Lula: “faremos o melhor Pan da história”
Animado com o Pan-Americano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu ontem (11) entrevista coletiva a jornais do Rio, São Paulo e Brasília para falar dos Jogos. Ele disse acreditar que o País mostrou capacidade de organizar grandes eventos e
Publicado 12/07/2007 17:34
“O mais importante é a imagem que o Brasil pode construir no exterior. Se tem uma coisa que os países sul-americanos precisam conquistar nos centros de decisão é credibilidade”, disse Lula, que na coletiva esteve acompanhado do ministro do Esporte, Orlando Silva, que ajudou o presidente a esclarecer alguns questionamentos feitos pelos jornalistas.
Lutador de boxe na juventude, Lula defendeu os custos do Pan. Segundo ele, gastos elevados ocorreram devido à qualidade dos equipamentos. “No Brasil, muitas vezes, temos o hábito de nivelar tudo por baixo, dizendo 'ah, aquilo daria para fazer 10 casas populares, aquilo daria para fazer 10 ruas na favela', sem levar em conta que cada coisa representa o momento”, justificou.
Orgulhoso, o presidente foi taxativo: “Estaremos realizando os melhores Jogos Pan-Americanos de toda a história”.
Participaram da coletiva, jornalistas dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Dia e Correio Braziliense.
Veja abaixo, a íntegra da entrevista (as perguntas dos jornalistas estão em negrito):
A idéia de ter esta conversa com vocês sobre o PAN é porque para o governo, para mim, pessoalmente, e para o Orlando, que está envolvido nisso de corpo e alma, o PAN não é apenas a oportunidade de realizarmos um grande evento internacional no Brasil. Eu acho que é mais do que isso. Eu acho que, independentemente das medalhas que a gente possa ganhar, independentemente de ser a maior delegação brasileira de todos os tempos a participar de Jogos Pan-Americanos, eu penso que o que vai ser mais importante, até do que o legado que vamos deixar no Rio de Janeiro depois que o PAN terminar, é a imagem que o Brasil vai poder construir no exterior sobre a sua capacidade de organizar e de concretizar eventos dessa magnitude. Por que isso? Porque nós estamos pleiteando a Copa do Mundo de 2014, nós estamos pleiteando e sonhando que um dia a América do Sul e o Brasil poderão vir a ser sede de uma Olimpíada e, para isso, nós precisamos fazer um evento que seja marcante, não apenas por uma estrutura de qualidade, mas que seja marcante pela qualidade da organização, que seja marcante pela qualidade da segurança que nós oferecermos aos atletas, que seja marcante pela qualidade do tratamento que o povo brasileiro, sobretudo o povo que vai participar do PAN, vai dar aos atletas estrangeiros que virão e, também, pela performance que o Brasil tiver nas competições.
Eu acho que tudo isso forma um conjunto de coisas que se transformam num legado que o Brasil pode deixar como imagem para o mundo porque, a partir de agora, eu acho que o Brasil precisa competir todas as vezes em que tiver competição para uma Olimpíada e dizer que tem capacidade de fazer, que tem coragem de fazer.
No Brasil, muitas vezes, nós temos o hábito de nivelar tudo por baixo. A culpa não é de ninguém individualmente, eu acho que a culpa é cultural. Nós, muitas vezes, achamos “ah, mas está fazendo tal coisa, é muito caro, está fazendo tal coisa, é muito bom, aquilo daria para fazer dez casas populares, aquilo daria para fazer dez ruas na favela, aquilo daria para montar dois postos médicos”, sem levar em conta que cada coisa representa o momento do evento que estamos fazendo. Vamos ver o que aconteceu em outros Pan-Americanos, sem fazer julgamento. Por exemplo, nós tivemos o PAN de Santo Domingo, em que faltou energia elétrica. Nós, aqui no Brasil, dobramos a disponibilidade de carga de energia elétrica para evitar que a gente tenha problemas como o que aconteceu ontem na Venezuela, no jogo, porque aquele esfriamento só interessou ao Uruguai. Nós, então, dobramos a capacidade de carga que temos disponibilizado para o PAN e, hipoteticamente, se nós tínhamos 100 megawatts, nós colocamos 200 megawatts disponíveis para que a gente não tenha nenhuma surpresa, nenhuma possibilidade de apagão durante os eventos desportivos.
Tudo isso para dotar o Brasil de credibilidade, porque se tem uma coisa que os países sul-americanos precisam conquistar nos centros de decisão, em nível mundial, é a credibilidade, é mostrar que nós temos competência, que temos organização, que temos condições de fazer coisas melhores do que eles. Então, quando for dada a abertura dos Jogos Pan-Americanos, vocês podem ter certeza de que nós estaremos realizando, eu diria, os melhores Jogos Pan-Americanos de toda a história, com o centro esportivo dos mais modernos de qualquer outro momento da história do Pan-Americano. Isso tem sido dito por atletas, tem sido dito por especialistas, tem sido dito pelas confederações. Nós tentamos fazer aquilo que era o melhor, ou seja, vamos ter os Jogos, não vamos fazer nada “meia boca”, vamos fazer as coisas que têm que ser feitas para as pessoas perceberem que nós temos condições de fazer coisas boas.
Depois, qual é a minha preocupação? – eu estava conversando com o Orlando – depois que terminar o PAN, todo mundo vai embora, cada um conta as suas medalhas, o Centro Esportivo vai ficar lá. É preciso que o governo trate – junto com as confederações que, no fundo, no fundo, serão as responsáveis por manter, em cada área, o centro esportivo criado para as suas finalidades – de manter aquilo em franca disponibilidade para outros eventos esportivos internacionais, para eventos esportivos nacionais, para eventos esportivos estaduais, e que se discuta, com muito carinho, como a comunidade vai participar na utilização dessas praças que estão montadas, desses centros esportivos que não podem ficar ociosos. Aquilo é que nem um aparelho eletrônico, aquilo tem que estar em constante uso para que tenha significado de utilidade pública depois que terminarem os Jogos Pan-Americanos.
Uma outra coisa que eu queria dizer para vocês é o seguinte: os Jogos Pan-Americanos, vocês sabem que terminou em uma disputa entre São Paulo e Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro ganhou e, para nós, do governo federal, independentemente de quem era prefeito, de quem era governador, nós sabemos que, no fundo, no fundo, o que está em jogo é a imagem do Brasil na sua capacidade de arrumar as coisas. Obviamente que a imagem que vai ficar agora é a imagem do Cristo Redentor como uma das Sete Maravilhas, a imagem das águas, das praias e do povo do Rio de Janeiro. Se der certo, vai ser tudo maravilhoso, essa imagem vai ser carregada com muito orgulho para fora do Brasil.
Então, nós cuidamos para evitar que as coisas dessem errado, porque se dessem errado o que ia ficar na praça era que o Brasil não tinha competência para organizar os Jogos Pan-Americanos, não seria a cidade do Rio de Janeiro, não seria o estado do Rio de Janeiro, seria o Brasil que no fundo, no fundo, ia ser acusado de não ter competência. De forma que nós vamos abrir na sexta-feira os Jogos Pan-Americanos, eu estou convencido de que os Jogos Pan-Americanos serão motivo de orgulho para o povo brasileiro e para todos os atletas que estarão presentes, competindo nesse Pan-Americano.
Jornalista: Presidente, o senhor falou sobre a necessidade de transformar o Brasil numa potência olímpica. Os Jogos estão prontos, os equipamentos estão prontos, e agora a idéia é que as confederações cuidem deles. Mas de que forma o governo federal pretende atuar junto aos jovens – o senhor tem insistido no tema dos jovens e da recuperação da juventude – para trabalhar o esporte no Brasil, tentando criar uma potência de atletas para as próximas Olimpíadas de 2012, 2016?
Presidente: As próximas? Olha, depois o Orlando pode até falar do programa Segundo Tempo. Nós estamos organizando agora, no governo, um programa juntando todos os programas que cuidam da juventude, para que a gente possa apresentar para o Brasil um programa mais abrangente para a juventude, para ver se é possível atender 4 milhões e meio de jovens que estão meio deserdados da sorte ou da estrutura do Estado brasileiro.
Mas, mais do que isso, é preciso que a gente pense a longo prazo. Por exemplo, as universidades brasileiras e as escolas brasileiras precisam ser dotadas de centros esportivos para que ali, na escola, a pessoa seja levada a fazer a sua primeira opção esportiva. Se na escola, se na cidade, se na vila em que a pessoa mora tem um campo de futebol, tem uma pista de corrida, tem uma piscina para natação ou tem outra coisa qualquer, uma quadra de vôlei ou de basquete, e tiver incentivo do poder público, municipal, estadual e federal, se tiver incentivo das escolas, obviamente que nós vamos permitir que esse jovem tenha uma opção por um esporte qualquer.
Eu pegaria dois exemplos: campo de futebol de várzea no Brasil, que está rareando nos grandes centros urbanos, mas que ainda é muito grande em todas as cidades brasileiras, e quadras de basquete nos Estados Unidos. Não tem lugar em que você ande que não tenha uma quadra em que você veja a molecada brincando. É isso que permite que as pessoas peguem o primeiro sabor, o primeiro gosto por ser um esportista. Se nós tivermos, na escola, aulas de educação física que induzam o aluno a fazer a opção que melhor lhe convier, e se o Estado brasileiro – através dos seus três entes federativos, mais Ministério do Esporte, Secretaria de Esportes – tiver uma política de oferecer oportunidades para a juventude, eu não tenho dúvida nenhuma de que nós poderemos nos transformar numa grande potência olímpica. E por quê? Porque o Brasil tem potencial, o povo brasileiro gosta disso, o povo brasileiro vive isso.
Agora, tem determinados esportes que o povo não tem onde praticar. Tênis, por exemplo, o povo não pode praticar. Hoje, nas grandes cidades, o futebol, quem não puder pagar uma escolinha tem dificuldade porque os terrenos estão rareando cada vez mais. No meu tempo de moleque, você andava numa rua e eram 12 campos, um atrás do outro. Quem conhece São Paulo e vai à favela de Heliópolis, ali eram 40 campos de futebol. Você ia, no domingo ali e tinha 80 times jogando, só faltava os jogadores se confundirem e um time entrar no outro campo, era um negócio de louco. Hoje você não tem mais. Na medida em que vai rareando a possibilidade de as pessoas terem acesso ao esporte, vai rareando também a possibilidade de surgirem atletas. Aí você vai qualificando por renda social, vai qualificando as pessoas pelas possibilidades que algumas cidades oferecem. Então, o Brasil vai ter que cuidar disso. Por isso, o companheiro Orlando tem no programa Segundo Tempo uma opção extraordinária. É importante, agora, você falar do Segundo Tempo.
Ministro Orlando Silva: O Segundo Tempo é o nome porque o nosso conceito é que o primeiro tempo de criança e do jovem é o tempo da escola regular, e o segundo tempo é o tempo da atividade física, da atividade esportiva. É um programa que começou em 2003 e cresceu, já atendeu mais de 1 milhão e meio de crianças no Brasil inteiro. É um programa que oferece, no contraturno da escola, atividade física, atividade esportiva, além de apoio como complemento educacional, reforço escolar e apoio na alimentação, porque são populações, crianças, que vivem em situação de vulnerabilidade social.
Ele acontece em escolas que têm equipamentos esportivos ou clubes sociais, em unidades das Forças Armadas, em áreas públicas, acontece em locais que permitem acontecer a atividade física orientada. É um programa que nós chamamos de inclusão social através do esporte e a repercussão tem sido muito positiva, no sentido de motivar essas crianças, aperfeiçoar o rendimento escolar. Nós apostamos no crescimento desse programa e podemos medir isso, inclusive, pela expansão do orçamento, porque no primeiro ano o orçamento era menor, era perto de 27, 30 milhões, e passou a barreira de 100 milhões para o orçamento de 2007, o que é revelador de um crescimento sustentado de apoio a esse programa.
Presidente, o senhor me permite fazer um comentário? Além do Segundo Tempo existe uma iniciativa importante, que diz respeito à descoberta do talento esportivo. Há uma série de testes que são desenvolvidos no Brasil a partir de um método estruturado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em que nós identificamos a habilidade e capacidade de jovens atletas e disponibilizamos para clubes e núcleos de treinamento de base. Como os repórteres aqui estão em Brasília, aqui do lado tem uma associação, a dos funcionários do BRB. Nós identificamos aqui em Brasília, por exemplo, Presidente, crianças e jovens com habilidade para fazer esgrima. Montamos um núcleo de treinamento de base de esgrima no BRB, aqui na associação deles, e é um núcleo que já tem evoluído muito tecnicamente.
Um segundo passo, além de ter o Segundo Tempo, e ter a descoberta do talento, é ter um núcleo de treinamento de base, de modo que a gente possa desenvolver esses atletas, dar apoio através de programas como o Bolsa Atleta. Vamos ter 39 atletas no PAN que treinam e competem porque recebem o Bolsa Atleta. Há dois anos nós estamos implantando esse programa. No Parapan, quase a metade da delegação recebe Bolsa Atleta, é sinal de que essas políticas, Presidente, têm tido uma evolução positiva.
Jornalista: Presidente, o senhor falou sobre o Brasil se tornar realmente um referencial para atrair eventos internacionais, mas, por exemplo, um dos problemas ainda é a questão da segurança. Vai ser lançado o Pronasci, no dia 1º. Mas especificamente sobre o Rio, a Força Nacional de Segurança que está lá não tinha nem beliche, agora é que está começando a chegar, os equipamentos também. Outro problema que está havendo é a questão do validador das credenciais para acesso. Teve repórter que entrou e ficou circulando um bom tempo dentro da Vila, sem credencial. Como o Brasil pode melhorar ainda mais essa questão de segurança, não só para esse evento, mas que isso perdure depois do PAN.
Presidente: Que bom que isso aconteceu antes de começarem os Jogos Pan-Americanos. O fato de um jornalista entrar sem credencial mostrou que se tiver falha na segurança você tem que consertar para o PAN. Olha, o dado concreto é que, do ponto de vista da preparação, do ponto de vista do pensamento teórico sobre segurança pública, nós estamos fazendo o que há de mais sofisticado para cuidar dos Jogos Pan-Americanos, com a vantagem de que, depois, 75% de tudo que foi feito para o PAN vai ficar para a estrutura de segurança do Rio de Janeiro. No fundo, no fundo, isso é um embrião de uma nova política de segurança que pode ser adotada nas principais capitais brasileiras, a partir dos Jogos Pan-Americanos. Pode ter falha, obviamente que pode ter falha. Mas a segurança é feita para não ter falha, ela é feita para evitar que aconteça qualquer coisa, e nós estamos trabalhando com o máximo que nós tínhamos condições de fazer. Só para vocês terem idéia, na questão da segurança o nosso investimento não foi pouco, na questão da segurança pública nós fizemos um investimento de 562 milhões de reais. É um dinheiro bastante respeitável, e muito dele foi investido não apenas no ser humano, seja na Polícia Federal, seja na Guarda Nacional, mas também na inteligência da polícia para os Jogos Pan-Americanos, envolvendo dois tipos de participação. Primeiro, a participação da juventude, são quase 10 mil e 500 jovens que serão guias cívicos, jovens que irão ajudar na parte da segurança, ajudar na orientação dos atletas. E a Brigada Socorrista, que tem gente de 18 a 40 anos que vai trabalhar ajudando os bombeiros, ajudando a Guarda Civil, por quê? Porque nós queremos, ao terminar os Jogos Pan-Americanos, ter a comunidade participando do esquema de segurança da cidade do Rio de Janeiro. Qual é a expectativa que eu tenho? A expectativa que eu tenho é de que tudo dê certo, e que, depois que terminar o PAN, o Rio de Janeiro tenha o mais sofisticado sistema de segurança pública do Brasil, para que a gente possa apresentar à sociedade brasileira a possibilidade de estender esse programa para outros estados e, ao mesmo tempo, mostrar ao mundo que nós temos competência de fazer um bom esquema de segurança nos Jogos, que em outras oportunidades não houve tanta segurança. No Brasil, nós queremos ser exemplo disso.
Jornalista: Presidente, o senhor cita R$ 562 milhões. É só em segurança?
Presidente: Só em segurança.
Jornalista: O prefeito César Maia protestou com relação aos números que o Ministério, especialmente o ministro Orlando chegou a falar na Folha, dizendo que ele estava duplicando os números e protestando que o governo federal estava querendo assumir um pouco a paternidade disso. O PAN é municipal, estadual ou federal?
Presidente: Primeiro, essa é uma discussão descabida, há um despropósito em levantar essa discussão agora. O PAN será realizado na cidade do Rio de Janeiro. Agora, o PAN é um evento do Estado brasileiro, é um evento brasileiro, é um evento que envolve 190 milhões de almas que gostam de esporte. Então, ficar discutindo se é do Rio… Se ele fosse em Recife, seria brasileiro, se ele fosse em Roraima, seria brasileiro, se ele fosse em São Paulo, seria brasileiro. Obviamente que o Rio de Janeiro, como uma cidade extraordinária que é, teve o privilégio de conquistar o direito de ser a sede do PAN, mas isso não tira o fato de o PAN ser da cidade do Rio de Janeiro, do estado do Rio de Janeiro e do Brasil. E depois, os números, o dinheiro investido por cada um, isso é contabilizado, é só pegar a contabilidade do PAN. O dado concreto é que o governo brasileiro colocou muito dinheiro no PAN, e colocamos porque nós sabíamos que, se desse certo, todo mundo ia querer ser o pai da criança, se desse errado, essa criança não teria pai, seria órfã. A nossa responsabilidade é com a imagem do Brasil diante do mundo, a nossa responsabilidade é fazer com que o PAN seja o melhor possível. Acho que a responsabilidade do prefeito César Maia é a mesma, acho que a responsabilidade do governador Sérgio Cabral é a mesma, ou seja, todos nós, agora, temos que torcer para que o PAN seja o melhor possível, que dê o mais certo possível, que tenha a melhor segurança possível, porque os defeitos que o PAN tiver vocês vão mostrar, eles vão aparecer.
Eu fui, por exemplo, ver o jogo do Brasil e da Inglaterra na inauguração do estádio de Wembley. O que aconteceu lá? Qualquer um via que a grama estava solta, qualquer um via que o estádio não estava pronto para ser inaugurado. Então, todo e qualquer defeito que aparecer no PAN, vocês vão dizer: tem um defeito. E vocês vão poder dizer de quem é a responsabilidade do defeito. Por quê? Porque ali está bem demarcado quais são as obras da prefeitura, quais são as obras do governo federal, quais são as obras do governo estadual. Aí vocês vão poder demarcar corretamente onde está a deficiência. Deus queira que tudo dê certo e que vocês não consigam ver um único defeito, a não ser esse do jornalista entrar sem crachá.
Jornalista: Ele tinha crachá. Ele chegou e tinha crachá para a Vila PAN-Americana, inclusive. É que ele entrou em alguns pontos, na tentativa de sair da Vila Pan-Americana.
Jornalista 2: Presidente, o governo tem algum plano preventivo para impedir o caos nos aeroportos durante o PAN, o que pode prejudicar o trânsito de atletas, da imprensa, de turistas e, em última instância, até arranhar a imagem do Brasil? O senhor está falando que uma das preocupações é que o Brasil saia com uma imagem consolidada.
Presidente: Tem. Ainda ontem eu viajei com o Ministério da Defesa, viajei com o brigadeiro Saito, eles estão totalmente preparados para evitar que haja qualquer problema nos Jogos Pan-Americanos. Nós já temos uma grande parte dos atletas no Brasil. Ontem houve negociação com a Infraero. É importante lembrar que a Infraero estava na sua data-base, portanto, não era fora de proposta. Independentemente dos discursos que tenham sido feitos, era data-base e, portanto, era o momento de fazer as negociações. Chegou-se a um acordo. Eu penso que se não houver acirramento de neblina, nós vamos ter uma certa tranqüilidade nos aeroportos. Obviamente que, com um evento dessa magnitude, você sempre poderá ter um ou outro transtorno, mas nada que venha causar qualquer prejuízo à imagem do Brasil e à imagem dos Jogos Pan-Americanos.
Jornalista: O temor, então, é com a neblina, hoje, seria isso?
Presidente: Eu acho que, fora isso, nós poderemos ter atrasos normais, poderemos ter ainda deficiências em alguns aeroportos. Mas se tudo correr na normalidade, como está ocorrendo hoje, eu penso que nós poderemos ter atrasos normais, mas nenhuma coisa que se possa dizer “olha, isso vai prejudicar o PAN, vai prejudicar a imagem do Brasil”.
Jornalista: Presidente, retomando ao assunto aventado pelo Chico, na questão da segurança. Em relação à questão da segurança, há poucos dias teve uma ação da polícia no Rio, no Morro do Alemão, e morreram 18 pessoas. Eu gostaria de saber como o senhor recebeu essa notícia às vésperas do PAN, porque o senhor sempre fala da importância de ter uma polícia sofisticada, de operações sofisticadas e que o esquema de segurança do PAN, que envolve a Polícia Civil, a Polícia Militar, a Polícia Federal e todas as polícias, vai ser modelo para o Brasil, é o que o senhor mesmo prega. Como o senhor recebeu essa notícia às vésperas do PAN, da questão da morte das 18 pessoas?
Presidente: Primeiro, todos nós sempre achamos muito ruim que haja morte de qualquer pessoa. O ideal seria que a polícia conseguisse pegar as pessoas sem precisar dar um único tiro. Isso seria o ideal. Eu acho que o sonho da própria polícia é conseguir prender as pessoas sem precisar atirar. Agora, é importante saber que a polícia não está diante de nenhuma pessoa santa. Muitas vezes, para você entrar numa coisa complicada, como o Complexo do Alemão, você encontra resistência. E, nessa troca de tiros, obviamente que vai levar desvantagem aquele que está menos preparado para o enfrentamento. Eu acho correta a atuação do governo do estado do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão. Nós vamos continuar ajudando o governo, até porque nós estamos colocando agora, no PAC, quase 500 milhões de reais para urbanizar, para sanear tanto o Complexo do Alemão como Manguinhos, levando escola, levando hospital, levando área de lazer para aquelas pessoas, porque nós achamos que é preciso prevalecer o Estado dentro do Complexo do Alemão, oferecendo as políticas públicas que têm que oferecer ao invés de, pela ausência de políticas públicas, prevalecer o crime organizado ou o narcotráfico. Foi agora como poderia ter sido há três meses, mas isso faz parte do combate ao crime organizado no Brasil e à criminalidade.
Jornalista: Presidente, voltando à questão dos gastos do PAN, o senhor já disse mais de uma vez que considera o total adequado para a importância do evento. Independentemente do montante, o fato é que o orçamento inicial era de 400 milhões e está em 3,7 bilhões, o que é um aumento de 800%. Então, ou no começo foi feito um planejamento que não condizia com a realidade, uma previsão que não condizia com a realidade ou houve gastos em excesso. O senhor aceitaria uma investigação sobre os custos do PAN depois da realização do evento?
Presidente: Está aí o Tribunal de Contas da União para fazer, está aí a Controladoria-Geral para fazer. Eu acho que os companheiros que são responsáveis pelo PAN gastaram o que precisavam gastar, fizeram as licitações que precisavam fazer. Agora, quem achar que gastou demais, peça para fazer uma fiscalização. Para mim, seria bem-vinda. O dado concreto é que quando se iniciou o PAN, quando o Rio de Janeiro ganhou, a primeira estimativa era de um gasto de 209 milhões, feita pela Fundação Getúlio Vargas, isso em 2001. A participação do governo federal era da ordem de 650 a 700 milhões, depois o Orlando pode dar esse dado. Chegamos a 2 bilhões, envolvendo não apenas o dinheiro direto colocado pelo governo federal, mais a transferência de dinheiro que nós fizemos para os estados e municípios, e mais o financiamento. Por exemplo, nós colocamos como dinheiro do governo federal o financiamento da Vila Olímpica, que é um dinheiro disponibilizado pela Caixa Econômica Federal e que ela vai receber porque os apartamentos foram todos vendidos. O PAN está aí, vai ser realizado. Agora, quem achar que gastou demais, peça auditoria, faça auditoria e apresente à opinião pública brasileira o resultado dessa auditoria.
Jornalista: E por que esse aumento tão grande, Presidente, de 200 milhões, como o senhor mesmo disse, para 4 bilhões?
Ministro: Posso responder?
Presidente: Pode.
Ministro: Primeiro, os números atualizados, de quando foi apresentada a candidatura do Rio de Janeiro, de quando foi, na verdade, conquistada a sede do Rio de Janeiro, se nós atualizarmos os números de 2002 para cá, chegaremos em torno de 900 milhões de reais. Daí a perto de 3 bilhões e 60 milhões tem uma diferença…
Jornalista: Vinte e cinco por cento.
Ministro: Houve uma expansão. Segundo, houve uma decisão de qualificar o Rio de Janeiro como cidade olímpica. Eu vou dar o exemplo do Velódromo. O Velódromo, no projeto original, ia ser uma instalação provisória. Só que em uma instalação provisória você gastaria 8 milhões que, depois do PAN, seria desmontada. Com 12 milhões você teria uma instalação permanente, que se transformou na principal pista de velódromo da América Latina. O que se questionaria: essa expansão do orçamento se justifica ou não se justifica? É ou não é um bom investimento? Então, houve um esforço para elevar o padrão técnico das instalações de modo que na hipótese de o Rio sediar uma competição olímpica não teremos que fazer um retrabalho, gastar tudo novamente. Então, houve uma redução de instalações provisórias, numa qualificação daquelas instalações.
E uma segunda questão que eu já tenho comentado, Presidente, eu prefiro falar no dia 30 de julho sobre essa matéria, no dia seguinte aos Jogos Pan-Americanos, que eu pretendo me sentar com o governo federal, o governo estadual, a prefeitura e o Comitê Olímpico Brasileiro, para que nós possamos fazer uma avaliação detalhada dos Jogos Pan-Americanos. Evidentemente que tem questões na área de planejamento que foram inconsistentes. Agora, falar sobre isso aqui, agora, pode parecer luta política, disputa política.
Jornalista: Política é para depois do PAN, Ministro.
Ministro: Isso não interessa. Interessa fazer uma avaliação detalhada no dia seguinte ao encerramento do PAN, até para extrairmos lições e, para a frente, nós termos projetos mais sólidos, mais consistentes e com menos surpresas. Agora, nós temos, inclusive, o privilégio de estar sendo acompanhados pelo Tribunal de Contas da União em tempo real. Então, para nós é importante. Eu estive no Congresso quatro vezes falando sobre os números, explicando para os parlamentares. Então, nós estamos muito seguros de todos os movimentos que couberam ao governo federal.
Presidente: Eu me lembro dos Jogos da Austrália. Havia esse mesmo comentário, tinha horas e horas de debate na televisão, se a piscina tinha que ser daquela qualidade ou não, se não poderia ser pior ou menos qualificada, se a quadra não deveria ser menos… Eu acho que essa discussão vai acontecer em qualquer momento da história de qualquer país em que tiver o evento. Vai ter, e eu acho que ninguém pode fugir dela. Para mim, o que importa é o resultado da qualidade dos Jogos Pan-Americanos, é a qualidade das praças esportivas que nós fizemos, é a qualidade da seriedade com que o governo tem trabalhado os seus investimentos no PAN, acompanhado pelo Tribunal de Contas da União. Se, apesar de tudo isso, alguém achar que houve gasto, que faça a investigação, que proponha a investigação. O Tribunal de Contas está lá para isso.
Jornalista: Presidente, o senhor me desculpe a insistência, mas a questão não é sobre a qualidade das obras ou a quantidade dos gastos. Então, claramente, por esse argumento, houve um erro de planejamento aí, porque o PAN poderia ter sido planejado lá em 2002, com uma visão de longo prazo que o governo do senhor normalmente apregoa ter em certas questões, para já ser uma futura sede olímpica. A questão é: por que em 2002 foi feito um orçamento pequeno e se chegou a um montante 800% maior?
Presidente: Você precisa lembrar que, em 2002, eu nem estava no governo ainda, você precisa lembrar que o Sérgio Cabral não estava no governo, portanto, eu não sei qual foi o planejamento que eles fizeram. O que eu sei é que depois que eu assumi a Presidência da República eu passei a trabalhar no orçamento com os pedidos que eram feitos, ora pela Prefeitura, ora pelo governo do estado, ora pelo Ministério do Esporte e pelo Comitê Olímpico que é, em síntese, o organizador de todo o evento. Então, quando os companheiros chegavam aqui e falavam assim para mim “Presidente, vai precisar de mais 50 milhões para os Jogos Pan-Americanos”, nós tínhamos que decidir o seguinte: damos ou não damos? Se dermos, alguém vai dizer “está dando dinheiro demais”, se não dermos, alguém vai dizer “o Presidente não quer que o PAN se realize”. Nós tivemos um problema difícil nos primeiros quatro anos, não preciso dizer para vocês, um problema político sério com o governante do Rio de Janeiro que, graças a Deus, melhorou 1000% depois que entrou o Sérgio Cabral, e a gente teve que fazer, às pressas, a recuperação do Maracanã, tivemos que fazer, às pressas, a recuperação do Maracanãzinho, pois estava atrasada a obra. O que, para mim, é motivo de orgulho é o seguinte: é que quando se abriu o Maracanãzinho para a estréia, não faltou ninguém que não elogiasse como uma das coisas mais extraordinárias do mundo para a praça do vôlei. É isso o que conta.
Jornalista: Presidente, agora, às vésperas do PAN, várias classes de servidores públicos estão ameaçando greve. A Polícia Civil do Rio de Janeiro, a Polícia Rodoviária Federal ameaçou greve também. Eu queria saber como o senhor vê esse movimento de grevistas às vésperas do evento e como o senhor acha que o governo deve atuar junto a essas classes, quando dentro de uma semana começa o evento.
Presidente: Eu fico numa dúvida em falar, se eu falo como Presidente ou falo como ex-dirigente sindical. Eu acho que todas as categorias têm o direito de se manifestar para conquistar os seus aumentos de salário, não vejo nada contra. O que eu acho ruim é as pessoas esperarem um evento internacional, que não depende apenas do Brasil, mas depende de um conjunto de países, de atletas que estão aí, para fazer chantagem contra o governo municipal, contra o governo estadual, contra o governo federal. Eu acho isso uma prática sindical ruim. Mas, de qualquer forma, isso faz parte do exercício da democracia, da relação entre Estado e funcionário público, da relação entre Estado e sociedade, e nós temos que tratar cada tema como ele aparece. Não dá para fazer perder nem uma noite de sono, não dá para fazer ter medo antecipado. Apareceu o problema, você vai discutir o problema como ele apareceu. Do ponto de vista do governo federal, nós temos consciência de que, possivelmente, nós não tenhamos dado tudo o que as categorias de trabalhadores precisam ter, até porque todo mundo teve muitos anos de retrocesso neste País, durante muitas décadas, e não é possível você recuperar. Mas eu estou vendo categorias em greve aí, em que nós demos, em média, 60% de aumento para uma inflação de 28% ao longo do meu primeiro mandato. Isso não significa que as pessoas não tenham que pedir mais, as pessoas podem pedir mais. Eu só quero que as pessoas sejam justas e reconheçam o que já tiveram, e digam: “nós queremos mais”. Mas reconheçam o que nós já demos, porque numa inflação de 4%, alguém querer reivindicar 35%, 38%, 40%, 33%, é uma coisa inexplicável. Nem eu, no tempo em que era dirigente sindical, que era considerado sectário, radical, fazia essas reivindicações absurdas. Mas faz parte do jogo político, faz parte do jogo sindical, faz parte da luta entre trabalhadores e empresários neste País, e eles vêem o governo como empresário, como patrão. Não sou eu que vou dizer que não vejam.
Jornalista: Mas caso haja alguma paralisação durante os Jogos, o governo pode tomar alguma medida enérgica?
Presidente: O governo vai tomar todas as atitudes para evitar que qualquer ação possa causar qualquer prejuízo aos Jogos Pan-Americanos. Nós vamos ter o plano B e o plano C. Se é greve de uma polícia, nós vamos ter outra polícia para substituir. O dado concreto é que nós não podemos correr nenhum risco nos Jogos Pan-Americanos. Estamos trabalhando para isso. Agora, também, quem fizer alguma coisa errada, pode ficar certo de que a sociedade está mais esperta do que as pessoas imaginam. As pessoas precisam parar com a mania de achar que, fazendo uma greve, prejudicam o governo. Muitas vezes a greve prejudica mais a elas próprias do que ao governo. Então, está aí, nós estamos a poucos dias, dois dias do PAN, eu espero que daqui para a frente só aconteçam coisas boas no PAN, que os atletas estejam preparados, que a alimentação seja ótima e que o Brasil possa ganhar a quantidade de medalhas que nós merecemos.
Jornalista: Presidente, só retomando a questão dos aeroportos, o Brasil no ano passado teve um decréscimo de turistas estrangeiros visitando o País e o que sentem, os passageiros, é que ou estamos, entre aspas, reféns de um certo terrorismo por parte dos controladores ou não sabemos se devemos acreditar no excesso de otimismo que as Forças Armadas, a Aeronáutica, tentam passar dizendo que está tudo bem, que os equipamentos estão bem. O senhor mesmo já cobrou várias vezes uma solução para os problemas que, praticamente a cada semana, se repetem. Como evitar, como melhorar isso a curto prazo, há o que se fazer, há problemas de equipamentos mesmo? Porque isso está refletindo lá fora, na imagem do Brasil.
Presidente: Olha, no fundo, no fundo, eu não seria a autoridade para falar de uma coisa que a Anac deveria falar, que o Ministério da Defesa deveria falar. Eu posso falar da compreensão que eu tenho do problema. Primeiro, ninguém pode negar que nós tivemos problemas nos aeroportos brasileiros, porque eles são visíveis e as pessoas sentem na pele. Foram vários tipos de problemas ao mesmo tempo, desde a ação dos controladores, problemas de equipamento, depois tivemos problema de neblina. Nós temos problemas na malha aérea brasileira, nós temos consciência de que a quebra da Varig nos causou um problema muito grave na questão interna do Brasil, porque a Varig detinha um percentual enorme de aviões, e nós achamos que isso só tende a melhorar daqui para a frente.
O dado aqui é que nesses dias tem havido muitas reuniões, o Conac tem se reunido com a Anac, tem se reunido com os empresários, e todo mundo está convencido de que é preciso oferecer garantias aos passageiros. O cidadão compra uma passagem, está marcado o horário, e se não houver nenhuma intempérie que o proíba de viajar, ele tem que chegar no aeroporto e viajar. É isso que nós queremos.
Eu penso que a questão da diminuição de turistas tem um probleminha, quem sabe isso seja avaliado pelo Ministério do Turismo, tem um problema relacionado ao câmbio. Na verdade, as pessoas acham que começa a ficar caro trocar o dólar pelo real para viajar. Em compensação, tem mais turista brasileiro viajando. O que é importante a gente avaliar é o seguinte: diminuiu em nove e pouco por cento a vinda de turista estrangeiro, mas aumentou muito o turismo interno no Brasil. Depois eu posso, o Franklin pode dar para vocês os números exatos. Eu estava vendo agora há pouco, aumentou muito o turismo interno, e nós precisamos trabalhar para que venham mais turistas estrangeiros aqui. Também não sei se isso tem a ver com época do ano, também o mundo inteiro não está de férias o ano inteiro, tem um momento que eles param de viajar, mas podem ficar certos que quando vai se aproximando o final do ano nós vamos ter uma enxurrada de turistas aqui, sobretudo agora, com o Cristo Redentor como 7ª Maravilha.
Jornalista: Eu só queria saber se o senhor acha que há, por exemplo, muitas vezes um terrorismo por parte dos controladores?
Presidente: Eu acho que os controladores, nesse momento, estão cumprindo as suas funções. Este ano nós formaremos quase 350 controladores novos, nós precisamos fazer, isso nós temos clareza, nós só temos dois aeroportos no Brasil em que podem pousar dois aviões simultaneamente, que é o aeroporto de Brasília e do Galeão. Em Cumbica, por exemplo, as duas pistas são muito próximas e não dá para pousar dois aviões simultâneos. Então, se você tiver que fazer a terceira pista em Cumbica, você tem que desapropriar o equivalente a uma cidade de 30 mil habitantes, porque permitiu-se que as pessoas ocupassem o aeroporto. Nós estamos estudando a possibilidade de tirar o Papa-Tango, os aviões particulares de Congonhas e colocá-los em outro lugar, está sendo estudado e por que não dizer, nós temos que estudar seriamente a possibilidade de fazer um novo aeroporto em São Paulo. Ou você duplica, faz uma nova pista em Viracopos, que fica a 90 quilômetros de distância, e você vai ter que resolver o problema do traslado dessas pessoas para a cidade, ou você vai procurar uma outra região, mas eu acho que São Paulo já comporta o esforço do governo para construir um novo aeroporto. Congonhas está com 18 milhões de passageiros, equivalente ao que você tem no aeroporto de Atlanta, que tem cinco pistas, cada uma, em média, utilizada por 18 milhões de passageiros. Congonhas já está com isso, e eu penso que nós chegamos ao momento em que, graças a Deus, nós temos mais gente voando de avião. Então, nós precisamos fazer mais pistas e mais aeroportos, é essa a conclusão óbvia a que nós precisamos chegar.
Jornalista: Presidente, desculpe a insistência no assunto. O senhor falou antes que não acha certo funcionários usarem um evento para chantagear. Os funcionários da Infraero falaram explicitamente em fazer a movimentação e o senhor já tinha dito, antes, que esse problema dos aeroportos, o senhor queria dia e hora para acabar. Vai ser feita alguma punição se esses caras atrapalharem o PAN?
Presidente: Não existe punição anunciada previamente. Primeiro, você tem que ver qual é o comportamento das pessoas. O que eu disse no início era que os companheiros da Infraero estão na sua data-base de negociação, estão no período de negociação. Agora, vamos aguardar. Eu acho que ninguém pode tomar nenhuma decisão precipitada, antecipar fatos, ou seja, para nós, até agora, está tranqüilo. A informação que eu tenho é de que está tranqüilo. Vamos ver, se amanhã não estiver tranqüilo, tomaremos, então, as decisões que tivermos que tomar.
Jornalista: Presidente, não é no mínimo decepcionante o fato de o Brasil, com 180 milhões de habitantes, levar um banho de Cuba nas competições esportivas? E eu queria saber se o senhor concorda que isso decorre da diferença que os dois governos dão às crianças, à ênfase que eles têm com a infância.
Presidente: Veja, primeiro não é nenhuma vergonha alguém perder para Cuba em jogos, porque Cuba tem uma tradição de 50 anos, pelo menos, em competições esportivas, o que tem dado a Cuba uma participação privilegiada. O Brasil, na verdade, não tem. O Brasil começa, de 10 anos para cá, a apostar um pouco mais nas questões esportivas. Eu disse, no início da minha fala, que você não forma atleta e você não ganha medalha porque você decide hoje: “bom, Orlando, ministro do Esporte, vamos fazer aí propaganda e vamos começar a preparar”. Preparar um atleta para ser um “medalha de ouro” em alguma competição, às vezes leva 15 anos. O que nós estamos convencidos é que o esporte é uma das coisas que pode reencaminhar muitos jovens no Brasil. Na hora em que você fizer essa juventude descobrir o gosto pelo esporte, e ele descobrir a sua aptidão, você tem a possibilidade de estar conquistando um jovem do crime organizado, do narcotráfico ou da rua, e você pode colocá-lo para ser um medalhista. Isso acontece muito no esporte, no futebol, sobretudo acontece muito por quê? Porque, como é o esporte mais popular do Brasil, normalmente você vê que quase todas as pessoas famosas no esporte são muito humildes, vindas de famílias muito humildes, muito pobres, que conseguem essa ascensão. Em outros esportes ainda não temos essa popularidade, precisamos estar melhorando a participação das escolas, das prefeituras, do estado, da comunidade e do governo federal.
Jornalista: Esse processo do PAN mostrou que, sem o dinheiro do governo federal, não tem competição internacional, como o PAN por exemplo. O Brasil está querendo sediar a Copa do Mundo de 2014 e uma Olimpíada. É possível realizar eventos como a Copa do Mundo só com o dinheiro do governo federal ou, como chamar a responsabilidade da iniciativa privada e mesmo a iniciativa privada internacional?
Presidente: Na Copa do Mundo, no Brasil, não está e não será prevista a participação de dinheiro público federal, a não ser naquilo que é nossa obrigação de fazer. Se tiver que fazer uma rua, isso é do governo federal, se tiver que fazer uma melhoria no aeroporto, isso é do governo federal, mas do ponto de vista do evento em si, das praças esportivas, isso tem que ser dos clubes, da CBF e da iniciativa privada.
Muitas vezes nós cometemos um erro. Era preciso perguntar onde já houve as Olimpíadas, e onde houve Copa do Mundo, qual o benefício que ficou, porque muitas vezes a gente discute os gastos e não discute o seguinte: o que vai entrar de dinheiro no Rio de Janeiro? O que vai circular de gente nos hotéis? Quantos jornalistas estão cobrindo os Jogos Pan-Americanos? Quanto de dólar vai ficar aqui? Qual o aprendizado da sociedade com o PAN? Qual é a utilidade desses 10,5 mil jovens que participam na ajuda do PAN? Que resultado tudo isso trará para a o Brasil com a manutenção do complexo esportivo do PAN, para que a comunidade possa utilizar?
Tudo isso nós temos que ver como um investimento, porque nós muitas vezes tratamos como gasto, mas nós temos que ver como investimento. Uma empresa quando se constitui, ela está fazendo um investimento que pode demorar 20 anos para dar retorno, mas se ela não fizer, não tem empresa. A questão esportiva é a mesma coisa, se você não fizer, você não tem. O PAN poderia não ser aqui, a Copa do Mundo, por que nós queremos fazer aqui? Porque não tem explicação sociológica, psicológica, de a gente ter tido a última Copa do Mundo em 1950. O País que é tido, não hoje, como o melhor país do futebol, porque os atletas brasileiros estão jogando fora, mas qualquer ser humano compreende que o Brasil tem a necessidade de ter uma Copa do Mundo aqui e fazer a melhor possível. Desde a nossa seleção, que tem que ser a melhor possível, os atletas têm que entrar em campo cantando o hino nacional e, aliás, eu hoje vou receber o Ronaldinho aqui. Eu não sei o que ele está fazendo em Brasília.
Jornalista: Veio conhecer a família da namorada.
Presidente: Ah é? Não é um mau negócio. Você há de convir que um jovem de vinte… com quantos anos ele está? Vinte e cinco, 26 anos? Mas, então, deixa eu falar. A Copa do Mundo para nós será uma coisa extremamente importante. Primeiro, porque é um momento em que vamos ter uma discussão profunda sobre a reestruturação do futebol brasileiro, os clubes brasileiros não podem continuar como estão, nós já fizemos um monte de mudanças na legislação para ver se melhora. É preciso cuidar, nós não podemos estar exportando moleques de 10 anos de idade, moleques de 12 anos de idade. É preciso encontrar um jeito de permitir que a gente conserte o futebol brasileiro, visando a uma Copa do Mundo. E que os clubes tratem de, junto com a CBF, fazer o melhor, procurar parcerias empresariais, fazer estádios modernos. O estádio não pode ser apenas um centro de cultura esportiva, onde o artista é o jogador de futebol, o estádio pode ter utilidade, não o gramado, mas o complexo do estádio, o mês inteiro, o ano inteiro. Ele pode ser uma fonte extraordinária de arrecadação para os clubes.
Jornalista: Presidente, a questão do Engenhão que, segundo alguns, é a pérola dos Jogos. O senhor torce pela destinação de quem vai assumir esse Engenhão?
Presidente: Eu acho que o Rio de Janeiro comporta dois estádios. Em São Paulo, por exemplo, tem o Morumbi, que é particular mas que é o centro dos grandes eventos esportivos de São Paulo, e tem o Pacaembu, que é utilizado preferencialmente pelo Corinthians, que não tem um grande estádio, chama-se fazendinha ainda. Mas o Santos tem o seu campo, o Palmeiras tem o seu campo, a Portuguesa tem o seu campo, e eu acho que o Engenhão pode ser utilizado por todos os clubes. O Maracanã não precisa ser utilizado para todos os jogos, o Maracanã deve ser utilizado para eventos, quando o Botafogo estiver para decidir o título com o Vasco da Gama, para lotar aquele estádio. Eu sou tão botafoguense que eu fui assistir, em 1974, Palmeiras e Botafogo, e vi o Jairzinho acabar com o Palmeiras, então, fiquei feliz por isso.
Jornalista: Duas questões. Tem algumas categorias, como o senhor falou da Infraero, que estão em data-base, outras que estão pleiteando aumentos muito acima do que já tiveram, e que já foram, acima da inflação. Então, eu queria só ouvir do senhor essa garantia de que o governo federal não vai mesmo ceder à chantagem de algumas categorias. E, número 2, sobre o PAN, saber se o senhor acha que o Brasil vai ficar na classificação final do quadro de medalhas, já que o senhor conhece esporte.
Presidente: O governo, através do Ministério do Planejamento, montou uma Secretaria de Negociação. Nós temos uma mesa de negociação, coisa que nunca existiu no Brasil. E hoje você tem uma mesa em que os sindicatos sentam com os ministros da área e com o ministro do Planejamento e negociam. Nós trouxemos um companheiro, o Sérgio Mendonça, do Dieese, que era especialista em negociação. Ele está aí só para isso, para negociar. Obviamente que as pessoas têm o direito de reivindicar o quanto quiserem e o governo tem o direito de dar o que pode dar. Essa é a lógica do jogo. Então, eu estou convencido de que nós não teremos maiores problemas além daqueles tradicionais, que acontecem no mundo inteiro e que acontecem no Brasil.
Eu me lembro que uma vez eu fui a Israel, e um belo dia o motorista pediu licença e comunicou que ele, embora fosse servidor público e estivesse de motorista, estava em greve, então ele ia parar de trabalhar. Aí veio outro e entrou no lugar. Eu acho isso uma coisa muito normal, portanto, não tem nervosismo.
Eu espero que o Brasil traga um número grande de medalhas, mas é importante também que nós trabalhemos a idéia de que a medalha é importante, é um objetivo determinado para os atletas que treinaram, que se classificaram e vão disputar. Agora, o que vale a pena mesmo para nós é que cada um, mesmo que faça o seu maior esforço e não consiga, deve entender que naquele momento o outro teve melhor preparo do que ele, deu um salto maior, arremessou uma bola melhor. Perder também faz parte do jogo. O que é importante é que, ao terminar o PAN, a gente tenha a consciência de que do ponto de vista dos atletas, nós demos o melhor de cada um para conquistar aquilo que nós conquistarmos e, muitas vezes, eu acho que os que não conquistaram não são menores do que os que conquistaram. Não vê o que aconteceu na Fórmula 1 de domingo? O que aconteceu lá? O Massa, se tivesse saído em 4º lugar, certamente teria a possibilidade de chegar em 1º lugar, ele teve um erro, e foi sair por último. Então, no PAN vai acontecer de atleta que está previsto ser o melhor não ganhar, e atletas que não estão sendo levados em conta que vão ganhar. Isso é próprio da prática esportiva e eu estou torcendo para que o Brasil ganhe.
E o que é importante é que nós vamos fazer os Jogos Parapan-Americanos, na mesma praça, com a mesma qualidade. Não vai ter quadra inferior para os cadeirantes, vai ser a mesma praça esportiva para que as pessoas se sintam 100% úteis na sua prática esportiva.
Meus companheiros, vejo vocês nos Jogos Pan-Americanos, não estranhem se alguém me ver lá participando de algum esporte.