Ucrânia não tem espaço para outra "revolução laranja"
"Em 7 de outubro foi realizado o segundo turno das eleições presidenciais na Ucrânia. Segundo dados provisórios da Comissão Eleitoral Central da Ucrânia com 99% dos votos já apurados, 48,66% dos ucranianos votaram em Viktor Ianukovitch, enquanto 45,75% votaram na situacionista Iúlia Timochenko. A diferença é de 2,9%, um resultado bastante previsível". Por Iván Miélnikov, secretário de Organização do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa.
Publicado 08/02/2010 18:52
Ianukovitch liderou claramente a campanha antes do primeiro turno, depois e agora. Por isso acho estranho que Iúlia Timochenko tente algo para não reconhecer os resultados
Se analisamos de um modo objetivo a "sociologia eleitoral", se alguém somou votos de um "modo estranho", esse alguém foi precisamente Iúlia Timochenko.
É difícil imaginar de onde Iúlia conseguiu aumentar em 21 pontos percentuais o seu resultado, partindo dos 25% obtidos no primeiro turno, e que, mesmo assim, foi insuficiente. Se somassemos de uma maneira burda e mecânica os votos dados à "direita", aos "liberais" e aos "pró-ocidentais", personificados nos votos obtidos pelos candidatos Iuchtchenko e Iátseniuk, ela somaria mais 12%.
Somemos a isto uma modesta porcentagem de voto nacionalista e alguma coisa do canditato Tiguipko. Em qualquer caso, o teto eleitoral não passaria de 15% a 17%. De todas as formas, as regras da somas de votos em dois turnos de eleições não são muito fiáveis, por isso, o normal é que a soma seja menor.
Daí que as lamentações por uma suposta "fraude" não se sustentam com a lógica elementar, já que Iúlia não contava com a reserva necessária para dar o salto que a permitisse seguir adiante.
Volto a assinalar que não podemos esquecer um detalhe importante: no primeiro turno ela obteve 5% menos que o que conseguiu nas últimas eleições legislativas. Com pano de fundo dessa dinâmica negativa, os 46% de seu resultado de domingo é o mais otimista possível.
Creio que nos próximos dias se colocará um ponto final a estas eleições. O potencial de protesto "laranja" está esgotado. O que ocorreu em 2004 não é algo que acontece todo dia. Tem seu dia e hora, quando tudo coincide no mesmo ponto.
Naquela ocasião, as forças ocidentais souberam captar o ânimo das pessoas. Hoje as pessoas não estão interessadas no caos, elas precisam de estabilidade no sistema de fornecimento de petróleo e gás, para que a Europa não fique sem energia.
E os ucranianos querem a certeza. Iúlia entende que, se tentar agora arriscar alguma coisa e tomar a iniciativa nas ruas, os partidários de Ianukovitch, que estão esperando este momento há cinco anos, vão varre-los da política real.
Espero que Iúlia Vladimirovna o avalie de forma sensata, recorra às negociações às quais está acostumada e felicite Ianukovitch.
Na história da política há uma infinidade de exemplos de quando as vitórias são obtidas com uma vantagem exígua, e ninguém as discute. Iúlia deve dar-se por mais que satisfeita, de ter tido todas as condições para uma luta honrada e aberta, ao contar com os recursos do poder.
Se houvesse de competir na Rússia, teria compreendido o que significa, de verdade, a falsificação e a desvantagem de condições.