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Não deixem a Grécia sozinha contra os especuladores

Para aqueles que se lembram de outras crises financeiras, a decisão de Jean-Claude Trichet, de voltar mais cedo da Austrália para participar de uma reunião de cúpula da União Europeia, teve uma certa ressonância.

Por Larry Elliott*,do The Guardian, no O Estado de S. Paulo

Como observou o respeitado economista da City, Stephen Lewis, a notícia de que o presidente do Banco Central Europeu interrompeu visita do outro lado do mundo, faz lembrar as imagens de Denis Healey dando voltas com seu carro no aeroporto de Heathrow, tentando encontrar uma saída para a crise da libra, que acabou necessitando da ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Uma década diferente, uma moeda diferente, mas a mesma história. Um país lutando com problemas econômicos severos e fortemente endividado é alvo dos especuladores financeiros. O problema da Grã-Bretanha em 1976 é o da Grécia em 2010. Traders e fundos hedge, segundo notícias, apostaram US$ 8 bilhões que os problemas do elo mais fraco da zona do euro resultaria numa queda no valor da moeda única.

Joseph Stiglitz, economista agraciado com um premio Nobel de Economia, disse ao Guardian que a única maneira de lidar com especuladores é combatendo o fogo com fogo. Para ele, a Europa deve agir como Hong Kong agiu quando, primeiro a sua moeda, depois a bolsa, foram os alvos na crise asiática de 1997-1998, e o país "queimou os especuladores".

Stiglitz apoia plenamente a campanha em favor de uma taxa "Robin Hood" sobre as transações financeiras, mas acha que uma pequena cobrança de 0,05% não será suficiente para deter os ataques especulativos contra a Grécia. Em vez disso, a resposta seria a Europa mostrar que está comprometida em ajudar a Grécia, o que "reduzirá a oportunidade de ganhos especulativos".

Por sorte, uma reunião de cúpula em Bruxelas, hoje, convocada para se planejar uma maneira de tornar a Europa a economia mais dinâmica e competitiva do mundo em 2020, é a grande oportunidade para os líderes dos 27 países-membros adotarem medidas mais robustas contra ataques especulativos.

Até agora, os países-membros estavam aferrados ao disposto no tratado de Maastricht, que estabelece que "a comunidade não pode arcar com compromissos assumidos por governos centrais, regionais, locais, ou outras autoridades públicas de um país-membro". Isso significa que um país em dificuldade não pode esperar que a Alemanha colabore para um pacote de socorro financeiro.

Segundo o economista, a insistência de que a Grécia deve resolver o seu problema sozinha, não produz o efeito desejado que acalmar os mercados. Longe disso. Desde que premiê grego George Papandreou anunciou planos draconianos para reduzir o déficit orçamentário do país, de quase 13% para 3% do PIB , num período de três anos, os ataques especulativos se ampliaram para Espanha e Portugal, levantando dúvidas se a moeda única sobreviverá na sua concepção atual. Daí o retorno de Trichet da Austrália.

Portanto, o que deve suceder agora? A primeira coisa que os presidentes, primeiros ministros e chanceleres, reunidos nessa cúpula, devem fazer é encontrar a linguagem certa para mostrar solidariedade com os membros mais frágeis do clube europeu. Como Stiglitz observou, os governos têm se mostrado mais indulgentes com os bancos do que com nações soberanas. O sentimento de que os países estão sós tornou os mercados mais febris.

O segundo desafio é encontrar uma maneira para sair dessa camisa de força que impede um socorro financeiro. Stephen Lewis, economista da Monument Securities, diz que o tratado de Maastricht oferece pouquíssimo espaço de manobra, quando determina que os países podem ser ajudados financeiramente somente quando enfrentam severas dificuldades causadas por desastres naturais ou circunstâncias excepcionais além do seu controle. A Grécia com certeza é um país em dificuldades, e Atenas vem dizendo que os ataques dos especuladores estão além do seu controle.

Em terceiro lugar, tem que haver um mecanismo para esse apoio ser fornecido. Embora a Grécia tenha o maior déficit orçamentário da zona do euro, nenhum dos demais membros, inclusive a Alemanha, está nadando em dinheiro, o que torna um pacote de ajuda aos contribuintes um fracasso já de início. Uma alternativa – oferecida por John Monks, secretário-geral da Confederação Europeia das Federações de Comércio, é a União Europeia lançar títulos como parte de um "New Deal para a Europa".

Finalmente, os líderes europeus precisam parar de negar que existem fraturas na moeda única, fraturas que foram brutalmente expostas pela recessão. Existem, e sempre existiram, problemas com uma política monetária de uma única moeda comum a todos, especialmente quando não há nenhum meio de fazer transferências orçamentárias de países ricos para pobres, e a mobilidade de mão de obra é pequena. Assim, a única maneira de os países se ajustarem é por meio de uma deflação. Enquanto essa falha fundamental não for corrigida, o euro permanecerá forte, mas vulnerável.