Kerison Lopes: O fator Zé Alencar
A clareza de que o nome do vice-presidente José Alencar estará na urna eletrônica das próximas eleições, inclusive bastante inclinado a concorrer ao governo do estado, mexeu profundamente no xadrez eleitoral de Minas e do Brasil.
Publicado 11/02/2010 16:38 | Editado 04/03/2020 16:50
O anúncio foi feito para dirigentes do PT e do PCdoB que o visitaram em seu gabinete na quinta-feira passada (4) em Brasília. A motivação apresentada por Alencar é fortalecer ao máximo o palanque de Dilma. A partir dali, várias movimentações políticas foram consequência desta mexida no tabuleiro.
Naquela reunião, Alencar colocou dois condicionantes para seu nome ir para a disputa para o governo, ser consenso dos partidos da base aliada de Lula no estado e estar com a saúde preparada para enfrentar o batido.
Pedidos
O primeiro pedido foi prontamente atendido. No outro dia, as direções do PCdoB e do PT se reuniram e lançaram empolgadas o nome de Alencar. Na mesma hora, Hélio Costa, Patrus Ananias e Fernando Pimentel, pré-candidatos, deram declarações de que abrem mão da cabeça de chapa para Alencar.
Os dias de Zé Alencar que se seguiram foram de pura pré-campanha, com homenagens, visitas, coletivas, incluindo um grandioso ato com mais dois mil petistas que se unificaram para entregar-lhe o título de militante honorário. Nesta atividade, cada vez que no microfone era ventilada sua possível candidatura ao governo o público ia ao delírio. Além disso, vários partidos que participam do governo Aécio e tendencialmente estariam aliados com Anastasia declaram vontade de apoiar o vice-presidente.
Falta agora o segundo condicionante. Alencar anunciou que em meados de março fará exames médicos para avaliar as condições. Porém, já anuncia alegre que os últimos exames mostraram uma redução de 90% do tumor.
Até março, o nome deste mineiro passa a ser o principal nome da base aliada do governo Lula em Minas. Vários sinais foram enviados pelo Palácio do Planalto neste sentido, mesmo com a chiadeira de setores do PMDB que acham que o nome de Lula tem que ser Hélio Costa.
Jogo virado
A lição que se tira destas movimentações é que o vice-presidente reverteu o jogo que até aqui era favorável em Minas para os tucanos e setores conservadores ligados ao governador Aécio Neves. Derrotado na disputa com José Serra pela pré-candidatura à presidência, Aécio voltou os olhos para Minas. Concentrou-se em manter o seu poderio no governo estadual, através da candidatura do seu vice Antônio Anastasia e eleger-se com ampla votação para uma cadeira no Senado.
Como em Minas sempre os ocupantes do Palácio da Liberdade saem com ampla vantagem para a disputa, Anastasia, que estará sentado na cadeira de governador durante o pleito, mostra-se fortíssimo concorrente.
Do outro lado, o campo do governo Lula enfrentava dificuldades. Os dois maiores partidos, PT e PMDB, acabaram de sair de disputas fratricidas pela composição dos seus diretórios. Com três fortes candidatos ao governo, Hélio Costa, Patrus Ananias e Fernando Pimentel, a falta de entendimento poderia comprometer a preciosa chance das forças progressistas chegarem ao Palácio da Liberdade.
Até que surgiu o fator Alencar, para bagunçar o coreto. O campo do governo Lula saiu do cheque imposto por Aécio e impôs uma ofensiva. Com a possível candidatura de Alencar, um novo cenário se abre: a fragmentada base do Lula se unifica em uma só voz e o vice-presidente passa a ser o franco favorito para a disputa.
Alencar hoje é uma unanimidade em Minas (e no Brasil). Este apoio vem também em função da sua luta gloriosa contra o câncer e pela sua vida, mas antes de mais nada pela sua conduta pública exemplar, principalmente pela sua lealdade e compromisso com o projeto de mudança do país que se instalou a partir de 2003. Qualquer cadeira que disputar em Minas será franco favorito, inclusive a de governador.
Reação?
Depois de uns dias sentindo o golpe, Aecistas esboçaram uma reação. Na segunda-feira (8) em que Alencar teve uma agenda de campanha em Belo Horizonte, discursando em três eventos, dois em sua homenagem, políticos ligados a Aécio realizaram uma reunião e reinauguraram a sede do PSDB em BH. Tudo para dizer que não estavam nem ai pra Alencar e continuavam convictos do favoritismo de Anastasia.
Em outra frente, colunistas da mídia corporativa soltaram seus artigos encomendados apelando para o mais baixo nível (vide Ricardo Noblat, Lucia Hipólito, etc…). A cantinela é que Alencar está muito doente e não aguentaria o pique da campanha e do trabalho de governador. Além disso, chamam os petistas de desumanos por levantar a hipótese da candidatura. Como são bonzinhos e piedosos!
Esquecem os colunistas de dizer da agenda intensa que o homem já tem como vice. Nestes anos ao lado de Lula, Alencar assumiu o governo por volta de 500 dias. Ele está se colocando muito bem diante do ritmo imposto nestes tempos em que virou alvo de romarias partidárias diversas para lhe hipotecar apoio. Aliás, não dizem que enquanto Alencar está nesta intensa agenda, Aécio acaba de tirar mais dez dias de férias, pena que ninguém nunca somou quantas já foram nestes sete anos. Deveriam saber que trabalho é também uma questão de compromisso e dedicação.
Raposa
Alencar não é nenhum inocente. Mede cada palavra e cada passo como a maior raposa viva da política mineira. Chamado por integrantes das alas do PT a ajudar a mediar as discussões para tentar chegar em um nome de unidade, Alencar, como bom guerreiro que é, viu qual era sua principal missão política: angariar o maior número de votos para sua candidata Dilma no segundo colégio eleitoral do país.
Entendeu Alencar que é peça central para a campanha de 2010. Pode liderar este movimento de continuidade do projeto em que ele foi o segundo homem. Ele é quem melhor simboliza o governo Lula em Minas.
Os assessores mais próximos de Alencar dizem que ele está extremamente empolgado com o desafio. A forte convicção que sai é que teremos Alencar como candidato em 2010. Se é para governador, falta muito pouco para termos certeza.
Por Kerison Lopes