Compromisso juvenil com o aprofundamento das mudanças
Os dados das pesquisas em torno da eleição presidencial, que ocorrerá em outubro próximo, indicam que a sociedade, como um todo, e os jovens, em particular, perceberam a necessidade de se continuar e aprofundar as mudanças iniciadas nos dois mandatos do governo Lula. No entanto, a garantia da execução do projeto da candidatura que representa isso, a da ministra Dilma Rousssef, depende também do engajamento dos jovens que ora depositam seus votos.
Publicado 15/03/2010 20:59 | Editado 04/03/2020 16:12
Essa conclusão é feita quando se busca traçar a identidade da juventude nas últimas décadas. Embora muitos falem, de forma acertada, que a referência aos jovens deve ser feita com o termo juventudes – dado os diferentes canais pelos quais estes se expressam e se afirmam -, é possível traçar uma característica geral quando observadas suas reações diante do plano conjuntural.
Para isto, basta uma breve repaginada na história.
Engajamento fervoroso no fim da Ditadura Militar
Os anos 80 iniciam no Brasil com a renovação da esperança de um povo já cansado do endurecimento do regime dos quartéis e disposto a pô-lo para baixo. O desgaste dos governos militares chegou a ponto de seu alto comando anunciar uma transição lenta e gradual para a democracia. Diante disso, grandes eram os levantes populares feitos por pessoas que ainda viviam seus períodos escolares e acadêmicos.
Esse é o período em que as ruas de várias cidades e os muros das universidades apareciam pixados em letras reivindicatórias por uma “anistia ampla, restrita e geral”. Uma exigência do retorno ao país de todos que haviam sido levados ao exílio devido às arbitrariedades da direita apresentada sob vestes de militares.
O clamor levantado nas ruas é contemplado com o regresso ao Brasil de pessoas como o poeta Thiago de Mello, os lideres do PCdoB João Amazonas, Elza Monerat e Renato Rabelo, líderes dos movimentos estudantil, sindical e muitos outros.
Além disso, a proposta de uma caminhada rumo à redemocratização em passos lentos não convence o povo e nem os jovens.
Com isso, milhares de pessoas em vários estados vão às ruas bradar por eleições “Diretas Já”. Algo que não se viabiliza, embora, em 1985, o sonho da redemocratização do Brasil tenha se concretizado por meio do voto indireto.
Apesar dos latifundiários, os conglomerados dos meios de comunicação e outros setores das elites, representados politicamente por agremiações partidárias de diretia, terem mantido seus privilégios, é de se destacar o elevado senso de civismo, cidadania, consciência política e engajamento da época que descortinou o caminho de volta a democracia.
Queda do Muro de Berlim e a apatia do pensamento único
Em âmbito internacional, entretanto, esse período é o de maior avanço da direita. Vários países do leste europeu que tinham no socialismo a fórmula sócio-econômico-política para promover o bem–estar de sua população, algo que faziam com relativo sucesso, entraram sistematicamente em declínio.
Isso fez com que em 1989 ocorresse a queda do Muro de Berlim e, a partir daí, se propagassem as falácias do pensamento único e o fim da história. Pois, segundo o que foi fartamente disseminado pelos meios de comunicação e pela indústria cultural como um todo, o capitalismo tinha se comprovado como a única alternativa para a humanidade. Ao povo não cabia nenhuma preocupação.
Surge daí, um longo período de predominância do individualismo, do consumismo e da aguda apatia popular em assuntos de causa coletiva.
Da geração engajada de 80, os jovens passam a condição de intensa alienação na década de 90. Suas energias eram extravasadas nos shoppings centers, nas discotecas e na formação de gangues (galeras, ditas por aqui). O poder público vê nesse segmento um problema social que alimenta os índices de violência nas grandes cidades.
Capitalismo mostra suas vísceras
Ao longo dessa década, o tal sistema que responderia a demanda de prosperidade e satisfação da humanidade não consegue dar respostas ao que havia se comprometido.
Crises econômicas, a afronta ao meio ambiente, o aumento na quantidade de famigerados mundo à fora e demais nocividades chegam a um patamar insustentável. Surgem, no final da década de 90, várias manifestações em todos os continentes de denúncia das pragas criadas pelo neoliberalismo (roupagem mais bruta do capitalismo). Quase sempre capitaneado por jovens descontentes e que retomavam o grito por uma outra sociedade.
Para ficar apenas na América, podemos citar a marcha dos 100 mil, no ano de 1999, em Brasília. E o episódio conhecido como Batalha de Seatle. Uma série de manifestações para barrar a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) na cidade de mesmo nome.
Anos 2000 e o nascimento dos Fóruns Sociais Mundiais (FSM)
A década ainda em curso se inicia com evidentes e uníssonos coros de denúncia contra a desumanidade e o crescimento vertiginoso da desigualdade social.
O guarda-chuva que unificou essas vozes nasceu em 2001, na cidade de Porto Alegre. Cerca de 15 mil pessoas participaram da primeira edição do Fórum Social Mundial (FSM). Evento que chegou esse ano em sua décima edição e, em 2009, reuniu 120 mil pessoas na cidade de Belém, capital do Pará.
A consolidação do FSM e o crescimento do público que se reúne em torno do lema “Um outro mundo é possível”, cujo número de jovens é majoritário, simboliza o surgimento de uma geração que a cada dia rompe com o engodo do “pensamento único” ainda disseminado pelos aparelhos ideológicos do Estado .
Uma geração que demonstra sua responsabilidade com o Brasil e com o mundo. Que aproveita novas demonstrações da insuficiência do capitalismo em atender o anseio dos povos, como a nova crise econômica, para aumentar suas vozes e alcançar mudanças concretas.
Uma geração que deixou de ser encarada, nos anos de Lula, como problema social e passou a ter suas demandas respondidas por programas governamentais. A criação do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e várias ações voltadas aos jovens estão aí para confirmar.
Uma geração que foi fundamental para a eleição do próprio Lula e que viverá as eleições de outubro próximo, quando terá a oportunidade de eleger uma das vítimas da Ditadura Militar no Brasil. Cujo programa político apresentado indica o aprofundamento das mudanças iniciadas por Lula.
Uma geração que precisa invadir ainda mais as escolas, as universidades, os bairros, os centros culturais, produzir mais vídeos, fazer mais teatro, mais músicas e por meio desses canais chamar atenção de todos para a importância que tem eleger uma presidente comprometida com a execução de um Novo Programa Nacional de Desenvolvimento.
A esses jovens que, de maneira diferenciada, retomam a responsabilidade política com o país, cabe o comprometimento com a execução de projetos que venham fazer do Brasil um país ainda mais oportuno em ofertas de trabalho, educação, cultura, lazer, saúde, inclusão digital, dentre outras coisas, para os brasileiros. Principalmente os que ainda não foram contemplados com esses serviços.
Esse ritmo já está em andamento, mas a disputa exige que isso seja potencializado.
De Manaus,
Anderson Bahia