Em pânico, os 27 líderes europeus se reúnem em busca de solução
Finalmente, os 27 "empoados" líderes dos países-membros da União Européia (UE) deixaram o orgulho de lado e resolveram reconhecer que a crise econômica que assola Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda não é um fenômeno da "periferia européia", mas sinaliza a existência de uma bolha comunitária que ameaça o Continente Europeu inteiro.
Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil
Publicado 11/02/2010 14:51
Assim, resolveram botar suas respectivas barbas de molho e reúnem-se nesta quinta-feira aqui, em Bruxelas, em atípica reunião de cúpula para discutirem como a UE sairá da grave crise econômica em que se encontra. (Finalmente, "confessaram" os fracassos de seus próprios "programas de recuperação").
O apoio verbal que ofereceram semana passada à Grécia – reservadamente, em alguns casos, e até sem muita vontade – teve como resultado o crescimento dos temores de que, talvez, a crise fiscal e de dívida pública da Grécia contamine as demais – já contaminadas – economias.
Em consequência, os "empoados" líderes da UE pensaram que, com objetivo de evitar uma visível crise generalizada que provocaria a quebradeira do euro, deverão hoje conformar uma decisão política de âmbito comunitário que convencerá os "mercados especulativos" de que nenhum país-membro da UE será deixado à mercê da própria sorte.
Garantias à Grécia
Por ocasião do fim de semana passado, os ministros europeus de Economia que participaram do último convescote do Grupo G-7, na Canadá, tentaram fortalecer a confiança dos "mercados especulativos", garantindo-lhes que "a Grécia executará, literalmente, as medidas exigidas pela Comissão Européia (CE) – órgão executivo da UE – e pelo Banco Central Europeu (BCE) para redução de seu déficit".
Complementando, a delegação da França asseverou às demais delegações que os europeus (referia-se aos 27 "empoados" líderes dos países-membros) garantirão que o governo de Atenas reduzirá seu déficit. E Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, se disse "convicto" de que a Grécia reduzirá seu déficit abaixo de 3% até 2012, cumprindo assim a definição do Acordo de Estabilidade e Desenvolvimento da UE.
Desta fartura de confirmações e garantias parece que se convenceu o secretário de Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, que declarou: "Os europeus nos garantiram que "gerenciarão (a situação na Grécia) com grande atenção". Já a delegação da Alemanha foi muito mais econômica, afirmando que "a Grécia deverá pagar o preço da explosão de seu déficit".
Por sua vez, o novo comissário para o mercado interno da UE, Michel Barnier, parece que está preparando uma proposta para criação de mecanismos de controle no funcionamento do mercado de produtos, ao qual incluem-se também as debêntures estatais, por intermédio dos famigerados contratos de compensação de risco (CDS).
Divergências sobre UE 2020
Neste clima, então, de simulações e sorrisos amarelos se reunirão na art-deco biblioteca Sovet aqui, em Bruxelas, os 27 líderes, sob a presidência do novo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Na agenda deste atípico conselho consta a "Estratégia da UE 2020", relativa à saída da Europa da crise econômica, o "Combate à mudança climática" e a "Destruição do Haiti".
O trabalho de Van Rompuy não será fácil, considerando que até hoje existem opiniões discordantes sobre a forma de adoção e execução da "Estratégia da UE 2020". Isto é, se os países-membros que não seguirão as recomendações do Conselho sofrerão sanções ou, ainda, se serão pagos com incentivos apenas.
De Angela Merkel, da Alemanha, e de Nicolas Sarcozy, da França, espera-se que apresentarão uma propostas franco-alemã comum para "fortalecimento da governança econômica da UE".
Avalia-se que incluirá a expansão no total da economia (Comissão Européia e Conselho Europeu) que já está sendo adotada no que diz respeito a questões fiscais e funcionamento do mecanismo destinado a execução das decisões. À margem da reunião, considera-se, seguramente, que serão discutidos os problemas de competitividade que enfrentam vários países da Europa, como a Grécia, Portugal Espanha, Irlanda e outros.
Sem dúvida alguma será discutida, também, qual deverá ser a reação da UE, particularmente considerando que ambiciona tornar-se uma união política, e não simplesmente um mercado comum. Recorda-se que, quando no nem tanto longínquo 1991 tomou-se a decisão histórica para a criação da moeda comum – o euro – vários líderes europeus diziam que "a união monetária será a outra metade da política". "Sem esta", disse o então chanceler alemão, Helmut Köhl, "a união monetária não passará de um castelo de areia".