altamente competitiva uma chapa com os ex-governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do país, ambos saídos de administrações bem avaliadas. A situação mudou quando Aécio deixou claro que não aceitaria a indicação. O DEM até admitia que um terceiro partido ficasse com a vice, se isso desse mais tempo de televisão para Serra.

Serra subestimou a reação do Democratas, que começou a tomar forma na convenção do PSDB realizada no último dia 12 em Salvador. O candidato do PSDB simplesmente não queria ouvir o presidente do DEM, Rodrigo Maia, e não só por uma implicância pessoal: Rodrigo esteve na linha de frente de um movimento do DEM no sentido de influenciar o PSDB a escolher Aécio como candidato a presidente da República. Junto com Rodrigo estavam o ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, o atual líder Ronaldo Caiado (GO) e o deputado ACM Neto (BA). A trupe chegou a fazer uma visita a Aécio no Palácio da Liberdade.

O DEM, no entanto, é responsável por um terço dos 7min23s que Serra terá na televisão. Simplificadamente, o raciocínio era o de que o partido servia para dar tempo de televisão para o tucanos mas não para indicar o vice. Uma humilhação. O PSDB não percebeu que a vice deixou de ser uma reivindicação do grupo aecista para impregnar todo o partido. À exceção da bem sucedida aliança com o DEM na eleição para a Prefeitura de São Paulo, Serra nunca fez questão de se aproximar do DEM e permaneceu indiferente às reclamações.

Serra também jogava com a divisão do Democratas: todos achavam que já não havia mais sentido para o PSDB não escolher um nome do partido para vice, mas alguns estavam mais dispostos que outros a esticar a corda numa negociação com o PSDB. Entre os primeiros estavam Bornhausen e Rodrigo Maia; entre os segundos, ACM Neto, provavelmente, segundo a leitura feita no PSDB, porque não gostaria de ver o deputado José Carlos Aleluia — talvez o nome mais bem cotado na sigla, presente em todas as listas de vice de Serra —, para não criar uma concorrência baiana.

Em outro exemplo de desarticulação política, o PSDB indicou o senador Álvaro Dias, que é tucano, para o cargo. A explicação não convenceu os demistas: era para assegurar o palanque do senador Osmar Dias (PDT) no Paraná. Para o DEM, uma desculpa esfarrapada — pois não haveria nada o que assegurar no Paraná, estado onde Serra já está na frente nas pesquisas de opinião e os tucanos dispõem de um candidato competitivo ao governo estadual, o ex-prefeito Beto Richa.

A desculpa caiu por terra — e deixou muito mal os articuladores tucanos — na noite de anteontem, quando o senador Osmar Dias afirmou que concorreria ao governo do estado em aliança com a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. Um vexame (na reta final da articulação dos palanques o candidato do PSDB também perdeu o palanque do PSC, com o qual estava praticamente acertado).

Com Serra irredutível, o DEM recorreu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com o qual fez parceria no governo entre 1995 e 2003. O risco de Serra perder os cerca de três minutos do tempo de TV do DEM era real — o ambiente das convenções costuma ser sempre favorável a candidaturas próprias e defesas partidárias extremadas. O ex-governador de Minas Aécio Neves também foi chamado para conversas em São Paulo.

Ficou acertado que Rodrigo levaria as opções do DEM para a escolha de Serra. A lista entregue por Rodrigo tinha os nomes de Aleluia (seu candidato), da ex-governadora do Pará Valéria Pires Franco e do deputado Carlos Melles, mineiro que será suplente na chapa de Aécio ao Senado.

Pouco antes de conversar com Rodrigo, Serra ouvira a sugestão de Bornhausen: Índio da Costa. Relator do ficha limpa, Serra topou na hora. Se tivesse conferido no Democrata, o tucano teria sabido que Índio e Rodrigo disputam cada milímetro de espaço no Rio e na Câmara, muito embora o primeiro tenha sido secretário de César Maia, o pai de Rodrigo. Ganhou por um lado (saiu aprovado pelo DEM), mas perdeu por outro. Vítima da improvisação política tucana.