Pressão sobre Serra faz efeito e tucano assume candidatura
Não é propriamente uma novidade. Todo o mundo político já sabia que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), seria o candidato da oposição de direita à sucessão presidencial. Mas a verbalização desta intenção pelo próprio governador era um gesto esperado há muito tempo pela oposição e Serra vinha relutando em fazê-lo. Mas as últimas pesquisas eleitorais, que mostram um grave declínio das intenções de voto no tucano, geraram pressões graves e aceleraram a tomada de decisão.
Publicado 04/03/2010 12:24
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Serra afirmou nesta quarta-feira (3) sua disposição em ser candidato do PSDB à Presidência da República perante a executiva do partido e sugeriu que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seja seu vice na chapa. Mas os integrantes da legenda ainda se preocupam com a falta de confirmação oficial por parte de Serra, o que deixa alguma margem de desistência por parte do governador.
Segundo a Folha, aliados de Serra admitem que o espaço para um eventual recuo é pequeno, mas ressalvam que ele pode reavaliar a candidatura caso não consiga ter Aécio na vice ou se Dilma Rousseff (PT) ultrapassá-lo em pesquisas antes do prazo de desincompatibilização.
Caso confirme sua candidatura oficialmente, Serra deve deixar o governo de São Paulo no dia 3 de abril, passando o posto para o vice-governador Alberto Goldman. Esta transição, até mesmo do ponto de vista burocrático, não é tão simples e, portanto, nos bastidores já deve estar acontecendo.
À imprensa, a declaração de Serra sobre sua eventual candidatura foi menos enfática. O tucano disse apenas que nunca afastou a possibilidade de vir a ser candidato. “Isso continua. Existe sim. Em relação a Aécio, não é o que está sendo debatido, apesar de toda a cobertura da imprensa”, disse Serra ao inaugurar a ala de um hospital de Sapopemba, na zona leste da capital paulista. O governador não esclareceu o que quis dizer com a frase sobre Aécio.
Aécio rejeita aliança “café com leite”
Convencer o governador mineiro a ser seu vice na chapa presidencial é agora o grande desafio de José Serra. Aécio tem deixado bastante claro que não aceitará esta missão.
Ontem, em encontro com Aécio num hotel de Brasília, Serra formalizou o convite para que o governador mineiro seja seu vice numa chapa tucana "puro-sangue". Diante do convite explícito para um governo "café com leite" – numa nova aliança de Minas Gerais com São Paulo para eleger um presidente –, Aécio foi categórico ao afirmar que dispensa o convite.
Diplomaticamente, Aécio diz que ajudará mais ao projeto eleitoral dos tucanos sendo candidato ao Senado, mas é certo que o fato de ter sido preterido na disputa sucessória presidencial deixou feridas abertas na relação entre os dois governadores.
Segundo a reportagem do Estadão, depois do convite de Serra, Aécio pediu que se encerrasse ali a conversa sobre essa questão. O mineiro argumentou que esse debate é ruim porque afeta o próprio Serra.
Preocupados com os resultados das últimas pesquisas eleitorais, apontando o crescimento da candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) e Serra em baixa contínua, tucanos de todo o País torciam por um fato novo que pudesse reverter a tendência de queda. Segundo a matéria do jornal paulista, a avaliação geral era de que só o anúncio de Aécio como vice poderia dar força política para segurar os eleitores Brasil afora. Agora, terão que esperar por algum outro fato novo para poder renovar as esperanças de vitória nas eleições de outubro.
Bandeira social seqüestrada
Enquanto esperam, os oposicionistas ensaiam alguns discursos e testam alguns temas para se armar para a campanha, que promete ser pesada. O próprio Serra lançou algumas pistas sobre a argumentação que irá usar para se contrapor aos evidentes avanços sociais do governo Lula.
Em seu pronunciamento na sessão de homenagem ao centenário de Tancredo Neves, ontem, em Brasília, ele criticou o rótulo de "herança maldita" usado pela esquerda para rechaçar um possível retorno tucano ao Palácio do Planalto e sugeriu que o partido de Lula foi um dos principais beneficiários das mudanças implementadas no País na era FHC.
Numa evidente inversão de sinais, que mostra como seu discurso pré-campanha ainda é contraditório e deslocado da realidade, Serra reivindicou o “legado” de FHC como um resgate das bandeiras sociais. Sem citar o nome de Fernando Henrique, disse que o País conseguiu grandes avanços nos últimos anos e ressaltou a derrubada da superinflação e o "problema persistente da dívida externa herdada". Destacou também o começo de uma "retomada promissora do crescimento econômico", além da "expansão do acesso das camadas de rendimentos modestos ao crédito e ao consumo, inclusive de bens duráveis".
Da redação,
Cláudio Gonzalez, com agências