BC reduz R$ 71 bi do crédito; indústria quer breque na Selic
O Banco Central (BC) reverteu praticamente toda a flexibilização do recolhimento de depósitos compulsórios promovida no auge da crise financeira global. Na prática, as medidas anunciadas no início da noite vão significar o enxugamento de cerca de R$ 71 bilhões do sistema financeiro.
Publicado 26/02/2010 13:43
Isso reduz a disponibilidade de dinheiro para crédito, o que pode resultar em um aumento das taxas de juros cobradas do consumidor. O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que a mudança se insere na estratégia brasileira de saída das medidas adotadas durante a crise. Conforme as alterações, a alíquota de recolhimento dos recursos a prazo, que estava em 13,5%, voltou a ser de 15%. O valor de isenção de recolhimento passa de R$ 10 mil para R$ 500 mil.
As alterações passam a vigorar a partir de 9 de abril. As alíquotas das exigibilidades adicionais também foram elevadas, para 8% para os depósitos à vista e a prazo, após terem sido reduzidas para 5% e 4%, respectivamente, em 2008. O valor de isenção de recolhimento da exigibilidade adicional é fixado em R$ 500 mil. Nesse caso, as novas regras passam a valer a partir de 22 de março.
O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, disse esperar que a elevação do compulsório seja suficiente para evitar nova escalada da taxa básica de juros (Selic) este ano. "Espero que essa decisão elimine a alternativa de elevação da Selic", afirmou.
O mercado financeiro desenvolve poderoso lobby para que o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, aumente a Selic, de 8,75% ao ano, para 11,25% ao ano até o fim de 2010. "Já éramos contra o aumento da Selic antes da retomada das alíquotas pré-crise de recolhimento do compulsório. Agora somos duplamente contra", disse Francini.
"A Fiesp tem uma posição muito clara contra a alta da Selic, porque considera que a capacidade produtiva da indústria não está ameaçada. Existe folga dentro da estrutura industrial para alicerçar o crescimento do país", destacou. Para Francini, a redução da oferta de crédito resultará em aumento do custo dos financiamentos. "Os efeitos serão semelhantes ao aumento da Selic para empresas e consumidores, mas sem impactar as contas públicas."
Surpresa
A decisão do BC também causou "certa surpresa" ao gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Segundo ele, as medidas que flexibilizaram o recolhimento compulsório, para enfrentar a crise, estava previstas para acabar ao fim de março, se não fossem prorrogadas.
No entanto, na avaliação do economista, "nossos compulsórios são muito elevados, causam problemas e distorções": "É necessário que o nível de compulsório seja adequado aos padrões internacionais, defendeu. Para Castelo Branco, a medida anunciada terça-feira à noite talvez seja um indicativo de que o Banco Central considera haver uma expansão do crédito.
Perguntado se a alta dos compulsórios poderia postergar um aumento da Selic, fruto de forte lobby do mercado financeiro, o economista da CNI disse que, apesar de o compulsório ser um dos componentes da política monetária, no Brasil, ela tem sido mais calibrada pelo movimento da taxa básica de juros.
A CNI informou ainda que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) recuou de 68,7 pontos em janeiro, para 67,8 pontos em fevereiro. A CNI destaca que, apesar da queda, o índice permanece 9,2 pontos acima da média histórica (58,6 pontos). "As empresas estão esperando um bom ano, com aumento de produção, de horas trabalhadas e do nível de emprego", afirmou Castelo Branco.
Com informações da Agência Brasil