ONU: Brasil é o mais desigual da América Latina
Relatório divulgado nesta quinta-feira (25) pelo Programa de Assentamentos Humanos da ONU (ONU-Habitat) no Rio de Janeiro mostra que o Brasil é o país mais desigual da América Latina, onde os 10% mais ricos concentram 50,6% da renda.
Publicado 25/03/2010 20:17
Na outra ponta, os 10% mais pobres ficam com apenas 0,8% da riqueza brasileira. O problema da má distribuição de renda afeta a América Latina como um todo.
Segundo o documento, divulgado durante o quinto Fórum Urbano Mundial da ONU, os 20% latino-americanos mais ricos concentram 56,9% da riqueza da região.
Os 20% mais pobres, por sua vez, recebem apenas 3,5% da renda, o que faz da América Latina a região mais desigual do mundo.
"O país com menor desigualdade de renda na América Latina é mais desigual do que qualquer país da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e inclusive do que qualquer país do Leste Europeu", diz o relatório.
O México é o segundo país mais desigual da América Latina, já que os 10% mais ricos da população recebem 42,2% da renda, enquanto os 10% mais pobres ficam com apenas 1,3%.
Na Argentina, em terceiro lugar, 41,7% da renda está concentrada nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto os 10% mais pobres têm apenas 1,1%.
A Venezuela é o quarto país mais desigual da região, já que os 10% mais ricos têm 36,8% da renda e os 30% mais ricos controlam 65,1% dos recursos, enquanto os 10% mais pobres sobrevivem com apenas 0,9% da riqueza.
No caso da Colômbia, 49,1% da renda do país vai parar no bolso dos 10% mais ricos, contra 0,9% que fica do lado dos mais pobres.
A Colômbia tem uma das maiores taxas de desigualdade da América Latina e a Venezuela se destaca por ser a única a reduzir os índices entre as nações de rendimento médio.
No Chile, 42,5% da renda local está concentrada nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto 1,5% dos recursos vai para os mais pobres.
Os países menos desiguais da região são Nicarágua, Panamá e Paraguai. Mesmo assim, nos três, a disparidade entre ricos e pobres continuam abismais, já que os 10% mais ricos consomem mais de 40% dos recursos.
Também segundo este relatório, a urbanização não contribuiu para diminuir a pobreza na América Latina, já que o número de pessoas na miséria aumentou muito nas últimas décadas.
Em 1970, havia 41 milhões de pobres nas cidades da região, 25% da população da época. Em 2007, os pobres em áreas urbanas eram 127 milhões, 29% da população urbana.
No entanto, o ONU-Habitat alertou no relatório que "é nas cidades menores e, certamente, nas áreas rurais da América Latina, onde a população é mais pobre".
Assim, a pobreza rural no Brasil alcança 50,1% da população; na Colômbia, 50,5%; no México, 40,1%; e no Peru, 69,3%. A grande exceção é o Chile, com um índice de pobreza rural de 12,3%, número inferior inclusive ao das zonas urbanas.
Concentração urbana
Segundo o relatório da ONU-Habitat, a América Latina tem 471 milhões de pessoas vivendo em cidades, ou seja, 79% do total de sua população, o que a coloca como a região mais urbanizada do planeta. Em 1950, a proporção da população urbana era de apenas 41%.
Segundo o estudo, o processo de urbanização da América Latina pode ser considerado exitoso, já que trouxe riqueza, aumento da expectativa de vida e acesso a serviços públicos básicos para muitas pessoas. De acordo com a ONU-Habitat, é nas cidades que se concentra a maior parte da riqueza.
Mas, por outro lado, o processo de urbanização latino-americano também se deu de forma muito desigual, isto é, com grandes diferenças entre ricos e pobres. A América Latina é considerada, pelo estudo, a mais desigual do mundo e tem cerca de um quarto da população de suas cidades vivendo em favelas ou assentamentos precários.
“A América Latina é, em geral, muito desigual. E isso tem criado muitos problemas dentro das cidades, com informalidade na moradia e no emprego”, afirma Alan Gilbert, um dos autores do estudo.
Segundo a coordenadora do escritório da ONU-Habitat para a América Latina, Cecília Martinez, o estudo também traz algumas recomendações aos governos, como revitalizar áreas degradadas para aproveitar melhor os espaços da cidades, evitar o crescimento desordenado nas periferias e trabalhar a questão da sustentabilidade ambiental desses espaços.
“As cidades podem ser muito positivas e elas têm solução. Isso depende muito das decisões políticas que os prefeitos e governadores tomem sobre suas próprias regiões e próprias cidades. Em dez anos, se pode melhorar ou piorar muito as cidades”, disse Martínez.
Cidades mais desiguais
As cidades de Goiânia, Fortaleza e Belo Horizonte figuram entre aquelas com maior desigualdade de renda do mundo. Segundo dados divulgados pela ONU-Habitat há uma semana.
Segundo a agência, esses municípios brasileiros só ficam atrás das cidades sul-africanas, e de Lagos, na Nigéria.
Segundo a ONU, as três cidades brasileiras apresentaram um índice Gini (que mede a desigualdade) igual ou superior a 0,61, em uma escala de zero a 1,00, em que os números mais altos mostram maior desigualdade. As nove cidades sul-africanas pesquisadas apresentaram índices entre de 0,67 e 0,75. Já Lagos tem índice de 0,64. Brasília também é destacada na pesquisa com um alto índice (0,60).
O estudo também cita as diferenças de oportunidades entre moradores de favelas e aqueles que residem em outras áreas dentro das cidades brasileiras.
De acordo com a ONU, a chance de uma pessoa ter desnutrição em uma favela brasileira é 2,5 vezes maior do que no resto da cidade, enquanto que a diferença média no mundo é de duas vezes.
Da redação, com agências