Com biografia polêmica, indicação de Alvaro Dias enfurece o DEM
Potencial vice de José Serra na corrida presidencial, o senador paranaense Alvaro Dias já teve episódios de conflito com o seu partido, o PSDB. Ele foi expulso da legenda em agosto de 2001, após ter assinado o pedido de instalação na CPI da Corrupção, que apuraria irregularidades na gestão Fernando Henrique Cardoso. Filiado ao PDT no segundo mandato do governo FHC, chegou a apoiar o então rival à gestão tucana, Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito de outubro de 2002.
Publicado 25/06/2010 18:18
De volta ao PSDB, Dias se tornou uma das vozes de oposição mais ferrenhas ao governo petista. Em 2008 teve a imagem arranhada por ter um funcionário de seu gabinete envolvido na divulgação de informações de um suposto dossiê elaborado pela Casa Civil e com dados sigilosos e pessoais de FHC e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Na ocasião, o parlamentar admitiu ter recebido as informações confidenciais, mas alegou a prerrogativa constitucional para manter o sigilo de quem as havia repassado a ele. Judicialmente, Alvaro Dias tem contra si um processo por quebra de sigilo funcional no Supremo Tribunal Federal (STF) e acusações de difamação contra o ex-governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).
Conforme a ONG Transparência Brasil, o eventual vice de José Serra deixou de declarar R$ 6 milhões à Justiça Federal relativos à venda de uma fazenda. A omissão não constitui crime, pois é obrigatória apenas a declaração de bens ao Poder Judiciário. Na época, disse que apenas não quis se expor com a venda da propriedade em Maringá.
No auge do escândalo do nepotismo, que motivou o Supremo a editar uma súmula proibindo a contratação de parentes, teve exonerada uma sobrinha que trabalhava no Senado. No episódio, o senador disse que assim que foi dada a ordem da Suprema Corte pediu que Valéria Dias deixasse duas funções.
DEM já fala em cancelar coligação com PSDB
Lideranças do DEM no Congresso afirmam que a indicação do senador Alvaro Dias para assumir a vice na chapa de José Serra pode, junto a problemas regionais, abalar o casamento entre as legendas. Fala-se, inclusive, em desmontar a coligação já homologada na convenção tucana em 12 de junho.
Tucanos dizem que o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, se precipitou ao fazer o anúncio no Twitter. O petebista disse que Alvaro Dias seria o vice, mas os tucanos passaram a, formalmente, apresentar o nome de Dias como um consenso na legenda.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já conversou com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), sobre o assunto. O parlamentar carioca tem reiterado que, após a saída do ex-governador mineiro Aécio Neves da disputa pelo cargo de vice, o DEM teria direito ao posto. Um integrante do partido afirmou que outro agravante para o desconforto entre PSDB e DEM está concentrado em três Estados: Sergipe, Pará e Santa Catarina.
Serra deve ir ao Rio de Janeiro para participar da convenção nacional do PPS neste sábado. Aliados tucanos afirmam que o candidato deve conversar com Rodrigo Maia.
Para o senador Alvaro Dias, o DEM fará as concessões necessárias em nome da aliança PSDB-DEM-PPS-PTB. "O importante é o projeto que Serra lidera. Tenho para mim que o DEM fará as concessões necessárias em nome desse projeto. O importante é estabelecer a unidade", defendeu Dias.
"Agressão completa"
Mas algumas lideranças do DEM parecem não estar dispostas a ceder tão fácil. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, criticou duramente a indicação de Alvaro Dias. “Isso é uma agressão completa ao Democratas”, afirmou o deputado goiano.
“Se isso é um fato consumado, o partido tem de se reunir e repensar sua posição… É simplesmente um desastre”, explicou Caiado ao Congresso em Foco. Ele ainda comentou que uma eventual indicação de Alvaro Dias para compor a chapa de Serra é um rearranjo interno dos tucanos, que procuram acomodar o senador após ele não ganhar a legenda para concorrer ao governo do Paraná.
“As lideranças da educação têm horror ao Alvaro”, destaca Caiado, explicando que quando governador, o tucano chegou a lançar “a cavalaria” contra professores.
Paraná
Na última quarta-feira (23), Guerra telefonou para Alvaro Dias e avisou que, caso seu irmão Osmar Dias (PDT-PR) aceitasse o acordo de concorrer ao Senado na chapa do ex-prefeito de Curitiba Beto Richa, as lideranças tucanas tentariam convencer o DEM a conceder a vaga de vice do presidenciável José Serra a ele. Osmar Dias é o nome indicado por sua atual legenda para disputar o governo do Paraná na chapa com PMDB e PT e deve apresentar ainda nesta sexta-feira sua decisão.
Fonte: Terra