Menos de 10% dos médicos do Amazonas estão no interior

Dos 3,2 mil médicos que atuam no Amazonas apenas 9% a 10% atuam no interior do Estado. O restante, informa o Conselho Regional de Medicina (CRM), atua na Capital, ainda que praticamente metade da população

Preocupada com esta realidade, a coordenadora da bancada do Amazonas no Congresso Nacional, deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), encaminhou requerimento ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, solicitando providências que solucionem o déficit de médicos. No documento, a parlamentar destaca o artigo 196 da Constituição Federal, que garante saúde a todos, como um dever do Estado através de políticas sociais com este objetivo.


 


Vanessa destaca a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que preconiza, como ideal, um médico para cada grupo de mil habitantes. “Levando em consideração os números do Amazonas, de médicos e população, precisamos de pelo menos mais 1.118 profissionais”, destaca a deputada no documento encaminhado ao Ministério da Saúde. A parlamentar também vem mantendo conversas com o CRM e o poder legislativo em busca de alternativas para o problema.


 


O presidente do Conselho Regional de Medicina do Amazonas, médico José Bernardes Sobrinho, afirma que o problema existe porque não há um plano de cargos, carreiras e salários que torne a atuação médica no interior atraente, já que as localidades não oferecem boas condições de trabalho. “O Governo do Estado precisa definir um plano de cargos, carreiras e salários que considere inclusive uma espécie de bônus para os médicos que atuarem nas localidades mais distantes da Capital”.


 


José Bernardes explica que por causa da falta de um plano que valorize a atividade, praticamente metade dos salários que os médicos clínicos gerais hoje ganham, entre R$ 9 mil a R$ 10 mil, é paga pelas prefeituras. O problema, explica, é que por causa desta relação os profissionais, em muitos casos, são induzidos ou mesmo obrigados a atuar nas campanhas políticas dos prefeitos nos anos eleitorais. Segundo ele, além desta questão, a dificuldade de deslocamento prejudica até mesmo que os médicos se reciclem.


 


Propostas


 


O presidente do CRM-AM afirma que outra forma de se combater o déficit de médicos no interior do Amazonas seria através da criação de um fundo tripartite, entre os governos de todas as esferas, que inclusive poderia destinar recursos para a remuneração dos profissionais da área. Este fundo, da mesma forma, seria fiscalizado pelos municípios, Estado e União e sociedade civil organizada. Atualmente, os médicos que atuam na rede pública em Manaus recebem entre R$ 8 mil e R$ 10 mil.


 


Em seu requerimento, a deputada Vanessa defende ainda a implantação de uma norma infralegal que assegure a permanência dos profissionais estrangeiros que atuam na região ou mesmo que convênios ou acordos bilaterais sejam firmados com os governos dos países que fazem fronteira com o Amazonas para a oferta de profissionais. É que muitos profissionais desses países vêm para o Estado, têm o diploma revalidado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mas após ganharem o benefício, se transferem para outras regiões brasileiras.


 


De Manaus,
Hudson Braga