A Torre de Babel européia e o "problema alemão"
Um grande mercado, uma moeda comum, um banco central comum e dezesseis economias diferentes. Assim, era preciso eclodir a crise para se tornar perceptível quão perigosa e ameaçadora é a européia Torre de Babel econômica.
Por Laura Britt, no Monitor Mercantil
Publicado 24/02/2010 15:16
Ameaçadora para o maior fator da edificação econômica européia, que é obviamente o euro. Uma olhada sobre os quadros com os fundamentals dos 16 países integrantes da Zona do Euro não deixa margens de dúvida: as diferenças são vertiginosas, tanto no que diz respeito as economias que participam da coletividade do euro, quanto aos euros que têm no bolso os habitantes da eurozona. O sonho de agrupamento monetário, que desde o início constituiu o papel principal da Comunidade de Moeda Comum, agora não parece somente longínquo mas transformou-se em pesadelo.
Doze anos após a circulação contábil da moeda comum, os problemas dos estados europeus são gigantescos e as coordenadas intervenções em nível europeu são realizadas única e exclusivamente pelo Banco Central Europeu(BCE).
Para uma política econômica ou desenvolvimentista comum (para coordenado aumento-redução dos gastos públicos, por exemplo) a legislação européia abre apenas uma "janela" aos estados que apresentam orçamentos superavitários. A propósito, recentemente a frase "orçamento superavitário" ouve-se como uma curta anedota ou até um palavrão.
Toneladas de tinta consumiu a imprensa européia nas últimas semanas para descrever e analisar a denominada "tragédia grega" (imitada aliás por toda a imprensa ocidental). Mas, sabe-se que os problemas fiscais gregos constituem apenas o motivo para o selvagem ataque da comunidade internacional dos investidores e dos investimentos contra as debêntures gregas, dissimulando seu verdadeiro alvo: o euro.
Razão óbvia foi o exercício da atividade investidora – especuladora indiscutivelmente – porque objetivo de qualquer investimento é o lucro e não a salvação da Carreta-carreta. E, como se sabe, a incerteza e a convulsão "alimentam os mercados e os investidores-especuladores, enquanto, a segurança e normalidade os matam".
A blitzs dos especuladores
Interpretações conspiratórias do ataque contra o euro existem obviamente muitas. Porém, no caso específico são rejeitadas, se alguém pensar que o resultado do "ataque dos especuladores" favorece os estados-caças – Alemanha e França – considerando que a desvalorização do euro favorece suas exportações.
As idéias sobre centros estrangeiros que manipulam a "desvalorização até terraplenar" do euro são, provavelmente, tolices. Se então alguém pensar que problemas em um grupo cria alguém que escapa dele, o problema não é da Grécia. Porque aquela que escapou é a Alemanha.
Em maio de 2008 – isto é, antes da crise atingir essencialmente as economias européias – Arnauld Leparmentier, colunista do jornal francês "Le Monde", resolveu investigar quem andava torto: a Alemanha ou seus parceiros? Relatou o ponto de vista de Jerome Krel, economista do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OPCE), que acusou a Alemanha de "tendo jogado a carta de deflação competitiva, colhe agora os frutos de uma estratégia que desenvolveu em detrimento de seus parceiros".
Trata-se de um ponto de vista que se apoia sobre a lógica do grupo que foi descrito: culpado é quem escapa. E o "desvio" alemão parece também do fato de que a surpreendente valorização do euro em 70% na última década, de forma alguma, afetou as exportações alemãs. O Leparmantier é mais pragmático e apressa-se para anotar:
"Ao invés de tratarem de melhorar as questões macroeconômicas de seus países, os ministros europeus de Economia ocupam-se, principalmente, com a cada vez mais ampliada diferença de competitividade da economia alemã. Berlim colhe os frutos de uma década de contenção dos aumento salariais, enquanto, os estados do Sul europeu, após terem aproveitado a queda das taxas de juros para se superendividarem e superconsumirem, pagam agora a perda de sua competitividade".
Mais pobres na pobreza
Além da pergunta se são os alemães que andam torto ou era torto o caminho (isto é, os outros), a crise que atua já revelou as congênitas patogenias e as fraquezas de planejamento da edificação européia. E estas, obviamente, decorrem da falta de vontade política para uma essencial unificação política e econômica.
O que – anotem – não é indispensável chegar até o federalismo, palavra que continua chocando muitos. Vontade política haveria se os ministros de Economia conseguissem reequilibrar a catastrófica e morna política monetária exercida nos últimos anos pelos "empoados" banqueiros do Banco Central Europeu (BCE) para os países com inflação alta, como eram a Espanha e a Irlanda.
"Tentamos convencê-las para elevarem a tributação dos imóveis, mas, em vão", revelou ao "Le Monde", "alguém que participou das reuniões ordinárias e extraordinárias do Eco/Fin" (grupo dos ministros europeus de Economia). O problema de convergência no que diz respeito a competitividade e a produtividade soluciona-se de duas formas: ou com gigantescos aumentos salariais dos alemães ou com redução de salários dos supervalorizados e competitivamente carentes parceiros (espanhóis, irlandeses, portugueses e, obviamente, gregos).
Os investimentos em tecnologia, educação e flexibilidade do mercado de trabalho não bastam, conforme comprovou o exemplo irlandês. Entretanto, a frau Merkel (Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha) não quer detonar a inflação e a competitividade da Alemanha às alturas. E porque todos os demais não podem sequer empobrecer, deverão, obrigatoriamente, ficarem pobres.
Federalismo Tributário
Uma impressionante idéia de "composição tributária" na Zona do Euro foi formulada em estudo que publicaram, aqui na Europa, os Silven Bruallet e Kostá Briner, economistas da empresa financeira francesa Natixis (revelada na edição da segunda-feira (22) do MM). Os dois economistas transferiram, em nível de Zona do Euro, o sistema tributário da Alemanha, onde os percentuais de tributação direta dependem da robustez econômica de cada estado federado e de seus habitantes (especificamente, de seu poder aquisitivo).
Assim, a média do Imposto de Renda que deverá recolher o habitante da Zona do Euro é 7.145 euros/ano. Considerando a população de cada país, os Bruallet e Briner concluíram que os habitantes de Luxemburgo deverão recolher 13.000 euros/ano (per capita, incluindo os menores e alunos de escolas). Os finlandeses recolherão 3.500 euros, os franceses 940, os italianos 310, enquanto, os alemães, apenas 100, porque "os estados federados do Leste são ainda muito pobres".
Já os habitantes de sete países não recolherão impostos, mas, receberão cada: Os eslovacos, 5.130 euros/ano, os de Malta e Portugal 3.300, os gregos e eslovenos, pouco menos de 3.000, enquanto, os espanhóis, 2.100 e, os de Chipre, 341. Entende-se que, os valores multiplicados com a população de cada país, serão acrescidos aos respectivos orçamentos.